Dom Antonio de Assis Ribeiro
Bispo auxiliar de Belém do Pará (PA)
Dentre as solenidades litúrgicas da Igreja Católica está aquela dedicada a todos os santos que é celebrada no Brasil no primeiro domingo de novembro. Falar de santidade na cultura contemporânea, para muitos, parece um discurso fora de moda. Mas, na verdade, é o mais nobre chamado do Criador atrelado à vocação à Vida! Aquele que nos deu a vida nos chama à santidade através da prática do Amor (cf. Cl 1,21-23; Rm 1,2).
Muitos confundem santidade com pieguice, introversão, pietismo, alienação do mundo, negação da diversão, muita oração etc. Isso não é santidade! A santidade nada nega e nem oprime aquilo que é autenticamente humano. Santidade é a Vida divina em nós, sendo a sua essência a prática do Amor a Deus e ao próximo (cf. Lc 10,27-28).
Somos filhos de Deus partícipes da sua bondade, porque “Deus é amor” (1Jo 4,8). A santidade é a vivência do amor divino em nossa condição de filhos e filhas! Para nós criaturas, filhos e filhas de Deus, a santidade não significa perfeição e nem inocência. A perfeição é a ausência de limitação, falhas, defeitos. Mas nossa condição humana é marcada pela ambiguidade. Por outro lado, santidade também não se identifica com inocência, pois ela é pura ausência de culpa!
A santidade pressupõe a virtuosidade, ou seja, a vivência de um conjunto de virtudes que brotam do exercício da fé, traduzida no Amor a Deus e ao próximo. Não existe santidade sem virtudes! A prática das virtudes exige esforço, disciplina, luta pelo bem, dedicação, diligência, bons propósitos, justiça, honestidade, generosidade, respeito para com o outro… A Santidade é também Dom de Deus, pois é fruto do trabalho misterioso do Espírito de Deus em nosso interior que molda a nossa vontade, orienta nossa inteligência, dilata nosso afeto, forma a liberdade, sensibiliza a consciência!
São João Bosco educando seu discípulo adolescente Domingos Sávio certa vez lhe disse: “É necessário, possível e fácil ser santo! Três coisas são necessárias: cumprir bem os próprios deveres, ajudar os outros e estar sempre alegres”. Esses não são conselhos só para adolescentes, mas servem para todas as idades. A Santidade requer senso de responsabilidade, bondade e alegria! O santo não pode ser triste! (cf. Fl 4,4-5).
Não há santidade sem fraternidade. “Como escolhidos de Deus, santos e amados, vistam-se de sentimentos de compaixão, bondade, humildade, mansidão, paciência. Suportem-se uns aos outros e se perdoem mutuamente, sempre que tiverem queixa contra alguém. Cada um perdoe o outro, do mesmo modo que o Senhor perdoou vocês. E acima de tudo, vistam-se com o amor, que é o laço da perfeição” (Cl 1,12-15). O nível da nossa santidade depende da qualidade da nossa relação com os outros!
Somos marcados por muitos apelos mundanos que, muitas vezes, nos desviam do sentido da sua vida e seu fim último. Por isso o Papa Francisco, na Exortação Apostólica “Gaudete et Exsultate” (“Alegrai-vos e exultai”, 2018), falando da santidade reflete sobre a “corrupção espiritual” que é cômoda cegueira, autossuficiência, engano, egoísmo que atenta contra o sentido da vida (cf. N.165). Todavia, para todos os crentes permanecem os desafios bíblicos: “sejam santos, porque eu, o Deus de vocês, sou santo” (Lv 19,1-2); “sejam perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). Sabemos que isso é impossível; todavia, Deus quer que não nos acomodemos! A santidade é caminho e construção!
