Creio eu que nossa dificuldade maior é que passamos despercebidos, frente à grande quantidade de ofertas na sociedade, nossas propostas eclesiásticas ficam num
segundo plano. E todos sentiram de alguma maneira que “nossa pastoral” não tem nem a força, nem a visibilidade, nem a articulação de anos atrás… E nos perguntamos: O que está acontecendo?
Levando em consideração as profundas transformações da sociedade e os avanços tecnológicos em todos os setores, experimentamos o próprio “despreparo” do momento presente. Não basta a profissionalização e a competência técnica, mas também a compreensão da evolução que a sociedade, o mundo, e as nossas pastorais estão sofrendo. Não compreendemos como nos lembrava o Evangelho nestes dias: “Vocês não podem compreender, porque é o espírito quem nos levará até a verdade plena”. Não compreendemos porque nossa verdade é parcial, fragmentada, setorizada. Assim como nosso conhecimento é parcial também a nossa Igreja esta fragmentada, setorizada, em pastorais que invadem os nossos regionais de atividades, ofertas e informações e como os que navegam na internet, nos perguntamos para qual pastoral clicamos? A qual dar prioridade? Para onde navegamos? E todas estas ofertas aonde nos conduzem? Como viver uma Igreja de comunhão nesta multiplicidade de ofertas?
A cultura da tecnologia e da comunicação atual é muito mais do que o “uso” dos meios de comunicação, ou mandar algum e-mail aos nossos coordenadores. Essa cultura perpassa toda a nossa vida, também nossa Igreja.
A Igreja esforçou-se para compreender os new-midia e progrediu na exigência de expressar-se com maior clareza e esse esforço continua, mas talvez, ainda não refletimos nem compreendemos uma verdade, uma realidade que paira no ambiente do século XXI: A cultura mediática é a cultura atual, sendo a comunicação o elemento articulador das mudanças em curso na sociedade atual. Se a comunicação é esse elemento essencial, que uso e reflexão fazemos nas nossas pastorais?
Há ofertas na internet: de retiros on-line, acompanhamento espiritual, até novenas nas quais você pode acender uma vela por uma semana. Diante dessas ofertas para alguns segmentos da nossa Igreja causa estranheza e duvida: Será esse o caminho da “nova evangelização”? É esse o uso que necessitamos dar aos meios de comunicação?
O texto do Papa Bento XXVI lançou para este dia: “não é suficiente usá-los (os meios) para difundir a mensagem cristã e o Magistério da igreja, mas é necessário integrar a mensagem nesta “nova cultura”, criada pelas novas comunicações”. A pergunta é : integramos nossa mensagem nessas novas culturas, nesta nova linguagem?
A comunicação se apresenta como elemento articulador da sociedade e nós continuamos querendo fazer encontros presenciais, articular os regionais.
“O campo da comunicação se apresenta desarticulado, conflituoso, e por vezes, confuso, em relação da velocidade e a complexidade com que se misturam mercado, tecnologia e necessidade do ser humano de relacionar-se”, e isso é o que todos nós sentimos nas nossas pastorais.
Nosso trabalho é uma “janela” mais que se abre e disponibiliza notícias, avisos e informações. E nosso desafio é como fazer para que nosso site seja visitado e crie interesse. Talvez é necessário reconhecer e dar um passo de humildade e de verdade e compreender que as fronteiras quebraram-se e é o internauta quem decide a fonte da qual bebe a sua intelectualidade e ética.
Mas também é verdade que criou um novo modo de relacionar-se:
A tecnologia, a internet, os e-mails, Outlook formam parte do quotidiano das pessoas. Os jovens- afirmam alguns estudos- passam até 8 horas no Messenger, mesmo que um jovem me confirmava este final de semana que passava mais incluindo as horas de trabalho. Nossa vida transcorre na frente de uma tela que forma nosso pensar e cria uma rede de comunicações.
Os consumidores da tela são incentivados a procurar informações e fazer conexões em meio a conteúdos midiáticos dispersos. Trata-se de uma “cultura participativa”, onde os internautas interagem de acordo com seu conjunto de regras que nenhum de nós entende por completo. E O que nós propomos esta em direção contrária dessa cultura vigente: encontros onde os assuntos são definidos, as formas de participação são presenciais, com palestras ou reflexões prontas. Atualmente o jovem quer elaborar o seu próprio pensamento, investigar. Porque não ter um laboratório? Chamar jovens consumidores de internet, técnicos e pastoralistas e elaborar um novo projeto para a nossa pastoral? Buscar “odres novos” para o “vinho novo” da cultura atual?
Porque não criar odres novos de dialogo, espaços abertos não definidos de dialogo onde o vinho possa fermentar no escuro da adega do não- determinado, do não- conhecido, do tempo novo do amanhecer que ainda esta por vir? É tempo de fermentar nossa pastoral nas adegas do pensamento e da realidade confusa atual e não mostrar apressadamente o que ainda não é, nem foi elaborado. Estamos em processo.
O mundo esta em um clique, pelo que se encontram informações e também excessos, a escolha a incerteza, a manipulação de dados, imagens, sons, as conexões através de web, a informações de comunidades virtuais, oportunidades de protesto. E algo importante neste processo que é preciso enfatizar é a transformação comunicacional:
“Nas múltiplas formas de conhecer, ser e estar- portanto, nos usos das novas tecnologias” a mente, a afetividade e a percepção são agora estimuladas, não apenas pela razão ou imaginação, mas também pelas sensações, imagens em movimento, sonoridades efeitos especiais, visualização variada só impossível, encenação de outras lógicas possíveis de construir realidades e se construírem sujeitos” – BORELLI, Silvia; FREIRE FILHO, “Culturas juvenis no séc.XXI”. São Paulo.
Nossos encontros, nossa maneira de apresentar não atingiu a velocidade, nem os outros âmbitos da imaginação, a sensação, e a afetividade. Assistindo o filme “Anjos e demônios” fiquei impressionada com a sala cheia de juventude numa segunda feira em Brasília. E o que chamou a minha atenção foi a linguagem que utilizaram: filme rápido, de intriga, simbologia, violência. E o assunto central a religião que é tema de interesse. Somos tema de interesse com linguagem e formas passadas!.
BIBLIOGRAFIA:
Este artigo foi inspirado na leitura do artigo elaborado pela Ir. Joana T. Puntel,fsp,para o “43 Dia Mundial das comunicações” publicado na revista vida pastoral de maio-junho , da Paulus.
Maria Eugenia LLoris,fmvd
Assessora Setor Universidades CNBB.
gennilloris@hotmail.com
universidades@cnbb.org.br
