Nesses dias estou em Roma participando das solenidades de São Pedro e de São Paulo, que tiveram o seu ponto máximo na recepção do Pálio Arquiepiscopal, símbolo visível do novo serviço que, com alegria, em 19 de abril passado, assumi frente à Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Sim, o Santo Padre Bento XVI, ao reafirmar pessoalmente a importância da Igreja que peregrina no Rio de Janeiro, nos deu também uma grande responsabilidade. Uma Igreja Metropolitana em que o Arcebispo, carregando sob o seu ombro um tecido de lã, que a partir de carneiros apresentados na festa de Santa Inês, para que, com a retirada da sua lã, fosse confeccionada esta significativa peça litúrgica para o Metropolita utilizar ao presidir as celebrações em sua província eclesiástica, como símbolo da unidade e do pastoreio.

O Santo Padre Bento XVI sublinhou a figura do Bispo pastor e defensor do povo de Deus, que procura ver pessoas e realidades do ponto de vista de Deus, vivendo e testemunhando a Palavra e a fé, procurando aprofundar a razão da esperança. Estas foram as linhas fundamentais da densa homilia de Bento XVI na missa daquela manhã, partindo da 1ª Carta de São Pedro – “texto riquíssimo, que provem do coração e toca o coração” – disse. “O que é que nos diz São Pedro (nessa sua primeira Carta) sobre a tarefa do padre, precisamente neste Ano sacerdotal –, interrogou-se o Papa. “Antes de qualquer coisa fez notar, ele compreende o ministério sacerdotal totalmente a partir de Cristo”. Chama a Cristo o “pastor e defensor… das almas”. A palavra traduzida por “defensor” – advertiu – no texto grego é “epi scopos” (bispo), palavra que tem na sua raiz o verbo “ver”, ser vigilante, não no sentido externo, mas um ver do alto, das alturas de Deus, na perspectiva de Deus. Por isso, “Cristo é o bispo das almas, diz-nos Pedro. Isso significa: Ele vê na perspectiva de Deus! Olhando a partir de Deus, tem-se uma visão de conjunto, veem-se os perigos, assim como também as esperanças e possibilidades. Na perspectiva de Deus, vê-se a essência, vê-se o homem interior”.

Acerca da missão do Bispo, o Papa lembrou aos Arcebispos que é tarefa do Bispo, como pastor próprio de sua Igreja Particular, apascentar o rebanho, iluminado pela Palavra de Deus, que é o nutrimento de que o homem tem necessidade. Assim, o Pastor deve também saber resistir aos inimigos, aos lobos. Deve caminhar à frente, indicar o caminho, manter a unidade do rebanho. Continua Bento XVI: “Não basta falar. Os Pastores devem tornar-se modelos do rebanho. A palavra de Deus, quando é vivida, é trazida do passado para o presente. É maravilhoso ver como nos santos a Palavra de Deus se torna uma palavra dirigida ao nosso tempo. Vemos claramente isso em figuras como Francisco e depois de novo no Padre Pio e muitos outros. Cristo torna-se verdadeiramente contemporâneo da sua geração, saiu do passado e entrou no presente. Ser pastor – modelo do rebanho – significa viver agora a Palavra na grande comunidade da santa Igreja”.

Bento XVI nos lembrou da necessidade de reforçar que a fé cristã é a esperança. “A fé cristã é esperança. Abre o caminho para o futuro. E é uma esperança que possui razoabilidade. É uma esperança cuja razão podemos e devemos expor. A fé provém da Razão eterna que entrou no nosso mundo e nos mostrou o verdadeiro Deus. Vai para além da capacidade própria da nossa razão, assim como o amor vê mais do que a simples inteligência”.

O Santo Padre nos lembra da necessidade de compreender a fé de maneira plena. Não uma religião por tradição, mas uma fé que dê respostas às perguntas do mundo moderno. A fé exige a nossa participação racional, que se aprofunda e se purifica numa partilha de amor. Faz parte dos nossos deveres como Pastores penetrar a fé com o pensamento para estarmos em condições de mostrar a razão da nossa esperança na disputa de nosso tempo. “Se no Sacramento encontramos o Senhor; se na oração falamos com Ele; se nas decisões do quotidiano aderimos a Cristo, então vemos cada vez mais quanto Ele é bom. Daí experimentamos que é bom estar com Ele! É dessa certeza vivida que deriva depois a capacidade de comunicar aos outros a fé, de modo credível. O Cura d´Ars tinha a intimidade orante com o Senhor. Vivia com Ele nas minúcias do dia a dia e não apenas nas grandes exigências do ministério pastoral. Deste modo se tornou alguém que vê”.

Chamando-nos a purificar as nossas almas com obediência à verdade, quero reafirmar minha alegre unidade com o Santo Padre. “É a obediência à verdade que torna pura a alma. É o conviver com a falsidade que a contamina. A obediência à verdade começa com as pequenas verdades do dia a dia, que muitas vezes podem ser árduas e dolorosas. Esta obediência estende-se depois à obediência sem reservas perante a própria Verdade, que é Cristo. Esta obediência torna-nos não só puros, mas, sobretudo, também livres para o serviço a Cristo e assim para a salvação do mundo”.

Dom Orani João Tempesta

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