Dom João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo de Montes Claros
A primeira vez em que li a frase que intitula este artigo foi em dezembro de 1984. Eu estava para completar dezoito anos e prestava vestibular para o curso de Ciências Sociais na Universidade Federal de Juiz de Fora. Essa frase era apresentada como um dos temas para a redação. Não me lembro das outras opções, mas me recordo que fui fisgado pela afirmação e de imediato compus a redação. Dessa frase nunca me esqueci. Vez por outra, em situações de desmando de autoridades, que comumente se perdem no exercício do poder, dela me lembro.
Naquele ano, o Brasil vivia o fim do regime militar. Como jovem secundarista cheguei a ir para as praças gritar “Diretas Já”. A principal estrada que percorri, para formação da consciência política e a defesa da democracia, foi aquela da literatura. Incluo aí as revistas missionárias que despertavam em mim o sonho de um mundo mais justo e fraterno. Já estava inscrito em mim o pendor pelas ciências humanas e para o ministério pastoral. Não me recordo de nenhum professor nos doutrinando ideologicamente. Frequentei escola pública e privada e nelas encontrei educadores exigentes para o aprendizado da leitura e da escrita. Tenho ótimas recordações e muito apreço pelos meus professores.
A máxima que intitula este artigo, que dizem ser da autoria de Luís Vaz de Camões, me acompanhou, ora como uma simples chave de interpretação de processos políticos e eclesiais, ora como lamento ao reconhecer que o risco da democracia é a escolha de um governante fraco. Mas o que faz um rei ser fraco? Muito aqui se poderia dizer. Há belos tratados de política que descrevem os sistemas e suas vantagens e desvantagens. Toda autoridade será sempre exercida por uma pessoa, humana e com limites. Para os cristãos, o único Messias é Jesus Cristo, e ele não assumiu o poder político, mas escolheu a política da fraternidade, da justiça e do amor.
A primeira qualidade para não ser um rei fraco é a consciência dos próprios limites, o que equivale a não se apresentar como aquele que tudo sabe e que tudo resolverá. A principal fraqueza de quem governa vem pela vaidade de dispensar colaboradores competentes que auxiliam no manejo do poder. A experiência de governar demonstra que a crise é a hora da verdade. Nessa hora, em que não há manual de instruções, é que emergem os éticos, aqueles que têm condutas ordenadas na perspectiva dos valores mais importantes, como a liberdade, a vida, a justiça e a verdade. Assim, se pode dizer que um fraco rei se torna mais fraco quando não escuta. E quando não escuta o que pensa diferente, mais fraco ficará.
Ao redor dos que governam é comum surgir um grupo de aduladores, sempre dispostos a aplaudir, mas sem coragem de dizer uma palavra diferente, que abra horizontes ao soberano. Assim, quem ajuda a enfraquecer o rei, optando pela mediocridade e a apoiando, compromete a história de uma nação. Muitas vezes enfraquecido, o povo tem uma reserva de sabedoria para reconhecer que não pode continuar a aplaudir um fraco rei que leva o reino à deriva…