Dom Edney Gouvêa Mattoso
Bispo de Nova Friburgo (RJ)

Caros amigos, no último domingo celebramos a Solenidade da Santíssima Trindade, dia em que a Igreja conduz seus filhos ao reconhecimento de que Deus é comunhão de amor. Por isso, não é indiferente e nem se faz distante dos sofrimentos e angústias da humanidade.

Explicando o mistério celebrado, a liturgia dominical reza ao Pai, proclamando a unidade divina na trindade das três pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo. “Pai Santo…, com vosso Filho único e o Espírito Santo, sois um só Deus e um só Senhor. Não uma única pessoa, mas três pessoas num só Deus” (Prefácio da Ss. Trindade). Três Pessoas que são um só Deus, porque o Pai é amor, o Filho é amor e o Espírito é amor. Deus é tudo e somente amor, amor puríssimo, infinito e eterno (cf. BentoXVI, Angelus 07 jun. 2009).

“O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. É o mistério de Deus em si mesmo. É, portanto, a fonte de todos os outros mistérios da fé, é a luz que os ilumina” (Catecismo da Igreja Católica, 234). Assim, contemplando o mistério do Deus uno e trino, a Igreja encontra respostas para muitos anseios da humanidade.

Pelo Batismo, cada cristão é inserido na comunhão divina de amor e nos tornamos responsáveis pela unidade de todo gênero humano, promovendo a reconciliação de todos os corações em Cristo, base da civilização do amor que todos queremos.

A união com Deus é causa de concórdia entre as pessoas, e sua negação provoca a divisão e a intolerância entre os semelhantes. Somos concordes e, por isso, queremos viver em harmonia com todos. Entretanto, não é raro perceber que também cultivamos sentimentos e ações que não combinam com este ideal.

A Palavra de Deus exorta: “Procurai a paz com todos e a santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12,14) e “mantende um bom entendimento uns com os outros” (Rm 12, 16). Quando não enxergamos o próximo como templo onde Deus habita, mas a partir de nossos próprios interesses, ferimos esta paz.

São João Paulo II, atento à triste realidade do mundo moderno, despedaçado pela árdua busca de hegemonia, aponta os mais variados elementos geradores de divisão, tais como a crescente disparidade entre grupos, classes e nações, os antagonismos ideológicos as polarizações políticas e as discriminações socio religiosas (cf. Reconciliatio et Paenitentia, 2).

É sempre difícil conviver com as diferenças e, no entanto, este é nosso ambiente natural. Portanto, a paz com os vizinhos, com os amigos e, sobretudo, na família não é puramente resultado dos elementos convergentes de nossos ideais e comportamentos, mas do mútuo entendimento, da tolerância e do amor recíproco. Em suma, a concórdia fraterna é sempre um esforço, uma meta, uma missão!

Somos chamados a promover a paz pela unidade, assim seremos reconhecidos como Filhos de Deus (cf. Mt 5,9). São Paulo nos ensina que, para sermos com Cristo um só corpo, é preciso jogar fora o velho fermento da maldade e da iniquidade, vivendo como pães ázimos da pureza e da verdade (cf. I Cor 5, 7-8).

Infelizmente, a paz e a harmonia, apesar de serem ideais queridos no coração, muitas vezes são negados nas ações. A verdadeira paz tem sua raiz na comunhão da Trindade Divina. É verdadeiramente pacífico quem se deixa vencer pela Verdade e vive a comunhão com Deus e com os irmãos na prática da justiça e da caridade.

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