A abertura do Tapiri Ecumênico e Inter-Religioso, nesta quarta-feira, 12 de novembro, em Belém (PA), foi marcada pela primeira mesa de debates, coordenada pelo padre Dário Bossi, assessor da Comissão Episcopal para a Ação SocioTransformadora da CNBB, sobre o tema “Justiça climática, democracia e direito à vida: diálogos inter-religiosos por justiça socioambiental.”
Durante o encontro, foram apresentados materiais pastorais de apoio para situações de conflito relacionadas à mineração, além da campanha de desinvestimento em empreendimentos de alto impacto. A proposta convida comunidades e instituições de fé a “desempoderar os bancos” e fortalecer os territórios.
A mesa contou com a presença de membros das Comissões da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), e de lideranças e articuladores dos territórios amazônicos, o que reforçou o caráter local e participativo do Tapiri como um espaço de convergência entre espiritualidade, território e ação.

Vozes e reflexões pela justiça climática
Dom Vicente Ferreira, presidente da Comissão para a Ecologia Integral e Mineração da CNBB, alertou para as “contradições sistêmicas” e para a manipulação de discursos em torno da sustentabilidade:
“Agora tudo virou ‘verde’ – até a mineração. A economia que mata não pode apresentar-se como solução” (…). Se a ecologia integral não nos convencer a darmos as mãos no diálogo inter-religioso, nada mais vai nos convencer.”
Dom Vicente também destacou o protagonismo das comunidades atingidas:
“A defesa da casa comum parte desde baixo, desde o barro, com os atingidos no centro.”
A bispa Marinez Bassotto, da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, destacou a centralidade espiritual da criação e o sentido de pertença amazônico.
“Nós existimos com tudo o que existe. Se não nos dermos conta disso, não vamos existir” (…). Deus não está fora da criação – Ele está na criação. É hora de revermos a imagem que fazemos do Criador.”
Ela também ressaltou que a atuação das igrejas na Amazônia é marcada pela cooperação:
“Nada fazemos sozinhos: nossas ações na Amazônia são sempre em parceria – com a REPAM, Cáritas, Ministério Público, Defensoria, movimentos e outras tradições religiosas.”
O pesquisador Luiz Felipe Lacerda, do Observatório Nacional de Justiça Socioambiental, apontou a dimensão civilizatória da crise ecológica e a importância do diálogo entre tradições de fé:
“Dessacralizamos a natureza e a transformamos em mercadoria. O diálogo inter-religioso é ferramenta potente para reconectar as pessoas ao sagrado da criação e reparar a democracia.”
Ele destacou quatro agendas convergentes das comunidades de fé: revisão da dívida externa do Sul Global, fortalecimento do Fundo de Perdas e Danos, transição energética justa e sistemas alimentares baseados na agroecologia. Sobre o Acordo de Escazú, foi enfático:
“É uma vergonha o Brasil ainda não ter ratificado o Escazú. Precisamos de um movimento forte para proteger defensores e garantir transparência.”
Já o pastor indígena Josias Caeté trouxe uma leitura ecoteológica e ancestral, ressaltando que o rompimento com os saberes dos povos tradicionais está na raiz da crise socioambiental.
“Precisamos de um novo encontro com a criação, a partir do respeito às cosmologias e à teia da vida”, afirmou.
Confira a transmissão desta quarta-feira na íntegra:
Tapiri: fé, território e compromisso com a Casa Comum
O Tapiri se consolida como um espaço de diálogo, espiritualidade e incidência pública, que reúne comunidades de fé, lideranças tradicionais e organizações sociais em defesa da vida na Amazônia e no planeta.
O evento integra a programação da Cúpula dos Povos rumo à COP30 e acontece de 11 a 16 de novembro de 2025, na Catedral Anglicana de Santa Maria, em Belém (PA). O encontro reúne lideranças de diversas tradições religiosas, povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais, movimentos sociais e juventudes do Brasil e de outros países, em busca de alianças por uma ecologia integral e justiça climática.
Com informações da Repam Brasil
