Teologia das Religiões


Obra indicada:

DUQUOC, Christian. O único Cristo: a sinfonia adiada. São Paulo, SP; Paulinas, 2008. 181 p.

Autor (breve apresentação) :

Domincano francês, nascido em 1926, por muito tempo professor de teologia na Universidade Católica de Lyon. Autor de vários livros, bastante conhecido na Europa e também no Brasil através de vários livros e artigos em periódicos respeitáveis como a Revista Concilium.

Sinopse:

Trata-se de uma obra corajosa. O autor é um cristólogo conhecido. Por isso sua abordagem do diálogo inter-religioso e de uma possível teologia cristã das religiões parte tem um enfoque cristológico. Numa longa introdução à obra, ele recoloca a concepção da continuidade-descontinuidade entre entre a tradição judaica e a cristã a partir da pessoa de Jesus de Nazaré e da interpretação que a comunidade primitiva fez desse fato. A preeminência de Cristo é claramente atestada no Novo Testamento. Resulta impossível para a fé cristã admitir a perfeita simetria entre a revelação crística e as revelações possivelmente portadas por outras tradições religiosas. Por isso, nenhuma teologia das religiões pode ser feita sem partir do ponto crucial do cristianismo, a cristologia. A única mediação de Cristo precisa ser reinterpretada. O autor propõe uma cristologia capaz de assumir a dispersão religiosa atual positivamente e como expressão da legitima variedade das buscas do Absoluto. A obra está estruturada em quatro partes. A primeira se dedica a analisar a ruptura e a aliança. A partir da pessoa de Jesus, rever a cisão entre o judaísmo e cristianismo como uma maneira de continuidade das duas grandezas face a face. A segunda parte reflete sua principal hipótese: as religiões em fragmentos correspondem a um querer divino. Esse enfoque tem o mérito de chamar a reflexão teológica sobre as religiões ao âmbito propriamente cristão. O autor alerta que a grande dificuldade dos teólogos cristãos das religiões está em descobrir um ponto de convergência possível entre as várias experiências religiosas existentes. O limite de tais teologias estaria na tentativa de se chegar a esse ponto comum, o que, na visão do autor, resulta improvável.

Considerar as religiões como fragmentos implica em atribuir-lhes sentido em si mesmas. Cada religião é um todo, embora se apresente como fragmento. Aceitar que o fragmento permanece fragmento é a maneira de tomar conhecimento da multiplicidade de religiões. Para isso não é necessário renunciar às próprias convicções, mas à pretenção de uma realidade unificadora.

A terceira parte reflete as implicações da compreensão do Cristo cósmico no atual contexto plurireligioso. É possível ainda sustentar um sentido crístico da história e do cosmo? Ai a presença obscura do Reino e o papel de Cristo no desenrolar do tempo são analisados.

A quarta parte dedica-se a analisar o que o autor chama a divisão fecunda. Aqui se propõe a encará-las positivamente, ao invés de deplorá-las. O autor recorre a uma fundamentação pneumatológica para sustentar sua hipótese de o todo estar contido nos fragmentos. O Espírito de Cristo não tem fronteiras definidas. Cabe-lhe desvelar o que se desenrola na história submetida ao poder do Ressuscitado. Somente essa ação do Espírito pode fazer de Jesus, o judeu, o Cristo universal. Então, “os fragmentos permanecem fragmentos, embora Cristo seja o alfa e o ômega (Ap 22,12-13)”. O autor utiliza a metáfora da sinfonia para entender a coexistência de várias tradições religiosas como o resultado da ação de Deus que, qual um maestro habilidoso, consegue retirar de cada instrumento o seu máximo. A sinfonia, no entanto, é apresentada em termos escatológicos. Por enquanto, no tempo, ela não chegará a sua execussão plena.

Partes principais da obra:

1. Parte I – a ruptura

1. O laço desfeito (O Messias e a cidade; o mediador e a Torá; a eleição e salvação dos pagãos).

2. A aliança revisitada (A vida afirmada; a existência solidária; a lei comum; Deus familiar).

2. Parte II – As religiões em fragmentos

1. A libertação redefinida

2. Deus manifestado

3. A unidade repensada

3. Parte IV – A divisão fecunda

1. O Espírito e o desvelamento (Um movimento sem origem e nem fim; o Espírito, fonte de amor; o Espírito subsiste pela palavra; o desvelamento: a divisão e a promessa).

2. De Jesus, o judeu, ao Cristo universal

3. A sinfonia adiada

Por que essa obra é relevante (justificar):

Considero a obra relevante por sua abordagem positiva da pluralidade religiosa. O múltiplo pode ser considerado como querido por Deus. As reflexões apresentadas no livro ajudam a pensar a pluralidade real como algo que aponta para além da imediaticidade. Para algo cujo sentido último nos escapa. Parece ser um bom caminho para continuar a pesquisa.

Responsável pelas informações (nome/ diocese ou instituição em que atua):

Pe. Carlos Antonio da Silva – IFITEPS, Nova Iguaçu, RJ

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