Por Dom Jaime Spengler
arcebispo metropolitano de Porto Alegre
primeiro vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
O Hino Nacional brasileiro traz uma estrofe na qual se canta a beleza do território: “do que a terra, mais garrida, teus risonhos, lindos campos têm mais flores; nossos bosques têm mais vida, nossa vida no teu seio mais amores”.
Quando entoamos esta estrofe, nos referimos às belezas naturais que caracterizam o território nacional de norte a sul, de leste a oeste. Pode-se imaginar que nasça no íntimo de quem canta um sentimento interior de pertença e de corresponsabilidade pelas belezas naturais, patrimônio da nação.
Para os cidadãos, cuja relação com o meio ambiente é de envolvimento, para quem a natureza é a de uma pátria, não se trata de algo a ser meramente olhado, como um cenário. O território com suas belezas naturais é aquilo que envolve o autêntico cidadão, onde ele se sente verdadeiramente em casa; onde lhe é permitido, de forma harmonizada, demorar junto a tudo que caracteriza as distintas regiões.
O território caracteriza a nação. É que o território como nação não se restringe a um espaço demarcado por limites exteriores, uma região da natureza, uma localidade compreendida como possível cenário para esta ou aquela ocorrência. A alternância das estações, a variedade dos biomas, as características de cada região estão integradas na vida “dos filhos desta mãe gentil”, a “terra adorada”, a “pátria amada”, e não restringidos às fronteiras geográficas.
Quando reconhecemos o território “belo, forte e impávido colosso” como “pátria amada”, somos como que desafiados a não permanecer na observação estética, mas a acolher a oportunidade de assumir o compromisso ético de cuidar, proteger e promover a vida que floresce neste pedaço de chão. Se expressa assim qual pode ser a mais nobre herança que podemos deixar para as futuras gerações. Um solo marcado por belezas variadas, sobre o qual “a imagem do Cruzeiro resplandece” e onde é possível cultivar “um sonho intenso, um raio vívido de amor e de esperança”, urgente e necessário nestes tempos marcados por crises variadas, ameaças veladas e desrespeito pelo patrimônio maior de um povo civilizado: a democracia.