Foi em 1970 que me deparei com o livro “Deus existe, eu o encontrei”. Fora escrito no ano anterior por André Frossard, um francês que se convertera ao catolicismo, após percorrer os meandros da utopia comunista. O volume mereceu dezenas de edições, tanto na França como em outros países. Contudo, nos anos seguintes, ele foi contestado por várias publicações que, do título ao conteúdo, afirmavam exatamente o contrário: “Eu procurei, mas nada encontrei!”
Uma pergunta perpassa a história da humanidade: se Deus existe, por que não revela toda a grandeza de seu poder, fazendo com que o bem, o amor, a verdade e a beleza triunfem em toda a parte? Pergunta esta que não nasce apenas do coração angustiado das vítimas da dor, mas até mesmo de pessoas que a Bíblia considera corretas e santas, como são os salmistas: «Senhor, por que ficas assim tão longe e, no tempo da aflição, te escondes?» (Sl 10,1). «Será que Deus se esqueceu de ter piedade? Será que a ira lhe fechou o coração? Eu confesso que é esta a minha dor: a mão de Deus não é mais a mesma!» (Sl 77,10-11). «Até quando, Senhor Deus, ficarás sempre escondido?» (Sl 89, 47).
O profeta Isaías também passou por essa crise: «És realmente um Deus escondido, Senhor» (Is 45,15). Contudo, poucos versículos adiante, ele recebe a resposta que tanto desejava ouvir de Deus: «Não falei às escondidas, nem em algum canto escuro da terra. Eu não disse à descendência de Jacó: “É tempo perdido me procurar!» (Is 45,19).
Para captar essa revelação e presença de Deus em nossa vida, porém, é preciso reassumir a simplicidade das crianças: «Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos orgulhosos e arrogantes, e as revelaste aos pequeninos!» (Mt 11,25). É o que nos ensina uma estória que me chegou via internet.
Certo dia, a professora pergunta às crianças da catequese: «Como vocês sabem que Deus existe, se nunca o viram?». Pedro, um menino franzino e tímido, olha para os lados, levanta a mão e responde: «Mamãe me disse que Deus é como o açúcar no leite que ela me prepara todas as manhãs. Eu não vejo o açúcar, mas se mamãe esquece de o colocar, o leite não tem sabor. Deus existe e está sempre no meio de nós, mas nós não o vemos. Se, porém, ele sair de perto, nossa vida fica… amarga!».
Deus pode ser visto como o açúcar quando a vida é um mar de rosas. Mas, se ela é um rosário de sofrimentos, então Deus se assemelha ao sal. Se o açúcar adoça, o sal conserva, purifica e amadurece. Como o açúcar, também o sal se esconde. Ambos são percebidos apenas quando faltam… A mesma coisa acontece com Deus: todos notam quando e onde ele não está presente. O pior é que, então, seu lugar é ocupado pelo Demônio, «o pai da mentira» (Jo 8,44) – e a vida se torna uma grande ilusão. Agradecer a Deus pelo açúcar é fácil; bendizê-lo pelo sal é heroísmo!
Um Deus silencioso e oculto, então? Não, responde São João da Cruz, pelo menos para quem vive na humildade: «Ó alma, o que desejas e procuras fora de ti, se é em ti que estão as tuas alegrias, a tua consolação, a tua riqueza e o teu reino – numa palavra: o teu amado, aquele que tanto desejas e procuras? Só precisas saber uma coisa: embora esteja dentro de ti, ele está escondido.
Talvez tu perguntes: “Se aquele que a minha alma ama está em mim, por que é que não o encontro nem sinto?” A resposta é que ele está escondido, e tu não te escondes para o encontrar e sentir. Portanto, uma vez que o teu amado é o tesouro oculto no campo da tua alma, pelo qual o sábio comerciante vendeu tudo, convém que, para o encontrar, esqueças todas as tuas coisas e, desapegando-te das criaturas, te refugies no interior do teu espírito».
Uma coisa é certa: «É preciso passar por muitos sofrimentos para entrar no Reino de Deus» (At 14,22). Foi o que aconteceu com Jó. Somente depois de atravessar uma dolorosa noite escura é que pôde afirmar: «Antes eu conhecia a Deus apenas por ouvir dizer, mas, agora, eu o vejo com meus próprios olhos» (Jó 42,5).