Dom João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo de Montes Claros (MG)
Os templos são espaços privilegiados para o culto religioso, ainda que esse possa ser realizado fora dos templos. A história testemunha, em suas diferentes fases, como as religiões inspiraram a edificação de templos. Na tradição católica encontram-se as capelas, os oratórios, as igrejas, as basílicas e as catedrais. Diferentes estilos podem ser apreciados como expressão da fé que se fez edifício, arquitetura, imaginária sacra, vitrais, sinos e carrilhões, instrumentos musicais, vestes sacras, mobiliário e outros. Ao redor do culto católico encontram-se inúmeros elementos que denotam a riqueza da liturgia. Destaque-se a música sacra e litúrgica, nicho de obras maravilhosas que atravessam os séculos.
Chegada a modernidade, a Igreja, ciente do necessário aggiornamento, não abandonou o cuidado e o zelo com a música litúrgica. O Concílio Vaticano II formulou de modo explícito a necessidade de se ter “na Igreja Latina, em grande consideração, o órgão de tubos, como instrumento tradicional de música, cujo som pode acrescentar às cerimônias admirável esplendor e elevar com veemência as mentes a Deus e às coisas divinas” (SC 120). Conhecedor e amante da música sacra e erudita, o Papa Emérito Bento XVI destaca que o “órgão é considerado, desde sempre e com razão, como o rei dos instrumentos musicais, pois ele abarca todos os sons da criação e faz ressoar a plenitude dos sentimentos humanos, da alegria à tristeza, do louvor ao pranto. Ademais, ao transcender, como toda música de qualidade, a esfera simplesmente humana, ele remete ao divino” (13.09.2006).
O Norte de Minas possui entre suas características culturais uma afeição especial não só pela música popular, mas também pela música erudita. Ilustra essa afirmação o fato de a cidade de Montes Claros sediar duas instituições de grande importância para a música: o Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernandez, fundado em 1961, e a Unimontes, que oferece um curso de Licenciatura em Artes, com habilitação em Música. Ao considerar a vocação musical da região e a ausência de um órgão de tubos, que muito enriqueceria a liturgia católica e, também, o ensino da música, a cultura local e até mesmo o turismo, brotou em nosso coração de pastor o sonho de trabalhar em favor da aquisição e instalação de um órgão de tubos na Catedral de Montes Claros. Sua arquitetura parece apontar aos mais refinados observadores uma lacuna que há de ser preenchida com ganho para a beleza da arte musical, para a fé celebrada na liturgia, para o fortalecimento da cultura e para a sensibilização das pessoas.
Esse é, no entanto, um empreendimento que exige o emprego de muita energia, criatividade, visão de futuro, despertar de parcerias, trabalho diuturno. Confiamos essa empreitada à Comissão Arquidiocesana de Música Sacra e Canto Pastoral, assim como à Paróquia Nossa Senhora Aparecida – Catedral. Vamos envidar todos os esforços para oferecer à Igreja de Montes Claros e a todo o Norte de Minas a preciosidade de um instrumento musical que certamente muito engrandecerá a cultura local. Diferente das cidades históricas mineiras ligadas ao ciclo do ouro, onde se encontram diversas igrejas barrocas com instrumentos magníficos, a cidade de Montes Claros, em tempo, haverá de atrair muitos apreciadores da boa música e do canto sacro. Trabalhemos para que em 2025 a celebração do Jubileu de Diamante da Catedral Metropolitana de Montes Claros seja com o som maravilhoso de um órgão de tubos.