Tempo de Quaresma e tempo da Romaria da Terra

Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

 

Caros diocesanos. Saúda-vos vosso Irmão-Bispo, desejando muita Paz e Bem. Estamos para iniciar a quaresma como preparação à Páscoa. Na véspera deste novo tempo litúrgico, em pleno dia de carnaval, acontece a 44ª Romaria da Terra, em Ilópolis/RS, região de nossa diocese de Santa Cruz do Sul. Já refletimos sobre este evento em outras mensagens, destacando o tema: “Agricultura Familiar e Agroecologia: Sinais de Esperança” e o lema: “Irmãos e Irmãs, cuidemos da Mãe Terra”.

Estamos também para iniciar mais uma Campanha da Fraternidade, a campanha de sermos mais irmãos e irmãs, e que indica um dos aspectos da vida em que desejamos ser fraternos. Em 2022, o tema estará ligado à educação. A Liturgia da Palavra deste tempo convida os cristãos a reavivar a graça do seu Batismo, quando nos tornamos filhos e filhas de Deus, irmãos e irmãs em Jesus Cristo. Portanto, somos da mesma família, participamos da mesma comunidade, da mesma Igreja. Tentamos resgatar o espírito da fraternidade universal, desejo manifestado por Deus em toda História da Salvação. Desde a criação da pessoa humana, à imagem e semelhança de Deus, e da criação do mundo, quando Deus viu que tudo era bom (cf. Gn 1, 10). Havia maravilhosa harmonia entre os seres humanos e entre estes com as criaturas. Esta convivência pacífica e fraterna chamamos “paraíso”, do qual sentimos saudade em nosso íntimo. É uma saudade da harmonia perdida, uma saudade da imagem e semelhança, distanciada do Criador, uma profunda vontade de viver a paz original, maculada pelo pecado humano. A quaresma é um tempo especial de volta ao essencial, de conversão para o projeto do Criador, o projeto da vida, em Deus.

Também o mundo criado faz parte desta harmonia perdida. O desrespeito à ordem natural da vida provoca o desequilíbrio ecológico. E nossa casa comum do mundo criado fica desorganizada. A pessoa humana, por sua liberdade e inteligência, participa da criação e da transformação da vida, especialmente pela ciência e pela técnica, mas ela deve acontecer dentro das orientações de Deus, para valorizar e dignificar a vida. Portanto, uma cultura da vida que busca o bem comum, fundamentada nos valores evangélicos da justiça, do amor e da fraternidade universal. O que não pode acontecer é a opção por uma cultura de morte: egoísta e interesseira em relação à vida. Esta visa aumentar avidamente as posses, o poder e o prazer, fora da ótica do bem comum.

Seja o tempo da nossa romaria da terra mais uma oportunidade de valorizar o ser fraterno, de caminharmos juntos como povo de Deus, como Irmãos/ãs que cuidam da Mãe Terra e apresentem sinais de esperança através da agricultura familiar e da agroecologia. Que a cultura da erva-mate, transmitida pelos nossos irmãos indígenas e seu rico simbolismo, faça circular sempre mais a cuia da amizade e da fraternidade entre nós. Este espírito fraterno e sinodal (caminhar juntos) faça rezar com espírito universal como S. Francisco de Assis: “Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas; especialmente, com o senhor irmão sol, o qual é dia, e por ele nos alumias. E ele é belo e radiante, com grande esplendor, de ti, Altíssimo, é sinal. Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã lua e as estrelas, que no céu formaste claras, preciosas e belas. Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento, pelo ar e pelas nuvens, pelo sereno e todo tempo, pelo qual às tuas criaturas dás sustento. Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água, que é mui útil e humilde e preciosa e pura. Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão fogo, pelo qual iluminas a noite. E ele é belo, jucundo e robusto e forte. Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã e mãe terra, que nos sustenta e governa, e produz diversos frutos e coloridas flores e ervas…”.  Com votos de boa romaria e abençoada quaresma.

 

 

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