Dom Dirceu de Oliveira Medeiros
Bispo de Camaçari (BA)
Já se avizinha a primeira Sessão do Sínodo sobre Sinodalidade. É natural que se criem expectativas e que muitos entendam o Sínodo como um parlamento para onde levaremos nossas pautas em um tom reivindicatório. Mas será esse o sentido do Sínodo? É inevitável ainda, diante de algo ainda muito novo para nossa tradição ocidental, buscar analogias no mundo externo para tentar compreender algo que é fortemente eclesial e tem raízes profundas na Tradição Oriental. Por outro lado, fechar-se àquilo que brotou das escutas, desde a fase diocesana, até o estado atual não é uma atitude desejada.
Recentemente um grande veículo de comunicação apresentou, em outras palavras, a seguinte questão: Quais são os pleitos que os delegados sinodais levarão ao Sínodo. Penso que a pergunta deveria ser reformulada. Com que disposição vamos ao Sínodo? Com a disposição de escutar, dialogar e discernir juntos. No mundo do imediatismo e das decisões instantâneas pode parecer estranho um processo aparentemente tão lento. Mas no campo eclesial as coisas não se processam como no mundo dos negócios ou de outra natureza. Há que se construir juntos, fazer comunhão, sob pena de sairmos feridos ou ferirmos alguém. Na etapa continental ouvi um belo testemunho de uma teóloga. Ela se dizia convencida de um tema fronteiriço, mas ponderou dizendo que na Igreja, nossa família, se não consensus fidelium, ela não se sentia no direito de impor sua posição. Percebi o Espírito falando!
As três palavras, comunhão, participação e missão, nos ajudam a compreender a natureza de um Sínodo. Os termos comunhão e missão, mais densos teologicamente estão profundamente interligados, pois a comunhão é em vista da missão e a missão, sem testemunho de comunhão, é mera propaganda. A participação, diria, é o dado mais antropológico, ou seja, é aquele espaço aberto pelo Senhor, para que possamos colaborar com Ele no caminho sinodal. Cada pessoa é importante, cada comunidade.
Além do Sínodo com processo, há que se salientar a riqueza do método aplicado. O Papa Francisco tem afirmado que Deus sempre nos surpreende. Penso que a surpresa de Deus, neste caminho sinodal, tem sido o método da Conversação Espiritual ou Diálogo no Espírito como prefere o Intrumentum Laboris. É um método carregado de uma mística. Em breve teremos um livro sobre esse método que ajudará a Igreja a adotar o estilo sinodal nas diversas instâncias eclesiais. As Diretrizes Gerais da Igreja no Brasil (2015-2019) já apontavam para essa realidade quando afirmam: “Planejar a pastoral não é um processo meramente técnico. É uma ação carregada de sentido espiritual. Por isto, todo processo precisa ser rezado, celebrado e transformado em louvor a Deus.” Nesta afirmação encontramos o sentido que faz a diferença: método na Igreja nunca é meramente um método, antes é uma mística.
O Instrumentum Laboris diz textualmente: “A Assembleia Sinodal não pode ser entendida como representativa e legislativa, em analogia com um organismo parlamentar, com a sua dinâmica de formação de maioria. Em vez disso, somos chamados a entendê-la por analogia com a assembleia litúrgica. A tradição antiga nos diz que um Sínodo é “celebrado”: ele começa com a invocação do Espírito Santo, continua com a profissão de fé e chega a determinações partilhadas para garantir ou restabelecer a comunhão eclesial.”
O Papa tem insistido que o Sínodo é, antes de tudo, colocar-se na Escuta do Espírito. Aí está a chave hermenêutica. Diante disso penso que inauguramos um caminho, sem querer ser redundante, pois Sínodo significa “Caminhar juntos”, que exigirá de nós, humildade, formação para a Sinodalidade e cultivo de uma verdadeira Espiritualidade Sinodal. Em tempos de forte individualismo o Sínodo surge como um caminho do Espírito que sopre onde quer e vai abrindo estradas. Não tenhamos medo de afrontar os temas que surgirem e treinemos nossos ouvidos para uma escuta qualificada.