A Via Sacra é um exercício de piedade especialmente adequado ao tempo da Quaresma. Assim como em várias partes do mundo, os fiéis brasileiros nutrem com muito apreço esta prática da meditação da Paixão e Morte de Jesus durante a preparação para a Páscoa. Um dos materiais oferecidos pela Edições CNBB para este período, em sintonia com a Campanha da Fraternidade, é o subsídio para meditar, em comunidade, a Via Sacra.
No material, o convite é meditar com piedade os passos da Paixão, morte e Ressurreição de Jesus, como discípulos missionários. Iluminados por esse Mistério, todos podem se “comprometer com a construção de um mundo melhor”.
De acordo com o Diretório sobre a Piedade Popular e a Liturgia da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, entre os exercícios de piedade com os quais os fiéis veneram a Paixão do Senhor, “há poucos que sejam tão estimados como a Via Sacra. Através deste exercício de piedade, os fiéis recorrem, participando com seu afeto, o último trecho do caminho percorrido por Jesus durante sua vida terrena”.
O mesmo documento ensina que no exercício de piedade da Via Sacra confluem diversas expressões características da espiritualidade cristã: “a compreensão da vida como caminho ou peregrinação; como passo, através do mistério da Cruz, do exílio terreno à pátria celeste; o desejo de conformar-se profundamente com a Paixão de Cristo; as exigências da sequela Christi, segundo a qual o discípulo deve caminhar atrás do Mestre, carregando cada dia sua própria cruz (cfr. Lc 9,23)”.
Meditando a Via Sacra
O subsídio da Via Sacra oferecido pela Edições CNBB indica que o momento de meditação seja feito com a Cruz levada à frente dos participantes, com uma faixa de tecido branco nos braços simbolizando a Ressurreição de Jesus, acompanhada de velas acesas. Após acolhida, são meditadas e rezadas as 14 estações da condenação e passos até a morte e sepultamento de Jesus, finalizada com a Ressurreição.
A cada estação, a invocação “Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos!” com a resposta “Porque, pela vossa Santa Cruz, remistes o mundo!”. Esta oração é seguida de duas reflexões sobre o momento narrado no caminho da cruz. Em seguida, uma súplica do grupo.
O momento é encerrado com as orações do Pai-Nosso, Ave-Maria e Glória ao Pai, seguido de uma estrofe do canto “A morrer crucificado”. Na última estação, os fiéis cantam “Vitória, tu reinarás! Ó cruz, tu nos salvarás!”.
Os colaboradores da sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília (DF), participaram, nesta sexta-feira, 6 de março, do momento de meditação da Via Sacra, dentro da proposta da entidade para a vivência deste tempo quaresmal.
Confira as outras fotos da meditação em flickr.com/cnbbnacional
Via Sacra na Campanha da Fraternidade
O assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Leonardo José Pinheiro, comenta que a relação entre a meditação da Via Sacra e a Campanha da Fraternidade deve ser observada a partir do lema bíblico “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,34-35).
“Meditar a Via Sacra neste Tempo da Quaresma, meditando a Campanha da Fraternidade com este lema de inspiração, é um convite a aprofundar aquilo que se faz durante os exercícios da Via Sacra. Também na Via Sacra nós somos convidados a ver os quadros, aquilo que a representação das estações quer nos convidar a recordar e a lembrar. Portanto, ao ver os quadros das estações da Via Sacra, somos convidados a ter a compaixão, a sentir da mesma forma com o coração, a compadecer-se daquele mistério que a estação nos propõe”.
Padre Leonardo explica que, a partir dessa compaixão, dessa meditação, há o convite a agir: “O que aquela estação, aquela cena, me convida a ter uma ação na minha vida? A Via Sacra nos inspira nisso, contemplar a cena, compadecer-se a partir daquilo que ela me convida, e, portanto, cuidar para que a minha vida possa ser uma continuação daquilo que aquela cena da Via Sacra me inspira”.
Segundo o arcebispo de Montes Claros (MG), dom João Justino de Medeiros Silva, a CF é um dispositivo pastoral para a evangelização na Quaresma, “‘tempo favorável para sairmos de nossa alienação existencial causada pelo pecado’”, cita uma fala do Papa Francisco. A indicação, segundo dom João Justino, é que “deixemo-nos interpelar pelos que estão à beira do caminho – e são tantos! – aguardando nossa compaixão. Vamos sensibilizar nosso coração, habituado a ver tanta pobreza e miséria que já não se compadece. Deixe que a palavra de Jesus conduza tua conversão nesta quaresma: ‘Vai e faze tu a mesma coisa’”.
Dom Vital Corbellini, bispo de Marabá (PA), comenta que a CF “ensina-nos a termos o olhar de Cristo em relação aos necessitados para que todos tenham vida em abundância, assim como Ele no-lo concedeu pelo sacrifício da cruz e de sua ressurreição”.
E propõe: “Vivamos bem a quaresma em preparação à Páscoa do Senhor, na qual Ele venceu o pecado e a morte para ressurgir e caminhar conosco até o final da história. Vivamos bem este período também pela participação em grupos de famílias, na reflexão do tema da Campanha da Fraternidade, pela vida familiar, comunitária e social e no testemunho de vida seguindo o Senhor Jesus para passar de sua morte à ressurreição”.
A “Via Sacra” como exercício de piedade
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Entre os exercícios de piedade com os quais os fiéis veneram a Paixão do Senhor, há poucos que sejam tão estimados como Via Sacra. Através deste exercício de piedade, os fiéis recorrem, participando com seu afeto, o último trecho do caminho percorrido por Jesus durante sua vida terrena: do Monte das Oliveiras, onde no “horto chamado Getsemani” (Mc 14,32) o Senhor foi “tomado de angústia” (Lc 22,44), até o Monte Calvário, onde foi crucificado entre dos ladrões (cfr. Lc 23,33), ao jardim onde foi sepultado em um sepulcro novo, escavado na rocha (cfr. Jn 19,40-42). Um testemunho do amor do povo cristão por este exercício de piedade são as inúmeras Via Sacras erigidas nas igrejas, nos santuários, nos claustros e inclusive ao ar livre, no campo, ou na subida de uma colina, à qual as diversas estaciones lhe conferem uma fisionomia sugestiva.
- A Via Sacraé a síntese de várias devoções surgidas desde a alta Idade Média: a peregrinação a Terra Santa, durante a qual os fiéis visitam devotamente os lugares da Paixão do Senhor; a devoção às “quedas de Cristo” sob o peso da Cruz; a devoção aos “caminhos dolorosos de Cristo”, que consiste em ir em procissão de uma Igreja a outra na memória dos passos de Cristo durante sua Paixão; a devoção às “estações de Cristo”, isto é, aos momentos nos quais Jesus se deteve durante seu caminho ao Calvário, ou porque lhe obrigam seus carrascos ou porque está exausto pelo cansaço, ou porque, movido pelo amor, trata de envolver um diálogo com os homens e mulheres que assistem a sua Paixão.
Em sua forma atual, que está já testemunhou na primeira metade do século XVII, a Via Sacra, difundido sobretudo por São Leonardo de Porto Mauricio (+1751), foi aprovada pela Sé Apostólica, dotada de indulgencias e consta de catorze estações.
- A Via Sacra é um caminho traçado pelo Espírito Santo, fogo divino que ardia no peito de Cristo (cfr. Lc 12,49-50) e o impulsionou até o Calvário; é um caminho amado pela Igreja, que tem conservado a memória viva das palavras e dos acontecimentos dos últimos dias de seu Esposo e Senhor.
No exercício de piedade da Via Sacra confluem também diversas expressões características da espiritualidade cristã: a compreensão da vida como caminho ou peregrinação; como passo, através do mistério da Cruz, do exílio terreno à pátria celeste; o desejo de conformar-se profundamente com a Paixão de Cristo; as exigências da sequela Christi, segundo a qual o discípulo deve caminhar atrás do Mestre, carregando cada dia sua própria cruz (cfr. Lc 9,23)
Por tudo isto, a Via Sacra é um exercício de piedade especialmente adequado ao tempo da Quaresma.DIRETÓRIO SOBRE A PIEDADE POPULAR E A LITURGIA