Solenidade do Corpo de Cristo e realidade da presença da Eucaristia nas Comunidades fora das cidades

Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira
Bispo da Prelazia do Marajó (PA)

 

Na Visita Pastoral que estou fazendo na Paróquia Santo Antônio, Chaves, desde o dia 13 de junho, na quarta-feira, dia 18 de junho, fui visitar mais uma Comunidade Ribeirinha, desta vez a Comunidade São Pedro, Vila São Pedro.

Durante a celebração da Eucaristia, na hora das preces, motivei a assembleia a fazer preces espontâneas. Uma Comunitária rezou pedindo a Deus que ajudasse a ter mais celebrações da Missa, para que assim pudessem receber Jesus mais vezes na Eucaristia. E dizia ela que só tem a missa uma vez por ano. E nesta Comunidade ainda não tem o Sacrário.

Enquanto ela rezava me veio à mente o que aconteceu em uma das Sessões do Sínodo para a Amazônia, em outubro de 2019. Vários bispos pediram que fosse dado a permissão para a Igreja na Amazônia ordenar homens casados como presbíteros, colocando o celibato, novamente, como opcional. A razão do pedido dos bispos era exatamente esta: milhares de comunidades na Amazônia só tem a celebração da Eucaristia uma vez por ano, quando tem.

Durante as intervenções livres, que aconteciam no final do dia, um Cardeal da Cúria Romana, que prefiro não dizer o nome, usou da palavra e se colocou contra esta proposta, argumentando que se fosse ter padres celibatários e padres casados, teríamos padres de primeira e de segunda categoria na Igreja.

Estava inscrito para falar sobre outro tema. Mas a fala do Cardeal me fez trocar o tema e falei defendendo a ordenação de homens casados, a partir de minha experiência de um pouco mais de dois anos na Prelazia de Itacoatiara, Amazonas. Disse que não veria o perigo de se ter padres de primeira e segunda categorias, mas nossa preocupação era porque já existe católicos de primeira e de segunda categorias. Ou seja, católicos que moram nas cidades com uma ou mais Paróquias, que se quiserem, podem receber a Eucaristia todos os dias (católicos de primeira categoria) e católicos que vivem nas Comunidades Rurais e Ribeirinhas da Amazônia e em todo o Brasil, que recebem Jesus na Eucari stia uma, duas ou três vezes ao ano. E em muitas de dois em dois anos, de três em três anos… (católicos de segunda categoria).

A prece feita hoje na Comunidade São Pedro, Vila São Pedro, Comunidade Ribeirinha da Paróquia Santo Antônio, Chaves, serviu como exemplo do que eu falei no Sínodo para a Amazônia.

Nesta Solenidade do Corpo de Cristo fico rezando e me perguntando: até quando vamos deixar um número muito grande de católicos sem poder participar da celebração da Eucaristia e sem receber Jesus na Eucaristia? A solução única é voltar a ter o celibato opcional podendo ter padres celibatários e padres casados? Única, com certeza não, mas é uma das possíveis soluções.

Dom Erwin no Sínodo para a Amazônia partilhou sua experiência na então Prelazia do Xingu, Pará e pedia precisamos voltar a ser a Igreja da Palavra e do Pão. E milhares de Comunidades Católicas estão tendo apenas a mesa da Palavra.

Que o Espírito Santo de Deus nos inspire!

Que Jesus, pão da vida, nos ajude a encontrar caminhos para que Ele, de fato, possa ser recebido por todos os católicos e por todas as católicas.

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