Sínodo: o que é? como acontece?

Cardeal Sergio da Rocha
Arcebispo de Brasília (DF)

O Sínodo para a Amazônia tem despertado o interesse em conhecer melhor do que estamos falando quando nos referimos ao Sínodo. O Sínodo dos Bispos foi instituído pelo Papa Paulo VI aos 15 de setembro de 1965, sendo um dos frutos do Concílio Vaticano II, buscando promover a colegialidade episcopal, a participação e a comunhão na vida da Igreja. Presidido pelo Papa, o Sínodo dos Bispos conta com a Secretaria Geral  e com o Conselho Ordinário, composto de 21 bispos representando os cinco continentes. Desde a instituição do Sínodo, foram realizadas 15 Assembleias Ordinárias, 03 Assembleias Extraordinárias e 10 Assembleias Especiais, sendo a Assembleia para a Amazônia a 11a. Em geral, as palavras Sínodo e Assembleia Sinodal são empregadas como sinônimos, de tal modo que, ao se falar da Assembleia Especial para Região Pan-amazônica, fala-se simplesmente de Sínodo para a Amazônia.

Cada Assembleia Sinodal Ordinária reúne bispos representantes das Conferências Episcopais de todo o mundo, mas não os bispos todos, pois não se trata de Concílio Ecumênico. Participam representantes de cada Conferência Episcopal. Aquelas que têm acima de 200 membros, como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, escolhem 05 delegados, conforme a Constituição Apostólica Episcopalis Communio, publicada pelo Papa Francisco aos 18 de setembro de 2018.

Entretanto, quando se trata de uma Assembleia Extraordinária, ou de uma Assembleia Especial, como a Assembleia para a Pan-Amazônia, os critérios são outros. Por isso mesmo chama-se Assembleia “Especial”. No caso do Sínodo para a Amazônia, participam os bispos da Amazônia legal brasileira e de outros oito países (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa). Para preparar a Assembleia Especial, o Santo Padre nomeia um Conselho Especial.

Embora o Sínodo seja sempre dos Bispos, desde a sua instituição, é prevista a participação de outras pessoas, seja qual for o tipo de Assembleia Sinodal. São nomeados pelo Papa clérigos, religiosos e leigos, conforme o tema a ser tratado. São convidados ainda os “delegados fraternos” representando diversas Igrejas cristãs. No caso da Assembleia Especial para a Amazônia, foram nomeados pelo Papa Francisco outros participantes, bispos ou não, de vários continentes e de diferentes campos de estudo e de atuação. Ao todo, são mais de 250 participantes.

As últimas Assembleias Sinodais têm durado três semanas, iniciando-se com a missa no primeiro domingo de outubro e encerrando-se com a missa do quarto domingo de outubro. Portanto, desta vez, ocorre de 06 a 27 de outubro.

A Assembleia Sinodal é realizada sempre no Vaticano, presidida pelo Papa durante as três semanas. No final, os “padres sinodais” aprovam um texto conclusivo, que tem sido chamado Documento Final, anteriormente denominado Proposições, entregue ao Papa no final da Assembleia, pois cabe a ele ratificar e decidir a respeito de sua publicação. Além disso, após cada Sínodo, o Santo Padre tem elaborado a chamada “Exortação Apostólica Pós-Sinodal”, documento que reúne as contribuições do Sínodo que ele considerar conveniente propor para toda a Igreja. No Sínodo para a Nova Evangelização, em outubro de 2012, o Papa Bento XVI autorizou a publicação das “Proposições” aprovadas. Até então, era divulgada somente uma “Mensagem”. Os textos conclusivos aprovados nos Sínodos de 2015 (Família) e de 2018 (Jovens) foram publicados também com a indicação, na versão original, do número de votos obtidos em cada parágrafo.

Cada Sínodo tem três fases. Não se trata somente da Assembleia Sinodal, mas de um caminho sinodal: a fase de preparação; a fase “celebrativa”, que é a realização da Assembleia; e a fase pós-sinodal ou de “atuação. Em cada etapa, temos um texto de referência. Na fase pré-sinodal, publica-se, primeiramente, o Documento Preparatório, antes conhecido como Lineamenta. A seguir, vem o Instrumentum Laboris (Instrumento de Trabalho), que procura recolher dados, reflexões e propostas pastorais levantadas no mundo todo, se for Assembleia Ordinária, ou em uma área geográfica, se for Assembleia Especial. O Instrumentum Laboris serve de referência para as intervenções que os participantes fazem durante o Sínodo, mas cede lugar a um outro texto aprovado no final, o Documento Final, que pode ser bastante diferente do Instrumento de Trabalho. No pontificado do Papa Francisco, a etapa pré-sinodal tem sido bastante valorizada e ampliada, de modo a permitir maior participação da Igreja e não somente dos membros do Sínodo. Ele tem enfatizado a importância da escuta e do diálogo no itinerário sinodal. “Sínodo” é um termo grego traduzido por “caminhar juntos”. O Papa Francisco quer envolver, neste caminhar juntos, não somente os bispos, mas toda a Igreja.

Durante a Assembleia, tem crescido também a participação de quem não é bispo, no plenário e nos grupos de estudo (círculos menores), porém sem direito a votar o texto final. A etapa pós-sinodal é de recepção das conclusões de cada Sínodo. Nela, acolhe-se, com especial atenção, a Exortação Apostólica Pós-Sinodal, sempre que o Papa julgar conveniente elaborar.

Os Sínodos têm oferecido uma contribuição muito valiosa para a Igreja. Devem ser valorizados e acompanhados com atenção. O Sínodo Especial para a Amazônia tem um tema bastante atual e desafiador: Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral. A Igreja na Amazônia quer realizar sempre mais a sua missão evangelizadora atenta às características, potencialidades e desafios da sua realidade eclesial, sociocultural e ambiental. Ele foi preparado através de encontros e de estudos  promovidos pela Secretaria Geral do Sínodo, com o respectivo Conselho Especial.

O que fazer perante o Sínodo? Duas atitudes não podem faltar: a oração e a comunhão. A primeira atitude a ser cultivada é a oração confiante. Durante a Assembleia Sinodal, os participantes rezam bastante, conscientes da necessidade da graça de Deus e da ação do Espirito Santo. A Igreja toda é convidada a rezar muito pelo Sínodo.

A segunda é a atitude de comunhão eclesial. Na própria oração, especialmente na Eucaristia, já vivenciamos a comunhão que nos une na Igreja, mas o testemunho de comunhão  torna-se ainda mais necessário num mundo marcado por tantas divisões e conflitos. Deve ser manifestado através do reconhecimento da importância do Sínodo, do respeito, e da acolhida dos ensinamentos do Sucessor de Pedro. É preciso redobrar a prudência para não se deixar levar por comentários equivocados ou criticas ofensivas, nem atribuir ao Sínodo opiniões pessoais que venham a ser manifestada por algum dos participantes. Antes e durante os Sínodos, muito se divulga na imprensa internacional ou nas redes sociais, mas é preciso sempre aguardar as conclusões da Assembleia Sinodal, que acontece cum Petro et sub Petro, isto é, “com Pedro e sob Pedro”, conforme nos recordou o próprio Papa Francisco no seu discurso por ocasião do Jubileu de Ouro do Sínodo dos Bispos, proferido aos 17 de outubro de 2015.

Numa perspectiva sinodal, é preciso caminhar juntos, “cum Petro” e “sub Petro”, na certeza de que Jesus está na barca onde Pedro lança as redes. Assim como os discípulos disseram a Pedro, também nós queremos dizer-lhe: “nós vamos também contigo” (Jo 21,3).

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