A morte teria algum sentido? A memória dos finados, tradicionalmente celebrada aos 2 de novembro, não se resume à visita aos túmulos dos nossos entes queridos. Definitivamente, o espírito de cada um deles não está lá. Muito menos sua corporeidade. Esta virou menos que um pouco de pó putrefato. A razão humana não encontraria jamais algum significado para a morte. Apenas negatividades. Ora o desespero, ora o cepticismo, ou a dor das saudades.
O fenômeno da morte corporal não se limita à destruição da matéria orgânica. O sentido para a morte encontra-se na superação da mesma. Como? Jesus explicou: “se o grão de trigo não morrer permanece só. Porém se morrer produz muito fruto” (Cf. Jo 12,24). Jesus compara o valor de sua própria vida à doação que faz de si mesmo. Jesus passa por dentro da morte para superá-la e doá-la aos outros. Jesus ressuscita, gerando novos frutos.
Nele o povo encontra vida plena. O sentido da vida reside no amor de doação. O amor nos leva à dedicação construtiva. Encontramos o sentido para a vida na medida em que a construímos, superando a morte. Essa atitude permanente é um dom de Deus, um dom de amor, um dom que se transforma em atividades construtivas a favor da vida. É um dom que transcende os limites do tempo e do espaço – abre-se para além da lógica da razão humana.
Para aqueles que amam, creem, esperam, a vida é transformada, não destruída. A vida não poderia se acabar nos termos de autodestruição. Nem a convivência entre as pessoas poderia fracassar com a eliminação de uns se colocando contra os outros. Não existe outro sentido para a morte senão na superação do ódio e das divisões entre as pessoas e povos.
Constrói-se a vida na esperança! Isso exige muita “morte” ao nosso egoísmo e às nossas pretensões particulares. A construção de relações de convivência humanitária digna, fraterna e solidária pressupõe nosso exercício, ou mesmo uma terapia contínua. Jogamos nas costas dos outros o exercício de transformação. Morremos quando nos isolamos na solidão, um subterfúgio, uma fuga da realidade a ser transformada. Quem não ama foge de si e dos outros. Não amar e não se deixar amar é provocar a morte do sentido da vida.
O Dia de Finados significa agradecer a Deus pelos que nos precederam no caminho da vida, suplicando a graça de buscar constantemente o sentido da existência terrena, superando a morte, a violência, o pecado de não amar. Ao elevar ao Senhor nossas preces, peçamos a graça de manter unidas as nossas raízes familiares, pois essa é a herança maior que os nossos entes queridos nos legaram! O que não fazemos pelos que nos amam durante a vida, de nada adianta chorar de remorso e saudades junto aos túmulos. Seria tarde demais.