Semana nacional pela vida

Na primeira semana de outubro, há vários anos, realiza-se em todo o Brasil a Semana Nacional pela Vida, com o objetivo de promover a maior valorização da vida humana, desde seu início, na concepção, até à morte natural. A comemoração se encerra com o “Dia do Nascituro”, 8 de outubro, chamando a atenção para aqueles seres humanos que já existem, mas ainda não nasceram. Cada criança que vem ao mundo é promessa de renovação da humanidade e esperança de um futuro novo. As mulheres que acolhem com generosidade a maternidade e geram novas vidas para a pequena e a grande família humana merecem nosso respeito e apoio.

É preocupante como a percepção do valor da vida humana vai sendo perdida; os fatos de violência contra a pessoa e, muitas vezes, contra sua vida, difundidos diariamente pela mídia, acabam se tornando parte da inevitável e banal ordem do dia e já não suscitam mais horror e indignação ética; mal caímos na conta de que a próxima vítima poderemos ser nós mesmos, ou alguém de nossos familiares ou amigos. Nem se trata da falta de leis ou de mecanismos para punir tais crimes, mas de uma verdadeira insensibilidade diante do desrespeito à vida humana. Já o papa Paulo VI alertava contra os riscos de certa “cultura da morte”, que vai sendo aceita.

Diante disso, a Igreja anuncia ao mundo “evangelho da vida”, destacando que esta é um dom precioso e único de Deus e, por isso mesmo, deve ser acolhida com gratidão e respeito. Por outro lado, a Igreja afirma que a ninguém é consentido apossar-se da vida do próximo. O ser humano nunca pode ser reduzido a um “objeto”, nem ser entregue ao arbítrio de quem quer que seja, porque possui uma dignidade originária, que o faz merecedor do mais absoluto respeito. Como conseqüência disso, ninguém está autorizado a tirar a vida do próximo. Mesmo incompreendida e criticada, a Igreja continua a lembrar o preceito da Lei de Deus – “não matarás” -, não importando que se trate de pessoa adulta, criança, doente, ou de um feto ou bebê que está por nascer. A vida do ser humano precisa ser sempre respeitada. Viver é bom e a vida é bela; matar, ou fazer violência a alguém não é nem belo, nem bom. A proteção da vida de todo ser humano, mediante leis eficazes, é um direito dos cidadãos e um dever do Estado.

Na sua recente encíclica social, Caritas in veritate, o papa Bento XVI refere-se à valorização da vida humana no contexto do desenvolvimento econômico e social da era globalizada: só pode ser considerado verdadeiro desenvolvimento aquele que respeita plenamente a vida humana e a família, enquanto ambiente necessário à dignidade da vida. De fato, no mundo globalizado verifica-se o reaparecimento de velhas mazelas, que pareciam superadas, como o tráfico de pessoas, a prostituição explorada por poderosas redes internacionais interessadas no ganho econômico, mesmo às custas da redução de pessoas à escravidão. Refere-se o pontífice a queda preocupante da natalidade em vários países, consequência de maciças campanhas anti-natalistas e de políticas econômicas orientadas pelo desprezo à vida humana; é um erro, diz o papa, considerar como primeira causa do subdesenvolvimento, o aumento da população de um país; as pessoas são a maior riqueza de uma nação; e os pobres não devem ser considerados como um peso ou empecilho para o desenvolvimento.

“A abertura moralmente responsável à vida é uma riqueza social e econômica”, afirma Bento XVI (n. 44). Uma população expressiva e capacitada por educação e instrução eficazes é fator de desenvolvimento; enquanto a redução forçada nos nascimentos pode, num primeiro momento, ter como consequência uma concentração da riqueza em menor número de mãos e uma melhora momentânea no bem-estar; mas a médio prazo traz problemas sérios para dispor de trabalhadores qualificados e para manter os sistemas de assistência social. É bem isso que se está verificando em vários países do hemisfério norte que, para solucionar o problema, incentivam a imigração de pessoal já qualificado, atraído de outros países, ou passaram a adotar políticas de incentivo à natalidade.

No Brasil, tudo indica que ainda estamos na tendência inversa, isto é, de redução drástica da natalidade, mesmo mediante políticas públicas. Até quando? Por esta mesma tendência também parecem estar orientadas certas propostas de legalização da eutanásia e do aborto, como métodos de controle populacional. Além de serem contrárias à moral, essas propostas não levam em conta a experiência já feita por outros países.

Na redução forçada da natalidade, acompanhada com frequência pelo desprezo ao casamento e à formação de famílias estáveis, o papa entrevê “sintomas de escassa confiança no futuro e de cansaço moral”; este “cansaço” revela-se na busca  exagerada do bem-estar individual e na fuga de tudo o que possa representar sacrifício e altruísmo. O remédio só pode ser a proposta, às novas gerações, da beleza da família e do matrimônio; na família aprende-se a amar, a respeitar e favorecer a dignidade dos demais a cultivar o diálogo, a disponibilidade desinteressada, o serviço generoso e a solidariedade profunda para com os outros. Além de ser isso adequado às exigências mais profundas do coração humano e da dignidade da pessoa, isso também vai ao encontro das necessidades sociais e mesmo econômicas.

A semana nacional pela vida e o dia do nascituro querem ajudar a manter despertada a consciência do povo brasileiro em relação ao cuidado com a pessoa humana e, sobretudo, de sua vida, que também é seu maior bem.

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