Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ) 

 

 

A Cruz revela a estupenda, desconcertante, fidelidade de Deus: nela descobrimos o verdadeiro nome do nosso Deus. E o seu nome é Fidelidade, o seu nome é Amor. Primeiramente fidelidade e amor do Pai em relação ao Filho. Ao Filho amado que se entregou ao Pai por nós, Deus-Pai o ressuscitou e deu-lhe toda glória. É o que anuncia a primeira leitura de hoje – At 3,13-15.17-19 –: “O Deus de nossos Pais glorificou o seu servo Jesus. Vós matastes o Autor da Vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos!” O Filho, entregue ao Pai com toda a confiança e todo o abandono, o Filho, feito homem de dores, agora é glorificado pelo Pai e colocado no mais alto da glória. Deus jamais abandona os que a ele se confiam. Podemos imaginar o Senhor Jesus dizendo as palavras do Salmo de hoje: “Eu tranquilo vou deitar-me e na paz logo adormeço, pois só vós, ó Senhor Deus, dais segurança à minha vida!” (Sl 4,9) 

Tudo quanto aconteceu com o Filho na cruz foi por nós, para nossa salvação, para que o nosso pecado, a nossa situação de miséria, encontrasse expiação. Eis como a Palavra de Deus deste hoje insiste nisso: “Se alguém pecar, temos junto do Pai um Defensor: Jesus Cristo, o Justo. Ele é a vítima de expiação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos do mundo inteiro” (1Jo 2,1-2). E o próprio Jesus afirma no Evangelho que “no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações” (Lc 24,47). Meus caros em Cristo, na Cruz e ressurreição do Senhor, Deus, amorosamente nos concedeu o perdão dos pecados! 

O Evangelho (Lc 24, 35-48) narra mais uma aparição de Jesus ressuscitado aos discípulos que têm muitas dúvidas e estão atônitos. Cristo vai ao encontro deles para fortalecer-lhes a fé e dizer-lhes: “Vós sereis testemunhas de tudo isso” (Lc 24,48). 

Deus nos convoca para celebrar a Eucaristia e Jesus nos confia a missão de dar testemunho de sua Ressurreição a todos os povos: “Vós sereis testemunhas de tudo isso!” E o Apóstolo Pedro, deixando de lado o medo, com muita coragem diz: “Vós o matastes, mas Deus o ressuscitou dos mortos, e disso nós somos testemunhas!”. A Ressurreição do Senhor não é um fato antigo! Ele ressuscitou nesta Páscoa e nós – os discípulos de hoje, somos constituídos testemunhas vivas desta vitória de Jesus. 

O povo pensava que a morte de Jesus era problema dos sacerdotes e Mestres da Lei; mas Pedro, apontando seu dedo de pescador, disse: “Vos o renegastes… vós o matastes; por isso, arrependei-vos e convertei-vos para serdes perdoados!”. Para ser salvo é necessário crer na Ressurreição de Jesus e observar seus mandamentos! Quem afirma que ama a Deus mas não observa seus mandamentos é falso (1Jo 2,1-5). 

Jesus ressuscitou, mas seu corpo é glorioso; por isso, Jesus precisou insistir com seus discípulos, mostrou-lhes as mãos e os pés perfurados e come um pedaço de peixe assado. Abriu-lhes a inteligência para entender as Escrituras e dar testemunho de sua Ressurreição. 

A Ressurreição de Jesus é um artigo de fé, ou seja: precisamos da luz do Espírito Santo para crer nela e para testemunhá-la. Jesus precisou iluminar a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras e dar testemunho de sua Ressurreição. Os Apóstolos falam de Jesus ressuscitado com toda a clareza e coragem: “Nós somos testemunhas de tudo isso!”. 

A fé é um dom do Espírito Santo, e os Apóstolos sentem-se iluminados e fortalecidos com sua presença e cumprir missão recebida: “Deste fato nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus deu àqueles que lhe obedecem!” (At 5,32). Existe um testemunho oficial, próprio da hierarquia (bispos e sacerdotes), mas existe, também, um testemunho que o Espírito Santo suscita no coração de todos os batizados. Diz o Concílio Ecumênico Vaticano II que: “Cada leigo deve ser diante do mundo uma testemunha da ressurreição e da vida de Jesus!” (LG 38). 

A Sagrada Escritura fala do sofrimento e da ressurreição do Messias, mas, para entender esta promessa, precisamos da luz do Espírito Santo. Jesus precisa abrir e iluminar para entender a Palavra de Deus. Aliás, Jesus havia prometido o Espírito Santo para recordar e entender seus ensinamentos. (Jo 14,26;16,13-14). 

 

 

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