Todos os batizados são chamados à santidade

Dom Romualdo Matias Kujawski
Bispo Diocesano de Porto Nacional (TO)

“Antes, como é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos, também vós, em todo o vosso proceder. Pois está na Escritura: Sede santos porque eu sou santo.” (I Pd1, 15-16)

O nosso Papa Francisco, no dia 19 de Março deste ano (Festa de São José), nos ofereceu a belíssima e interessante Exortação Apostólica: Gaudete et exultate, (Alegrai-vos e exultai),  que trata sobre urgência da santidade no mundo de hoje.

“A santidade é o rosto mais belo da Igreja” (nº 9). Nos dias de hoje, nós também podemos ser santos?

Francamente, após a leitura da Exortação, meu coração fica inquieto com um certo pensamento:  Jesus, ao visitar a casa de Lázaro em Betânia, não desrespeitou com suas palavras Marta, mas apenas disse que sua irmã, Maria, havia escolhido a melhor parte (Conf. Lc 10,38-42). Observando nosso quotidiano, com tantas atividades, podemos encontrar dentro de nós um pouco de Marta e de Maria. Por que então sempre enfatizamos o errado que fizemos, e a Santidade não se torna o apelo mais íntimo na nossa vida de batizado(a)? Queiramos acolher Jesus em nossas casas, assim como Maria e Marta, assumindo nossas tarefas, sendo verdadeiramente “sal da terra e luz do mundo” (nº 33).

Para tornar-se santo, no meio das pessoas no mundo de hoje, é necessário tão pouco!

Retornando à mencionada Exortação Apostólica, vale a pena salientar algumas observações do Papa Francisco: Quais são os inimigos da santidade de hoje?

Primeiro é o nosso subjetivismo e gnosticismo, que se manifestam nas atitudes, que descartam o mistério na fé: existem pessoas que preferem “um Deus sem Cristo, um Cristo sem Igreja e uma Igreja sem povo” (nº 37). Mas a verdadeira sabedoria cristã, contemplando o mistério de Deus conosco nunca “se deve desligar da misericórdia para com o próximo” (nº 46).

O Segundo inimigo é o chamado pelagianismo, que se manifesta na rejeição da graça em nossas vidas. Neste sentido, as estruturas da Igreja começam escravizar, ao invés de nos levar à paz e à liberdade. Não podemos nos esquecer de que sempre o primeiro e o último passo pertencem a Deus.

No sentido positivo sobre a santidade, o Papa insiste, interpretando as bem-aventuranças que sejamos “a luz do Mestre”:

– “Ser pobre de coração: isto é Santidade!” (nº 70).
– “Reagir com humilde mansidão: isto é Santidade!” (nº 74).
– “Saber chorar com os outros: isto é Santidade!” (nº 76).
– “Buscar a justiça, com fome e sede: isto é Santidade!” (nº 79).
– “Olhar e agir com misericórdia: isto é a Santidade!” (nº 82).
– “Manter o coração limpo de tudo o que mancha o amor: isto é Santidade!” (nº 86).
– “Semear a paz ao nosso redor: isto é Santidade!” (nº 89).
– “Abraçar diariamente o caminho do Evangelho, mesmo que nos acarrete problemas: isto é Santidade!” (nº 94).

Vale a pena mencionar ainda alguns atributos bem naturais, que causam a leveza no caminho à Santidade, e que são ligados com o nosso comportamento: O Papa destaca a importância de fidelidade ao Mestre, nas obras da misericórdia para com o próximo, na rejeição das ideologias e do hedonismo. A Igreja Católica oferece, também, a força moral através do testemunho dos Santos (nº 109), os de toda a história, bem como os de nosso tempo.

Enfim, o santo no meio do mundo de hoje, é uma pessoa que tem a coragem de abrir o seu coração a Jesus, lançando fora o mau humor e a tristeza. Ela suporta os problemas com paciência e mansidão, e com a virtude de humildade adquire a fortaleza, por meio das humilhações e até mesmo das difamações midiáticas.

A espera da vinda definitiva de Jesus e de sua Vitória deve motivar a pessoa para sua atuação na Comunidade dos Batizados, à oração contemplativa, ao não isolamento com os outros, andando sempre na presença de Deus. Neste contexto, a abertura ao Espírito Santo, que nos concede os dons da Sabedoria e Discernimento, a vivência dos Sacramentos, de um modo particular a Eucaristia e Penitência, a leitura da Bíblia, a adoração ao Santíssimo Sacramento, se tornam um poderoso  combustível espiritual para nosso dia-a-dia.

Para quebrar o eventual orgulho pessoal, fortalecendo-se na humildade, o Papa Francisco nos lembra que “a santidade é um dom sobrenatural”, quer dizer “em suma, o discernimento leva à própria fonte da vida que não morre, isto é, conhecer o Pai, o único Deus verdadeiro, e a quem Ele enviou, Jesus Cristo (cf. Jo 17, 3)” (nº 170).  E no caminho à santidade, seguindo o exemplo de Jesus Cristo, temos que estar prontos também para aceitar “a lógica do dom da cruz”. (nº174)

Caros Irmãos e minhas Irmãs, quero incentivar a leitura da mencionada Exortação Apostólica, do nosso Papa Francisco. Sejamos como Marta e Maria, irmãs de Lázaro, que conseguiram submeter-se às palavras do Jesus.

Espero que as palavras de nosso Papa nos levem a refletir sobre a necessidade da santidade em nossos dias, como algo possível.

Nossa Senhora das Mercês, Padroeira de nossa Diocese de Porto Nacional, rogai por nós!

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