Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
Havendo alcançado um quarto de século do novo milênio, começamos a juntar as perspectivas e aprumar o caminho para o segundo milênio, a iniciar-se no Pentecostes de dois mil e trinta três, recordando aquele dia em que o Senhor, ascendendo ao céu, nos enviou o Espírito Santo e nos encarregou de testemunhá-lo no tempo que viria.
Desde aquele dia nós nunca mais paramos. Nunca desanimamos. Nunca nos sentimos desamparados. Ele sempre esteve conosco, e nós nunca rejeitamos a sua ajuda.
Deparando-nos, agora, com os enfrentamentos do nosso tempo, nos misturamos em muitas gerações que engendram a novidade própria deste tempo.
No agregado da soma, vinte e cinco anos é quase nada. Passou num piscar de olhos, e ainda vislumbra tudo que ficou para trás. O velho e o novo milênio ainda estão misturados. Assim continuarão por meio século mais. Até que serão apenas memórias e verdade que nas coisas andam.
Tomado separadamente, na discrepância dos eventos, este quarto de século parece enorme.
Foi nele que vimos emergir o mundo digital, abandonando a analogia da vida. Da precisão digital passou-se também a sua velocidade. O mundo acelerado encontrou na precisão das coisas a possibilidade de ir mais rápido sem o perigo dos erros.
Nasceu a geração conectada e a comunicação total tornou-se realidade. A velocidade das coisas cumpriu a segunda previsão de Italo Calvino em suas seis propostas para o próximo milênio, de 1988.
Ao fim deste quarto de século temos um vislumbre do que virá. Nele experimentamos o flagelo de uma pandemia e o surgimento da inteligência artificial. Dois acontecimentos que estão forjando os nossos dias. Pelo primeiro aprendemos, ainda que a duras penas, que não nos convinha negá-la. Embora as tentativas negacionistas tenham se proliferado nos tempos próximos passados, o que resolveu a questão foi o trabalho duro, coletivo e assertivo, embora não possamos desconhecer os desequilíbrios de força que resultou em prioridades definidas pelo capital.
Entretanto, tem uma chave de leitura que também é um aprendizado para a questão seguinte, a da inteligência artificial.
Negar não foi a solução para o enfrentamento da pandemia. Negar não é a resposta para a complexidade das IAs. Tão pouco podemos nos demorarmos demasiadamente na elaboração e discursão de uma deontologia interminável, dado que a coisa se impõe como realidade.
Considero que o modo mais fácil de fazer algo é fazendo-o efetivamente. Deste modo, como no enfrentamento da pandemia, consideremos a realidade da IA no próximo quarto de século e nos aproximemos dela para domá-la a partir de dentro, como temos feito desde sempre. É esse é o modo que o humano emerge mundo, pois, no fim, tudo que nos amargura ou nos salva é humano.
