Todos irmãos – Parte V

Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta (RS)

 

            Com o capítulo “Percursos de um novo encontro”, o Papa Francisco, na Carta Encíclica Fratelli Tutti (Todos Irmãos), aponta os caminhos a serem construídos para um novo mundo. Faltam “percursos da paz” e “artesãos da paz” (FT, n. 225), “prontos a gerar, com inventiva e ousadia, processos de cura e de um novo encontro” (FT, n. 225). Sempre partir da verdade, “nua e crua” (FT, n. 226), pois esta é uma companheira da justiça e da misericórdia.

            Os percursos concretos para a paz partem da verdade, do “sentimento basilar de pertença” (FT, n. 230), de “ver o adversário político ou o vizinho de casa com os mesmos olhos com que vemos os filhos, esposas, maridos, pais ou mães, como seria bom!” (FT, n. 230). Na busca da paz, “os últimos da sociedade foram ofendidos com generalizações injustas. Se às vezes os mais pobres e os descartados reagem com atitudes que parecem antissociais, é importante compreender que em tais casos, tais reações têm a ver com uma história de desprezo e falta de inclusão social” (FT, n. 234).

            Importante recordar que “o perdão e a reconciliação são temas de grande relevo no cristianismo” (FT, n. 237). “Somos chamados a amar a todos, sem exceção, mas amar um opressor não significa consentir que continue a ser tal; nem leva-lo a pensar que é aceitável o que faz” (FT, n. 241). Porém, pelo contrário, amar alguém assim “é procurar, de várias maneiras, que deixe de oprimir, tirar-lhe o poder que não sabe usar e que o desfigura como ser humano” (FT, n. 241). O diálogo e as negociações são importantes, visto que “a verdadeira reconciliação não escapa do conflito, mas alcança-se dentro do conflito” (FT, n. 244).

            Ainda para a construção da paz, não se pode exigir uma espécie de perdão social. “A reconciliação é um fato pessoal, e ninguém deve impô-la ao conjunto duma sociedade, embora a deva promover. […] Mas não é possível decretar uma ‘reconciliação geral’, pretendendo encerrar por decreto as feridas ou cobrir as injustiças com um manto de esquecimento” (FT, n. 246). Nunca se deve propor o esquecimento, diz o Papa. Mas, sim, recordar e contar as histórias verdadeiras, pois “é muito salutar fazer a memória do bem” (FT, n. 249). O perdão é sempre gratuito, sempre. “Pode-se perdoar até a quem resiste ao arrependimento e é incapaz de pedir perdão” (FT, n. 250). Com o perdão “busca-se a justiça sem cair no círculo da vingança e nem na injustiça do esquecimento” (FT, n. 252).

            Enfim, o Papa apresenta a guerra e a pena de morte. “Toda a guerra deixa o mundo pior do que o encontrou. A guerra é um fracasso da política e da humanidade, uma rendição vergonhosa, uma derrota perante as forças do mal” (FT, n. 261). Convida a que consideremos as vítimas da guerra, com o coração aberto. Ainda, “como o dinheiro usado em armas e noutras despesas militares, constituamos um Fundo mundial, para acabar de vez com a fome e para o desenvolvimento dos países mais pobres” (FT, n. 262). Outro ponto é a pena de morte, recordando São João Paulo II, que “a mesma é inadequada no plano moral e já não é necessária no plano penal […] Hoje, afirmamos com clareza que a pena de morte é inadmissível e a Igreja compromete-se decididamente a propor que seja abolida em todo o mundo” (FT, n. 263). A Igreja, isto é, todos nós católicos, temos uma importante missão neste mundo: construir novos encontros e buscar a paz!

 

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