Dom Leomar Antônio Brustolin
Bispo auxiliar de Porto Alegre
Para uma aproximação séria e competente às questões acerca da conduta contemporânea autodestrutiva, concentradas no fenômeno do suicídio, faz-se necessário um amplo enfoque interdisciplinar, sem o qual toda análise ou discurso sobre o problema se revelará deficitário e ingênuo. Nessa abordagem ampla, há um lugar de destaque para a fé e a espiritualidade. A espiritualidade é um eficaz recurso no processo de ressignificação de uma vida que perdeu o sentido e tende ao risco suicida.
O ser humano é um ser aberto ao infinito; deseja sempre ir além, sente radical necessidade de transcender este mundo que passa. Esse “senso espiritual” pode ser um dos principais motivos que possibilitam à pessoa superar situações determinantes de crise, sofrimento, angústia, depressão e desespero.
Para prevenir, é preciso “cuidar”. No caso específico do comportamento suicida, é necessário cuidar da dor, isto é, recompor uma visão integral da pessoa, que a prepare para enfrentar e administrar situações inevitáveis de sofrimento. A espiritualidade não pode negar a dor, a perda e a frustração. Mas pode ajudar a revisar os conceitos impostos pela sociedade sobre essas condições, que são inerentes à vida humana. Para isso, é necessário libertar-se do mito da atual sociedade, quando apregoa que só vale a pena viver se há garantias de ter, poder e aparecer. Nega-se toda dor e espera-se o máximo de um prazer duradouro. As provações da vida, contudo, possibilitam a purificação de ilusões sobre a existência. Elas podem mostrar o que realmente tem valor na vida; de forma extremamente eficaz, elas ajudam a discernir o que é secundário e o que é essencial.
Somente a esperança no futuro pode devolver o sentido perdido, talvez, num presente de extremo sofrimento. A fé abre as portas do tempo presente ao futuro, à vida que há de vir. Na vida, tudo passa, até mesmo a dor e o desespero. Também a presunção e a frustração têm vida curta. Enquanto se tem vida, há esperança!