Sonhos de aniversário

Nestes dias em que comemoramos o aniversário da cidade de Belém, as pessoas, ao serem entrevistadas, junto com as análises da situação e algumas reclamações, costumam também apresentar os sonhos presentes no coração de cada habitante desta cidade.

No fundo, nossos sonhos refletem uma situação quase mágica, em que gostaríamos de transformar com uma “varinha de condão” a dura realidade de cada dia em situações de paz e harmonia, segurança e tranquilidade, prosperidade e fraternidade.

Como sabemos, a mágica de tudo o que “tocamos se transformar em ouro” só existe nos filmes, livros e quadrinhos de ficção. Mesmo as novas e modernas técnicas de transformação, que fazem com que a comunicação eletrônica aconteça ao apontarmos uma antena para um ponto no céu que não vemos a olho nu, não conseguem fazer com que as pessoas se comuniquem, perdoem, falem, ajudem, respeitem!

Chegamos longe em tantos progressos e fazemos “verdadeiros milagres” para os que não possuem as técnicas da internet, que faz acontecer a concentração de mídia em uma tela de nosso computador, substituindo desde os correios até a televisão, passando pelo rádio, livro, jornal, enciclopédia, biblioteca, DVD, vídeos e outras mídias que ainda aparecerão, mas não conseguimos fazer progressos no relacionamento humano: continuamos com a maneira primitiva de nos comportar uns com os outros quando somos contrariados ou quando não concordamos com as idéias dos outros.

Sentimos que necessitamos de outro trabalho, outra descoberta para que esses sonhos de um “mundo novo” possam acontecer, ou melhor, “ir acontecendo” em nossa cidade. Para muitos, essa nova realidade seria apenas material, com riquezas e facilidades que o dinheiro em abundância proporciona, para outros seria uma saúde sem nunca existir doenças, para outros ainda seria nunca trabalhar e viver em constante lazer. É claro que não nos referimos a esse tipo de vida, que é justamente o que tem deteriorado a vida humana. Essa filosofia de predador que caminha conosco e que tem sido causa de muitos males sociais e até mesmo ecológicos em nosso planeta.

Mesmo os nossos sonhos precisariam ser “exorcizados” para que não fôssemos por caminhos errados olhando para o futuro. Os melhores sonhos são aqueles em que o Evangelho ilumina o nosso relacionamento e, mesmo com sobriedade, possamos viver dias de paz e entendimento entre diferentes. Não adianta sonhar pensando que todos iriam ter uma única ideologia, religião, idéia social, partido, opinião. Fomos criados diferentes e com experiências diferentes. O que é necessário é utilizarmos a nossa inteligência e discernimento para convivermos com as pessoas e descobrirmos que a diferença nos enriquece.

É claro que sempre iremos ter necessidade de leis, parâmetros para que diante de situações conflitantes encontremos os caminhos para uma convivência pacífica, acatando decisões de pessoas confiáveis que saberíamos que estavam julgando de acordo com a objetividade e não com interesses políticos ou mesmo partidários.

Os sonhos, nossos melhores sonhos, podem ir se realizando à medida que muitas pessoas começarem a “sonhar juntas”, como lembra um muito conhecido jargão. Será que o aniversário de nossa cidade, neste tempo tão marcado por violência e dores, demonstrando nossas chagas doentias ao mundo, não seria o momento de estabelecermos alguns passos concretos sabendo que nossa sociedade doente necessita de tratamentos eficazes a curto, médio e longo prazo para voltar à saúde?

A frustração de nossos belos sonhos foi sempre acordar e ver que nada daquilo é verdade, como é também um alívio quando descobrimos que nossos pesadelos também não são verdadeiros. O problema é que vivemos pesadelos concretos e sonhos etéreos, temos situações de dor que realmente ocorrem e belas idéias que não ocorrem. Será que seria possível reverter a situação: descobrir que nossos pesadelos não existem e que os sonhos estão acontecendo?

Infelizmente a inexistente “varinha de condão” não irá resolver o nosso caso e sim uma grande unidade na diversidade da busca de soluções. A campanha da Fraternidade deste ano irá nos ajudar nessa direção.

Não percamos o “bonde” da história e aproveitemos cada instante para “sonhar juntos” e transformar em realidade esses belos sentimentos que estão em nossos corações! Assim, desejaremos à nossa bela cidade de Belém um Feliz Aniversário, comprometido com a sua beleza “interior” – a do seu povo feliz e vivendo em paz!

Dom Orani João Tempesta

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