Muitos tinham visto a criança despencar da ponte e cair nas águas impetuosas do rio. Porém somente um homem se jogou atrás dela, todo vestido. O homem, além de não saber nadar, não era tão jovem e tinha uma perna mecânica. Pulou da ponte num impulso de raiva, tamanha era a indiferença das pessoas. O rio estava cheio. A roupa vermelha da criança aparecia e desaparecia no meio das ondas. O homem começava a engolir água e lhe faltava o ar. De repente, porém, a perna mecânica ficou presa num banco de areia no fundo do rio e a correnteza lhe trouxe a criança entre os braços. Milagrosamente estavam salvos. Naquela noite seus filhos achegaram-se a ele e começaram a vê-lo grande, muito grande, como verdadeiramente ele era. Tantos outros homens voltaram para casa e contaram o que havia acontecido. Os filhos deles não disseram nada, mas em seus corações nascia uma pergunta: “Por que não foi você, pai?”

No dia dos pais um relato de coragem e heroísmo. Precisamos de homens e pais heróis, capazes de desafiar as desavenças. Capazes não somente de gerar vidas, mas também de salvar as vidas das crianças e dos jovens. Uma singela homenagem a todos os pais que cumprem, da melhor maneira possível, a sua missão de educadores. Um convite à reflexão a todos os que se esqueceram das suas famílias.

No evangelho deste domingo, Jesus nos fala de administradores que devem ficar acordados para acolher o senhor da casa quando ele chegar. Administradores fiéis e prudentes, capazes de merecer a confiança do patrão.

Os pais não são donos dos seus filhos, são simples administradores de vidas que a própria vida lhes entregou. Eles terão que devolver à sociedade os filhos crescidos e responsáveis, capazes de melhorar a convivência social, forças novas e renovadoras. Quando os jovens desistem dos sonhos e entram nos caminhos da violência, das drogas, da desonestidade e da mentira, nos perguntamos: onde estavam os pais deles? Muitas vezes temos a impressão de que, nos dias de hoje, os pais entregam a educação dos seus filhos à televisão, aos colegas da rua, à escola ou à igreja, que sozinhas não pode recuperar o mal semeado, o amor negado, o carinho deixado para a próxima vez que nunca chega.

Talvez seja mais fácil preencher o vazio de um pai que morreu, ou que de fato nunca existiu, do que substituir um pai ausente, omisso, indiferente ou desagregador. Penso que um mau exemplo estrague mais a vida de um jovem do que a falta de exemplo. A criança guardará para sempre, nas suas lembranças, os medos, os gritos, as ameaças, os castigos. Não poderá guardar as palavras não ditas, os conselhos não dados, o perdão e os abraços negados.

Precisamos de pais heróis, capazes de não desanimar na luta contra o conformismo, a indiferença e as injustiças. Capazes de propor, com o próprio exemplo de vida, valores, sentimentos e compromissos cumpridos e a cumprir. Um coração bondoso e uma alma nobre não são heranças genéticas, são os frutos maduros de uma educação à fraternidade, ao respeito à vida, à humildade e à colaboração. O mundo não precisa de mais egoístas, autossuficientes, arrogantes e orgulhosos. Precisa de pessoas ricas de humanidade, bondade e sensibilidade.

Cada criança é uma pérola preciosa única e irrepetível. Uma riqueza, porém, ainda escondida. Caberá aos educadores e, em primeiro lugar, aos pais fazer aparecer essa riqueza de talentos e capacidades. Por sua vez, o jovem poderá usar para o bem, para a indiferença, ou para o mal os dons recebidos e cultivados. Muito dependerá do que ele ouviu dizer e viu os pais fazerem. Precisamos de pais heróis, semeadores de bem, agricultores pacientes, administradores de tesouros. Pais que respeitem e valorizem os seus filhos, que não lhes roubem a inocência e a simplicidade. Cada pai é, no bem ou no mal, modelo para os seus filhos; modelo- exemplo, não molde, violentando assim a originalidade de cada um.

“Onde está o vosso tesouro, aí também estará o vosso coração”, são as palavras de Jesus neste domingo. Palavras de elogio aos pais que consideram as suas famílias o melhor e mais valioso bem que encontraram na vida. Precisamos de pais heróis assim, sempre desafiando as ondas destruidoras das famílias. Pais capazes de nadar contra a correnteza do mundo, para desmascarar as mentiras dos falsos ídolos.

Para quem tem coragem e confia em Deus, milagres acontecem todos os dias. Mais vidas de crianças e de jovem serão salvas. Um dia eles saberão agradecer.

Dom Pedro José Conti

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