Superar a fome com trabalho (2)

A questão da superação da fome remete-nos à superação da miséria moral. A falta de iniciativas em busca de recursos, no mais das vezes, é resultado infeliz da ausência ou da negação dos valores humanos, familiares, cívicos e religiosos. Esses valores sempre foram referenciais éticos para o desenvolvimento integral dos povos e das nações. Devem, pois, estar presentes nos projetos de desenvolvimento integral da nação, remetendo o povo à visão de seu presente e de seu futuro. Cabe aos governantes o estímulo envolvendo a população nos projetos de nação. O povo que não é acostumado ao planejamento terá a sina do destino. A verdade é essa!

A questão da fome no mundo deve-se à imperícia dos governantes, mas também da acomodação de um povo, domesticado pela inércia, acostumado com soluções paliativas, viciado em receber como escola o que seria conquista de seus direitos e cumprimento de seus deveres. A ausência de planos estratégicos poderá vir a acobertar de um lado a corrupção e de outro patentear a ignorância, prolongando ainda mais seu atraso modorrento.

A questão da fome não se reduz à falta de produção de alimentos. É resultado da inércia, da ausência de planejamento. Não pode ser sina da ignorância de um povo, talvez habituado à espera de milagre. Não interessa a governos corruptos a produção de alimentos. Nem interessa a educação da população, sobretudo jovem. Isso se chama miséria ética, que equivale à negação dos princípios elementares da democracia participativa.

A produção de alimentos é questão de planejamento e de investimentos sérios, a exemplo das cooperativas. O favorecimento de redes produtivas, além da consistência do sistema produtivo, é conseqüência de um planejamento que exige acompanhamento sistemático aos pequenos ou médios produtores. A fome deve ser superada com a qualificação profissional de jovens aptos para trabalhar nos sistemas modernos de produção. As verdadeiras reformas políticas devem convergir para o desenvolvimento produtivo. O mercado de trabalho é suficientemente farto para acolher jovens, desde que sejam habilitados adequadamente. Essa é que é a verdade!

Nesse sentido, remetemo-nos ao exemplo do Ceará, onde o Ministério da Educação (ME) está potencializando o Instituto Federal de Educação Tecnológica (Ifet), consolidando a educação profissional de jovens. O Ifet terá abrangência estadual. Garantirá a interiorização do ensino técnico no Estado, por extensão. Inclui-se na grade o saber fazer, as habilidades. Proporcionará conhecimento e experiência à massa de jovens que devem ser inseridos no mundo do trabalho. Hoje é indispensável o empoderamento de novos conhecimentos, providos de modernos recursos tecnológicos para se garantir a produção com qualidade e a absorção do que se produz.

O Ifet surge com a estrutura de dez “Cefets” a serem instalados em dez municípios, com dez Unidades de Extensão Tecnológica (Uned), ademais de Núcleos de Informação Tecnológica (Nit) e 40 Centros de Inclusão Digital (CID) instalados em 40 distritos de 18 municípios. As unidades de ensino se programam para atender a demanda de conhecimento reclamada pela região, permanentemente colocada a serviço dos planos de desenvolvimento do Estado. Esse investimento pela educação dos jovens proporcionará um real desenvolvimento do Estado.

Trata-se de um investimento de cunho político que possibilita novos níveis de desenvolvimento. Coloca-se o ser humano no centro das prioridades.

O maior e melhor capital é o humano, oferecendo dignidade e respeito à vida, à história. Supera-se assim a mentalidade mesquinha e atrasada de pintar o Nordeste como região pobre, desfavorável, desguarnecida. Se o Estado incutir uma nova mentalidade produtiva, formará jovens para enfrentar a vida! A produção de alimentos caminhará doravante com a produção tecnológica. Nosso futuro depende, pois, de investimentos na profissionalização de jovens.

De onde vêm os recursos? Havendo projetos, há recursos federais, por sua vez garimpados de fundos mundiais. É preciso apresentar projetos sérios, em parceria com as universidades. O semi-árido nordestino exige o progresso, desde que seja priorizada a cidadania, não a demagogia do choramingo nem da dependência da corrupção, velha tática do atraso. A verdade é essa gente!

Dom Aldo Di Cillo Pagotto

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