Diante dos graves problemas morais, protagonizados por alguns de nossos clérigos, cuja lama respinga na honra de toda a Igreja, nós nos sentimos todos confusos e decepcionados. A campanha foi tão universal que em qualquer lugar das Ilhas Fiji, ou na Faixa de Gaza, as pessoas se julgam suficientemente informadas para nos alcunhar, a nós do clero, de pedófilos ou de fornicadores. Não negamos a veracidade de vários fatos arrolados.
Mas rejeitamos a generalização. O filósofo Nietzche já recomendava que a Igreja não se deve combater na linha da verdade de sua doutrina, mas na linha da moral. Parece que se repete o mesmo julgamento ocorrido com os apóstolos de Jesus. Tendo havido entre os doze um traidor, os outros onze são esquecidos, mesmo tendo sido fiéis. Para mim, causa-me espécie, como os perseguidores da Igreja selecionam, com exatidão de um bisturi cirúrgico, os 0,01% dos casos de imoralidades contra crianças e adolescentes existentes no mundo, os praticados por maus presbíteros. Aqui no Brasil, a informação sobre esses casos é tão abundante, com a Record à frente, que ficamos com vergonha de andar na rua. Até a nossa comida só desce, com a ajuda de uns bons goles de água. Os fautores da perseguição são pessoas que crêem no inferno (os pedófilos devem ir para as “trevas exteriores” Mt 8, 12). É uma condenação sem remissão.
Encarando esses fatos vergonhosos, chego à conclusão de que houve um erro de formação. Antes de tudo rejeito o pressuposto de que o Padre se torna pedófilo. Mas sim, há pedófilos que conseguem se tornar Padres. Após o Concílio caímos na armadilha de achar que as vocações adultas são mais esclarecidas do que as de jovens, e sabem o que querem. Quando na verdade, alguns vieram com sérios problemas psicológicos. Também parece que houve uma vingança da encíclica “Humanae Vitae”. Esta foi rejeitada por um bom grupo de clérigos, menosprezando suas orientações morais. Ora, se não aceitaram aquelas verdades, por que haveriam de aceitar as outras instruções de moralidade sexual? Nisso tudo vejo o Clero como uma Fênix dos nossos tempos. Esse é o nosso purgatório, a grande purificação, pela qual seremos sempre pessoas dedicadas a Cristo e ao povo fiel. “Tu uma vez convertido, confirma teus irmãos na fé”( Lc 22, 32).