Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
Celebramos – transferido no Brasil do último dia 01 de novembro – a Solenidade de Todos os Santos e Santas de Deus. Todos nós somos vocacionados à santidade, somos chamados e convidados a procurar a face do Pai e esperar nele com o coração purificado. A Palavra de Deus é o único caminho que nos aponta a felicidade e a santidade.
A Igreja é indefectivelmente santa: Cristo amou-a como sua esposa e deu-se a si mesmo por ela a fim de santificá-la; por isso todos na Igreja são chamados à santidade (cf. LG 39). A Igreja prega o mistério pascal nos santos que sofreram com Cristo e com Ele são glorificados; propõe aos batizados seus exemplos, que atraem todos ao Pai por meio de Cristo, e implora por seus merecimentos aos benefícios de Deus (cf. SC 104). Hoje, numa só festa celebram-se, junto com o santos canonizados, todos os justos de toda a raça e nação, cujos nomes estão inscritos no livro da vida (Ap 20,12).
Por isso as leituras bíblicas desta Solenidade nos apresentam a alegria futura e a proposta de itinerário na vida presente para que, na fidelidade ao Senhor, se alcance a santidade na eternidade feliz, diante do Cordeiro Jesus e do Trono, onde está o Pai.
Na primeira leitura – Ap 7,2-4.9-14 – a perícope apresenta a visão do autor sobre a vitória dos que sofreram o martírio, permanecendo fiéis ao projeto de Jesus. O povo fiel é aquele que faz o caminho do Cordeiro de Deus, resistindo às perseguições. Pelo testemunho de Cristo os fiéis “lavaram e alvejaram suas roupas no Sangue do Cordeiro”. O grupo dos salvos se une à grande multidão, para a confraternização numa ampla liturgia universal. Os santos são os que – reunidos dentre todos os credos, nações, povos e línguas – se mantiveram na fidelidade aos valores do Santo Evangelho e agora participam da glória celeste.
Na segunda leitura – 1Jo 3,1-3 – a boa notícia é o belo presente que ganhamos de Deus: sentirmo-nos queridos e amados por ele como filhos e filhas. Somos filhos e filhas do Santo por excelência e, por isso, chamados a ser santos. Cada ser humano é objeto do amor do Pai. A consciência dessa realidade é possível a quem conhece o Deus de Jesus de Nazaré. Glória e plenitude de vida são prometidas aos filhos de Deus – que somos nós! Quando Cristo se manifestar: “seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como Ele é!”.
No Evangelho – 5,1-12 – apresenta as Bem-Aventuranças – que são felicidades – com o itinerário de vida cristã, proclamado pelo Mestre Jesus como o “manual-guia” para a santidade. É importante que se observe que a Bem-Aventurança é a consequência da atitude, do sentimento ou daquilo que se é que se tem no coração. São felizes os que verão a Deus, pois são puros de coração. As Bem-Aventuranças são o melhor caminho para a busca e a vivência da santidade. Bem-Aventurado é todo aquele que vive a santidade, na fidelidade a Deus, ao seu Evangelho e na doação de si mesmo na edificação do Reino dos Bem-Aventurados.
Santa é a vida, e santos são todos os que procuram valorizá-la, defendê-la e potencializá-la. São felizes todos aqueles que têm fome e sede de justiça, aqueles que são perseguidos pro causa do empenho em favor da justiça aos injustiçados. Muitos mártires continuam também hoje a morrer em defesa da vida dos empobrecidos e explorados.
Na comunhão dos Santos, canonizados ou não, que a Igreja vive graças a Cristo em todos os seus membros, nós beneficiamos da sua presença e da sua companhia e cultivamos a firme esperança de poder imitar o seu caminho e partilhar um dia a mesma vida bem-aventurada, a vida eterna.
Como é grande e bela, e, também, simples, a vocação cristã vista sob esta luz! Todos somos chamados à santidade: é a própria medida da vida cristã. São Paulo expressa isto mais uma vez com grande intensidade, quando escreve: “Mas, a cada um de nós foi concedida a graça na medida outorgada por Cristo… A uns, Ele constituiu apóstolos, a outros, profetas, a outros, evangelistas, pastores e doutores, para o aperfeiçoamento dos santos, para obra do ministério para a edificação do Corpo de Cristo; até que cheguemos todos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus ao estado de homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo” (Ef 4, 7.11-13). Gostaria de convidar todos a abrir-se à ação do Espírito Santo, que transforma a nossa vida, para sermos também nós como peças do grande mosaico de santidade que Deus vai criando na história, para que o rosto de Cristo resplandeça na plenitude do seu esplendor. Não tenhamos medo de sermos santos!