A Comissão Episcopal para a Animação Bíblico-Catequética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) encerrou nesta quinta-feira, 7 de abril, primeiro Seminário Nacional de Iniciação à Vida Cristã (IVC), voltado para Presbíteros de todo o Brasil, realizado totalmente on-line. O Seminário foi realizado em parceria entre a Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB, a Comissão Nacional de Presbíteros (CNP) e a PUC-Rio.
A formação, cujo início foi dia 5 de abril, refletiu sobre as implicações pastorais da Iniciação à Vida Cristã; o papel da catequese a serviço da IVC, além de abordar temas importantes para se compreender a teologia da IVC, como a “mistagogia”. De acordo com o assessor da Comissão, padre Jânison Sá, “a proposta foi motivar todos os presbíteros para que possam assumir sempre mais o projeto da Iniciação à Vida Cristã em suas comunidades.”
Na abertura, o bispo auxiliar do Rio de Janeiro (RJ) e Secretário-Geral da CNBB, dom Joel Portella Amado, ressaltou que a IVC seja uma urgência já que o mundo mudou e o chamado “catecumenato social” desapareceu.
“As grandes instituições sociais, entre elas a família, já não transmitem a fé. Nas mãos dos presbíteros está, em grande parte, os rumos da ação evangelizadora. São séculos de uma pastoral de conservação e é difícil fazer diferente. Somos afetados por um jeito de fazer pastoral, mas o momento agora é diferente, exige ir além, buscar novos caminhos para a IVC”, disse.
O arcebispo de Curitiba (PR) e presidente da Comissão para Animação Bíblico-Catequética da CNBB, dom Antônio Peruzzo, destacou na sua participação, os primeiros versículos da Carta aos Filipenses, “Eu me lembro de vós com alegria. Deus é testemunha de que amo a todos com a mesma ternura de Jesus Cristo”.
Dom Peruzzo incentivou os presbíteros presentes a serem perseverantes e a procurarem a proximidade afetuosa e fraterna. Segundo o bispo, os argumentos vêm depois, o Ritual de iniciação cristã de adultos (RICA) mostra que as melhores experiências derivam da proximidade e do afeto.
“Depois de preso, distante dos irmãos de comunidade, tudo o que Paulo faz é precedido de paixão e ternura. Por isso, para falar de evangelização e pastoral é preciso afeto, relação pessoal, proximidade e fascínio. É preciso muito apreço pela pessoa de Jesus Cristo e pelas pessoas que ‘dirigimos’. É preciso fraternidade, paciência e singeleza”, enfatizou dom Peruzzo.
Experiências de IVC nas dioceses
A partilha sobre as experiências de implementação da IVC foi o ponto central do Seminário. No total, cinco dioceses de diferentes regiões do Brasil puderam apresentar suas experiências.
Da diocese de Castanhal (PA), no Regional Norte 2 da CNBB, Victor Paiva e monsenhor Raimundo Antônio da Silva fizeram uma breve contextualização histórica dos passos dados na diocese para se chegar ao momento atual. Ele enfatizou que no processo de IVC é o “casal catequista”, que depois de um processo de preparação para a missão, torna-se responsável por acompanhar os filhos com itinerários paralelos ao processo de IVC.
“Este é um dos elementos que fazem parte da ênfase que se dá à família em todo o processo. Há um esforço de acompanhamento desde à fase de gestação, com a presença dos padrinhos, com apresentação da criança na comunidade, visitas domiciliares aos pais que pedem o batismo, o que evidencia a necessidade de multiplicar os catequistas para que possam fazer os processos na família”.
Vitor destacou ainda que os Quatro pilares para a ação evangelizadora, propostos pela CNBB: Palavra, Pão, Caridade e Missão, são abraçados e assumidos pela diocese. No entanto, a pandemia, com o necessário isolamento social, colocou em crise o trabalho iniciado em 2019.
“Foi preciso reformular a equipe diocesana de catequese, passando para uma equipe diocesana de IVC. Uma visão mais ampla, dialogando com a liturgia, com a família, e a juventude. Tendo presente o Sínodo de Amazônia, buscou-se elaborar um itinerário de IVC de adultos encarnado na realidade da Amazônia, bem como um itinerário para cada uma das outras etapas (crianças, adolescentes e jovens).”
Esse material vem sendo trabalhado por dirigentes, mas depois vão sentar-se com ribeirinhos e outras pessoas da comunidade para ajustar a linguagem ao alcance do povo. Posteriormente será preparado um novo diretório diocesano para a IVC.
Perseverar no “caminho dos sonhos”, um projeto de vida
Na sequência, padre Edson de Bortoli partilhou a caminhada de IVC implementada na diocese de Caçador (SC). Ele salientou que o processo ganhou força a partir de 2009, mas com a chegada do Documento 107 da CNBB, em 2017, surgiu o projeto diocesano de IVC de inspiração catecumenal, reforçando a centralidade da palavra de Deus, a unidade sacramental e a sintonia com a liturgia.
“Viu-se a necessidade de criar materiais com os itinerários para os diferentes tempos do processo IVC. Proposta hoje assumida em todas as paróquias da diocese. Busca-se a centralidade da Palavra de Deus, daí o incentivo à Leitura orante, valorizando a arte, com ilustrador ligado à caminhada de fé e de educação. Valorização da dimensão litúrgico/celebrativa com vivências ou encontros familiares, ritos, bênçãos”, disse.
Uma experiência com os catequistas
Padre Leandro Francisco Pagnussat partilhou o processo de IVC na diocese de Goiás (GO). Ele enfatizou que ao aprofundar o Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (RICA) decidiu-se por avançar com o tema da catequese e sua relação com a Iniciação Cristã, buscando outros documentos, sobretudo o Documento de Aparecida.
“Depois destes encontros, passou-se a necessidade de um caminho experiencial com os catequistas. A catequese foi suspensa pelo período de um ano, para melhor formação dos catequistas. Esses passos levaram a uma experiência diferenciada e de maior envolvimento dos catequistas com a caminhada da comunidade. Maior empenho na vivência pessoal da fé.”
Ainda segundo o padre, no processo de IVC da diocese, os acompanhantes têm sido um diferencial no caminho catecumenal com os adultos. “Favoreceu um maior envolvimento com a caminhada da comunidade cristã; cresceu o entusiasmo em relação à vocação do catequista e o vínculo de relação entre eles. Com isso deu-se início a um processo diocesano de formação de equipes de coordenação paroquial, seguindo o modelo de inspiração catecumenal com duração de dois anos com um encontro por mês.”
Toda a Igreja como uma casa de Iniciação à Vida Cristã
Outra experiência de IVC veio da diocese de Jundiaí (SP) e foi partilhada pelo padre Erickson Ramos da Silva. Ele destacou que processo catequético se inicia no ventre materno, uma catequese continuada, que se estende por toda a vida: batismo, pré-catequese, eucaristia, perseverança, crisma, noivos, matrimônio.
“Nesse processo, o anseio é que toda a igreja diocesana se tornasse uma casa de IVC. Para isso foi criada uma comissão de IVC diocesana. Com isso, o modelo diocesano de coordenação passou a ser assumido também pelas paróquias com as mesmas funções.”
Segundo o padre, foi instituído na diocese dois anos de formação iniciática para os catequistas no Núcleo de Formação São José de Anchieta. Mas o processo de formação é continuado e permanente, baseado no tripé: “Ser, Saber, Saber fazer”. Há também formação para os coordenadores paroquiais, levando-os à vivência dos ritos diante da assembleia. E ainda, a formação do clero e aulas para os seminaristas no propedêutico desde o ano de 2018.
Há também catequese específica para pais e padrinhos, catequese com crianças da primeira infância, catequese mista com crianças e adolescentes, catequese com adolescentes e catequese catecumenal com jovens e adultos. Não obstante tudo isso, há também dificuldades: clérigos, não acreditam ou não entendem o processo; pais que insistem na pressa pela recepção dos sacramentos; catequistas de pais e padrinhos que não se sentem catequistas, mas palestrantes de um curso; escassez de ministros, os introdutores e padrinhos para acompanhar os catequizandos.
Os princípios e a teologia da Iniciação à vida Cristã
A formação contou ainda com a participação do bispo de Novo Hamburgo (RS) e presidente da Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB, dom João Francisco Salm, que insistiu em três pontos importantes para a IVC.
- Uma advertência, pois nossa maior ameaça: “tudo vai degenerando em mesquinhez” (Bento XVI); bem como o “desabafo” de Francisco: a pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual, há uma abertura à fé. Neste sentido, a Opção Preferencial pelos Pobres deve traduzir-se em zelo pastoral.
- 2 Sobre definição de IVC. Processo a ser vivido é bonito, mas exigente. “Ou seremos místicos ou não seremos cristãos” (K. Rahner), exige uma mudança existencial, uma nova vida, uma nova identidade. A pessoa precisa ser iniciada de forma que a pessoa se sinta realmente tocada em profundidade, o que torna essencial a comunidade e a missão dos pastores.
- Por fim, mais que entrar na Igreja, os fiéis devem ser acolhidos nelas. A comunidade toda é responsável pela IVC. Uma urgência que precisa ser assumida com decisão, coragem e determinação. Não podemos delegar a terceiros essa missão, temos de abraçar, ajudar a fazer das comunidades ambientes que acolham.
Dom Waldemar Passini, bispo de Luziânia e membro da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética, também colaborou com a formação. Na sua reflexão, dom Waldemar ressaltou que muitas comunidades já não manifestam sua vitalidade pelo número de fiéis, mas pela capacidade de gerar.
“Não temos um ‘catecumenato social’, esta tarefa é dos cristãos católicos, missão de transmitir a tradição viva que nos alcançou: o encontro com Jesus Cristo que dá um novo horizonte para a vida. Como os discípulos de Emaús, a partir do encontro com Jesus voltar para anunciar a experiência da vida nova que nos alcançou. Com ardor, com entusiasmo para iniciar novos irmãos nesta vida, com discípulos missionários. Isso é iniciar na vida cristã”, destacou.
Durante os três dias de formação, os presbíteros refletiram sobre a Iniciação à Vida Cristã à luz do Documento 107, com o padre Abimar Moraes, da PUC-Rio; a teologia dos sacramentos da IVC; a teologia da Iniciação à Vida Cristã, com o bispo auxiliar do Rio de Janeiro (RJ), dom Antônio Luiz Catelan Ferreira; Querigma na IVC com a Irmã Sueli da Cruz Pereira, de Vitória (ES) e a mistagogia na IVC com o padre Patrick Brandão. Já o caminho de implementação da IVC: sugestões práticas ficou por conta da Irmã Maria Aparecida Barboza.
Também participaram os bispos Dom Manoel João Francisco, diocese de Cornélio Procópio (PR); dom Norberto Foester, diocese de Ji-Paraná (RO); dom Jesús María López Mauleón, prelazia de Alto Xingu (PA) e dom Walter Jorge Pinto, bispo de União da Vitória (PR).
Por fim, Padre Bruno Moreira Rodrigues e Padre Emílio José Castelo Ferreira, apresentaram os passos dados no processo de IVC na Arquidiocese de Fortaleza. Por um problema técnico não foi possível acompanhar essa parte, pela qual pedimos desculpas em não relatar algo mais concreto dessa experiência.
Depois das questões apresentadas e respostas às perguntas, Dom Armando Bucciol, da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética, de um modo terno, fraterno e missionário, agradeceu a todos, incentivou a perseverar na importante missão e abençoou a todos.
Com informações do Irmão Denilson Mariano – Revista O Lutador