Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro
Neste final de semana celebramos a Solenidade de São Pedro e São Paulo, duas grandes figuras da história da Igreja e dentre os apóstolos: a um foi confiado o pastoreio da Igreja. Outro, teve a oportunidade de receber o chamado de Deus numa situação contrária aos planos futuros: a conversão no caminho de Damasco, no contexto de perseguição dos cristãos. Dois grandes homens que entregaram suas vidas pela causa do Evangelho até o derramamento de seu sangue.
Sendo a festa de São Pedro, lembramos também hoje a figura do sucessor de Pedro, a figura do Papa. Pedimos ao Senhor que o abençoe, o livre de todo o mal, o defenda de seus inimigos e lhe conceda muitas alegrias nesta vida.
A vida destes dois grandes apóstolos é uma oportunidade de contemplar a vida de um que foi chamado por Jesus desde os primeiros momentos, que negou nos momentos da dificuldade, mas acolheu a misericórdia de Deus e foi chamado por Cristo para servir os irmãos. O outro, fiel aos princípios do Judaísmo e perseguidor da Igreja, cai por terra no caminho de Damasco e volta seu coração para Cristo. Ambos dois grandes evangelizadores, que através até mesmo do relato de suas debilidades e fraquezas nos incentivam a ser generosos no serviço do Senhor. Deus não escolheu nem escolhe homens perfeitos para trabalhar em seu Reino, mas sim homens dispostos a, em meio às experiências de suas debilidades e fraquezas, confiar no Amor Misericordioso de Deus.
Nesta festa, queremos lembrar a vida, o testemunho e a coerências destes santos que são popularmente chamados as colunas da Igreja. A Palavra de Deus que é proclamada nesta solenidade, vai mostrando exatamente alguns relatos ligados tanto à vida de Pedro como a de Paulo. O Evangelho (Mt 16,13-19) vai mostrar o momento em que Cristo confia a Pedro a missão de ser a Pedra onde a Igreja será edificada. A primeira leitura, tirada do livro dos Atos dos Apóstolos (At 12,1-11) vai mostrar a miraculosa libertação de Pedro em um de seus momentos de prisão, enquanto a Igreja rezava intensamente por ele. O Salmo de resposta (Sal. 33) como o refrão de todos os temores me livrou o Senhor Deus coloca a Igreja em oração a partir do que foi realizado na vida de Pedro conforme proclamado na primeira leitura. Para ressaltar também a figura de Paulo, a segunda leitura (2Tm 4,6-8.17-18) vai mostrar o relato do próprio apóstolo ante a iminência de deixar este mundo, trazendo a tão bonita passagem: Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé.
O Evangelho vai revelar uma realidade essencial tanto para Pedro como para Paulo: ambos são, antes de tudo, homens de fé e que proclamam Jesus Como Senhor. Estando na região de Cesaréia, após perguntar aos discípulos o que dizem os homens sobre o Filho do homem, pergunta pessoalmente a eles: E vós, quem dizeis que eu sou? De maneira inspirada e imediata, Pedro responde: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo, apresentando uma das profissões de fé mais emblemáticas de todo o Novo Testamento. Embora vemos relatado que Pedro dá uma resposta por meio de palavras, a vida de Pedro vai ser uma resposta viva a esta pergunta, deixando que a centralidade de Cristo seja a guia constante de seus passos. Esta questão permeia a história do Cristianismo e orienta a nossa fé, onde podemos dizer que esta pergunta se apresenta ainda hoje de várias formas diante de nós todas as vezes em que somos chamados a transformar a fé em vida. Na resposta de Pedro está resumido o que somos chamados a proclamar ao mundo em nossa missão evangelizadora. Esta resposta dada por Pedro não foi uma resposta fruto da iniciativa humana: como diz Jesus ante a resposta de Pedro: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu.” É Graça de Deus. É Dom do Senhor em nossos corações e em nossas vidas. Logo após, vem a proclamação importantíssima do primado de Pedro concedido pelo próprio Jesus: “Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”. (Mt 16,18). O povo de Deus tem agora um pastor escolhido pelo próprio Cristo. O texto do primado de Pedro é o que dá fundamento à missão de seus sucessores e da importância que ocupam. Esta profissão de fé orienta nossos passos, onde pedimos ao Senhor que nossas vidas sejam coerentes com aquilo que professamos.
A primeira leitura vai mostrar o relato miraculoso da libertação de Pedro enquanto este permanecia no cárcere. Vale a pena ressaltar quantas barreiras objetivas o texto faz questão e apresentar (quadro grupo de soldados com 4 guardas cada um, Pedro acorrentado entre dois soldados, portas da prisão onde se encontrava) e não esconde um detalhe exteriormente simples, mas que esconde a verdadeira força do que aconteceria: Enquanto Pedro era mantido na prisão, a Igreja rezava continuamente a Deus por ele. A proteção e a ação de Deus sempre foi e sempre serão maiores do que a aparente onipotência do mal.
Fazendo eco a este fato, é que o salmo responsorial coloca um canto de ação de Graças pela libertação que o Senhor realiza continuamente em favor dos seus, libertando-os de todos os temores.
A segunda leitura, vai destacar a fé de Paulo, onde dando recomendações a Timóteo e se aproximando do fim dos seus dias, reconhece as tantas vezes que o Senhor veio em seu socorro e manifesta a feliz esperança da recompensa que lhe está assegurado, mostrando que não foi em vão que padeceu diversos sofrimentos por causa de Cristo: O Senhor me libertará de todo mal e me salvará para o seu Reino celeste. A ele a glória, pelos séculos dos séculos! Amém. Paulo que destaca sua missão em levar o Evangelho de Cristo entre Judeus e pagãos, mesmo em meio a tantas lutas e perseguições, mostrando o quanto a perseverança, amparada pela fé, é realidade importante e necessária a todos nós.
Portanto, nestes dias em que já vamos nos preparando para retomar, com alegria, limitações e cautela, as celebrações presenciais, peçamos ao Senhor de sustentar nossa vida de fé, fortalecer a unidade da Igreja e nos fazer de maneira cada vez mais viva presença eficaz no meio do Mundo. São Pedro e São Paulo, rogai por nós!
