Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
A procissão do Encontro acontece na terça ou quarta-feira da Semana Santa. A Semana Santa é chamada de semana maior para os católicos, pois é bem rica com diversas celebrações. A Semana Santa tem início no Domingo de Ramos. Na Segunda-Feira Santa, acontece o ofício de trevas e o Sermão do Depósito. Celebramos a Procissão do Encontro, quando a imagem do Senhor dos Passos sai de uma Igreja e encontra-se com a imagem de Nossa Senhora das Dores, que saindo de outra Igreja, se faz o encontro, lembrando o encontro de Jesus com a sua Mãe no caminho do Calvário. Na quarta-feira é costume celebrar as sete dores de Nossa Senhora. A partir da quinta-feira, tem início o Tríduo Pascal, que culmina na grande Vigília Pascal. Por fim, a Semana Santa tem o seu ápice com a jubilosa e alegre celebração do Domingo de Páscoa iniciando esse tempo jubiloso de 50 dias com uma oitava solene.
Participemos ativamente das celebrações da Semana Santa, desde o Domingo de Ramos até ao Domingo de Páscoa. Só temos uma Semana Santa ao longo de todo ano, por isso temos que participar bem dela. É a semana maior para os cristãos, são momentos de fé que devemos guardar e preservar. A nossa fé é muita rica, por isso, ela tem que ser expressa.
Algumas paróquias, devido as circunstâncias locais e pastorais, só realizam as atividades da Semana Santa a partir da quinta-feira, com o Tríduo Pascal, mas é recomendável que tenha as celebrações ao longo de toda a semana, para nutrir no coração dos fiéis essa espiritualidade tão rica. Nessa semana maior ainda é possível realizar a confissão sacramental auricular, para quem não o fez ainda.
Nessa noite da terça ou quarta-Feira Santa, podemos contemplar Maria e Jesus, os dois rostos que se encontram, Maria sofrendo ao ver seu filho sendo condenado à morte e Jesus sofrendo caminhando com o peso da Cruz às costas. Ao contemplar o rosto de Maria, podemos lembrar de tantas mães que sofrem ao verem seus filhos sendo presos ou até mortos. Lembremos das mães que vivem sozinhas e que são abandonadas pelos filhos e esposos. Elevemos uma prece a Deus para que essas mães nunca percam a fé e a esperança em Deus.
Ao contemplar o rosto de Jesus, lembremos de tantos filhos que desprezam as suas mães e não tem o olhar de misericórdia para com elas. Infelizmente, o quinto mandamento da Lei de Deus caiu no esquecimento e não tem sido colocado em prática. Muitos filhos não honram com a devida estima seu pai e sua mãe. Lembremos de tantos filhos que morrem precocemente, seja por motivo de doença ou por se envolverem em algo errado, que é sempre pecado, e precisa abandonar o erro para viver na graça de Deus.
Rezemos hoje por todas as mães e todos os filhos, para que os filhos ouçam e respeitem mais as suas mães e as mães dialoguem mais com os seus filhos. Que em todos os lares haja espaço para o diálogo, amor e respeito. Quem em todos os lares, sobretudo, não falte Deus. Que pais e filhos saibam carregar as “cruzes” de cada dia e tenham respeito mútuo.
A procissão do Encontro recorda o momento do encontro de Nosso Senhor dos Passos rumo ao calvário e a sua Mãe, Nossa Senhora das Dores. Normalmente, os homens saem de um ponto da paróquia com a imagem de Nosso Senhor dos Passos e as mulheres saem de outro ponto da paróquia com a imagem de Nossa Senhora das Dores. À medida que caminham, as duas imagens se encontram em frente à paróquia ou em um lugar maior que facilite a reunião dos fiéis para ouvir o sermão. Ao chegarem em frente à paróquia, o sacerdote profere o sermão da noite.
Após o sacerdote proferir o sermão da noite, as imagens adentram a Igreja e os fiéis são convidados a venerar e rezar diante das duas imagens. Devemos pedir, sobretudo, para ter forças de carregar a nossa cruz diária e buscar a santidade e ter a mesma serenidade de Nossa Senhora diante do sofrimento.
Nossa Senhora em nenhum momento se desespera, grita ou faz escândalo ao ver o seu filho sendo entregue à morte, mas ela guarda tudo em seu coração e medita sobre todos os fatos. É claro que ela fica triste e chora ao ver o que estavam fazendo com seu filho, mas se conforma e aceita que está sendo feita a vontade de Deus. Peçamos nessa noite que Deus console o coração de todas as mães que sofrem por seus filhos e que o Espírito Santo possa reconfortá-las através do poder da fé.
A Campanha da Fraternidade desse ano de 2023 refletiu sobre a fome. Rezemos por tantas famílias que passam fome, para que tão logo possam conseguir se sustentar e o alimento não falte na mesa. Rezamos no Pai Nosso: “o pão nosso de cada dia, dai-nos hoje”, que com dignidade todas as famílias possam conseguir o alimento diário.
A dor de Nossa Senhora foi tão grande que é como se fosse uma espada que atravessasse a sua alma. Maria como sempre guardava tudo em seu coração, e buscava compreender os planos de Deus para a sua vida. Cumpriu-se a profecia que o profeta Simeão havia dito: “Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma” (Cf Lc 2).
Maria acompanhou de perto todo o sofrimento de Jesus, que dor Ela não deve ter sentido ao ouvir o seu Filho ser julgado diante de Pilatos e ainda ouvir o povo aclamar: “crucifica-o, crucifica-o”. Depois, o acompanhou no caminho do calvário até a crucificação e morte de cruz.
Por fim, podemos lembrar nessa celebração de tantas mães que veem seus filhos morrerem inocentemente e choram pela morte de seus filhos. Que Deus e o Espírito Santo as ilumine e conforte os seus corações e iluminadas pela fé possam crer na ressurreição final.
Participemos piedosamente das celebrações da Semana Santa e, em especial, da procissão e sermão do Encontro. Façamos dessa semana uma semana especial. Estamos na Semana das Dores, mas logo entraremos na semana das alegrias pascais. Que esses momentos litúrgicos possam reavivar em nós a esperança e a fé na ressurreição. Rezemos por todas as mães e seus filhos, para que Deus possa sempre livrá-los do mal. Amém.
