Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo de Santo André

 

Estamos no mês de outubro. Na Igreja, este é o mês das missões. Missão é ir ao encontro dos irmãos e irmãs para levar a “Boa Nova” (Evangelho). Esta nossa missão continua a missão de Jesus: anunciar que Deus é Pai e ama todos como filhos e filhas. Por isso devemos viver como irmãos e irmãs. Nossa vocação é seguir Jesus, comprometidos em anunciar o Reino de Deus. Este reinado de Deus tem implicações concretas na realidade social, pois, “O Reino de Deus é justiça, paz e alegria” (Rm 14, 17).

A revelação bíblica mostra que Deus quer o bem de todos, o bem comum. Querer o bem comum não é comunismo, Deus nos livre, é fraternidade universal. É mudar o modo de ver o mundo. Passar da concepção de vida baseada no mérito, para outra baseada na necessidade. Explico: não existem pessoas descartáveis. Também os doentes, fracos, incapazes, idosos e pobres, tem necessidades vitais que precisam ser satisfeitas, mesmo que não possam trabalhar, que não “mereçam” salário.

Nesse sentido, as próximas eleições são ótima oportunidade de crescer em cidadania, ajudando a eleger candidatos que trabalhem pelos valores do Reino, pelo bem comum. Em especial, que trabalhem para dar alegria ao povo, entristecido por tanta violência, desemprego e a Covid-19. Só temos duas armas para mudar a Nação: urna e canhão. Usemos a urna, para banir da vida pública os incompetentes e corruptos. É necessário criar uma cultura da política de honestidade e trabalho em favor do bem comum.

É nesse contexto que celebramos a festa de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. A mãe de Jesus a quem ela nos ensina a seguir: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5). Maria se faz missionária da Palavra viva que é Jesus. E é isto que ela tem sido no Brasil ao longo dos anos. Milhares de pessoas na nossa história encontraram Jesus nos braços de Maria, como os magos do Oriente (cf. Mt 2,11).

Essa pequena imagem de Nossa Senhora da Conceição que o povo apelidou de Aparecida, e cuja devoção começou em 1717 no Vale do Paraíba, no Estado de São Paulo, tem um significado especial para a maioria da população pobre, excluída e escrava daquela época. Escravizados pelos senhores, desprezados pelas castas burocráticas e corporativas do Brasil colonial, imperial e republicano, o povo recorre a esta mãe bondosa.

A Imaculada Conceição era padroeira do Reino de Portugal e do Império Brasileiro, e continua sendo do Brasil de hoje que a honra com este feriado. Nosso povo cristão se une ao redor desta mãe para se confraternizar. Maria é ponto de união entre o céu e a terra, pois foi nesta mulher que a Palavra se fez carne. Deve ser também ponto de união entre os seguidores de Jesus.

Graças a Deus o diálogo ecumênico tem possibilitado progressos na compreensão da figura de Maria, de quem Lutero, iniciador do Protestantismo, foi devoto fervoroso até o fim da vida. O pastor Martin N. Dreher escreve na apresentação do livro de autoria de Martim Lutero, o seguinte: “Maria é para Lutero modelo de vida cristã, que experimentou a justificação por graça e fé. Neste seu escrito, Lutero redescobre uma imagem profundamente evangélica de Maria”(cf. Lutero, Magnificat, Ed. Sinodal e Santuário, 2015, 7).

E o próprio Lutero escreve no início da obra: “Não lembro nada das Escrituras que sirva melhor para este caso que o cântico sagrado da bendita mãe de Deus. Sem dúvida, todos os que quiserem governar bem e ser boas autoridades devem aprender bem e guardar de memória este cântico de Maria” (Cf. idem p. 10).

Que Nossa Senhora Aparecida interceda por cada um de nós e por todo o Brasil, neste momento particularmente desafiador que vivemos.

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