Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)

Estamos na Semana da Solidariedade, caminho do Dia Mundial dos pobres precedida por uma semana de atividades e reflexões. O Papa Francisco em sua carta endereçada para o Dia Mundial dos pobres nos diz na segunda parte do n. 6: “convido a Igreja inteira e os homens e mulheres de boa vontade a fixar o olhar, neste dia, em todos aqueles que estendem as suas mãos invocando ajuda e pedindo a nossa solidariedade. São nossos irmãos e irmãs, criados e amados pelo único Pai celeste. Este Dia pretende estimular, em primeiro lugar, os crentes, para que reajam à cultura do descarte e do desperdício, assumindo a cultura do encontro. Ao mesmo tempo, o convite é dirigido a todos, independentemente da sua pertença religiosa, para que se abram à partilha com os pobres em todas as formas de solidariedade, como sinal concreto de fraternidade. Deus criou o céu e a terra para todos; foram os homens que, infelizmente, ergueram fronteiras, muros e recintos, traindo o dom originário destinado à humanidade sem qualquer exclusão” ( Retirado do site: http://pt.radiovaticana.va/news/2017/06/13/mensagem_do_papa_para_dia_mundial_dos_pobres_texto_integral/1318638/ acesso pela última vez em 11/11/2017).

O Catecismo da Igreja Católica nos fala no número 1942: “A virtude da solidariedade vai além dos bens materiais. Difundindo os bens espirituais da fé, a Igreja favoreceu também o desenvolvimento dos bens temporais, aos quais muitas vezes abriu novos caminhos. Assim foi-se verificando, ao longo dos séculos, a palavra do Senhor: “Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e sua justiça, e todas essas coisas serão acrescentadas” (Mt 6,33): Há dois mil anos vive e persevera na alma da Igreja este sentimento que levou e ainda leva as almas ao heroísmo caritativo dos monges agricultores, dos libertadores de escravos, dos que tratam dos enfermos, dos mensageiros de fé, de civilização, ciência a todas as gerações e a todos os povos, em vista de criar condições sociais capazes de possibilitar a todos uma vida digna do homem e do cristão. §1940: A solidariedade se manifesta antes de tudo na distribuição dos bens e na remuneração do trabalho. Supõe também o esforço em favor de uma ordem social mais justa, na qual as tensões possam ser mais bem resolvidas e os conflitos encontrem mais facilmente sua solução por consenso. §1941: Os problemas sócio econômicos só podem ser resolvidos com o auxílio de todas as formas de solidariedade: solidariedade dos pobres entre si, dos ricos e dos pobres, dos trabalhadores entre si, dos empregadores e dos empregados na empresa, solidariedade entre as nações e entre os povos. A solidariedade internacional é uma exigência de ordem moral. Em parte, é da solidariedade que depende a paz mundial.

Mas podemos nos perguntar: o que significa a caridade (solidariedade)? Caridade significa dar de graça, dar sem interesse de receber de volta, dar sem egoísmo, sem pedir recompensa, em atitude de compaixão. Nisto ele imita o próprio Deus no mistério da criação e a Jesus Cristo, no mistério da Redenção. O homem recebeu tudo do seu criador. Tudo quanto tem, possui-o porquê recebeu. Ora, se Deus dá de graça e se o homem é criado à imagem e semelhança de Deus, se Cristo se doou totalmente, dando sua vida, também ele será capaz de dar de graça. Ao descobrir que dentro de si existe a sublime capacidade de dar de graça, a exemplo de Deus e de Cristo, brota nele o desejo de celebrá-la. O Papa Francisco, está convidando para que todos tenham atitude de abertura ao próximo, convida-o a servir ao próximo com generosidade e desprendimento. Ora, neste momento a esmola começa a significar toda esta atitude de doação gratuita. Não só de bens materiais, mas o tempo, o interesse, as qualidades, o serviço, o acolhimento, a aceitação. E todo este mistério de abertura e gratuidade em favor do próximo na imitação de Deus e de Cristo possui então uma linguagem ritual.

O apóstolo São Paulo traçou um quadro incomparável da solidariedade (caridade): A caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (l Cor 13,4-7).

Somos chamados a viver a realidade da solidariedade. Ser solidário significa abrir-se ao outro. Tudo isso nos fala e nos remete a cultura do encontro. Esta atitude de sair de si e ir ao encontro do outro é que tanto o Papa Francisco está pedindo. Aí implica a dimensão da alteridade. Só assume a alteridade aquele que verdadeiramente foi tocado por Deus e assumiu sua Palavra em sua vida.

 

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