V Conferência: como participar?

As Conferências Gerais do Episcopado Latino-Americano são uma experiência eclesial da América Latina; ao que parece, atualmente não há iniciativa similar no mundo católico. O saudoso papa João Paulo II, antes de autorizar a preparação da V Conferência, posto diante das dúvidas levantadas sobre a tipologia do evento eclesial, e se era oportuno realizar novamente uma Conferência Geral, decidiu pela continuidade das Conferências Gerais, com uma fórmula que fica na história: “mantenete la vostra forma”, ou seja, continuem a fazer como vinham fazendo.

As Conferências Gerais, de fato, são diversas dos Concílios ecumênicos e dos Sínodos episcopais: aqueles, são a reunião de todo o episcopado católico, juntamente com o papa; esses, são reuniões de alguns bispos convocados pelo papa para refletir sobre algum tema. Os Concílios são a instância maior do Magistério da Igreja e produzem decisões e documentos próprios. Os sínodos não produzem documentos próprios mas ajudam o papa a emitir um documento magisterial. As Conferências Gerais, por sua vez, são reuniões do episcopado de uma certa região do mundo, que produzem um magistério episcopal próprio.

É o papa quem deve convocar as Conferências Gerais, como sinal de autenticidade colegial; mas elas, depois, podem estar reunidas com ele, ou sem ele. De toda maneira, trata-se sempre de uma especial forma de exercício do magistério dos bispos. A participação é essencial ao exercício da colegialidade. Por isso, a organização da V Conferência prevê um amplo envolvimento da Igreja latino-americana, em todos os seus níveis e instâncias, na preparação dessa Conferência, na reflexão sobre o tema escolhido e na oferta de contribuições ao tema. De fato, o objetivo das Conferências Gerais é o discernimento sobre a realidade na qual a Igreja está inserida, para perceber melhor o desígnio de Deus, tomar decisões coerentes, manifestar o apoio recíproco e oferecer orientações para a missão das Igrejas envolvidas.

As primeiras 4 Conferências produziram textos de Magistério de grande impacto, mas sua aplicação ficava ao cargo das Conferências, em particular, ou de cada diocese. A V Conferência, por sua vez, prevê um encaminhamento posterior à realização da Conferência: ou seja, de uma grande missão continental para os anos de 2007 a 2011. Esta é uma novidade.

Vários eventos de nível continental já estão sendo realizados em vista da celebração da Conferência Geral de Aparecida: em Bogotá realizou-se um Encontro continental dos Movimentos eclesiais e Novas Comunidades; em fins de maio será realizado em Quito um encontro sobre Comunidades Eclesiais d Base; em setembro está previsto um encontro sobre as peregrinações e os santuários na marianos no México; muitos outros eventos semelhantes estão previstos com leigos, religiosos, diáconos, presbíteros, formadores de sacerdotes, liturgistas, teólogos, biblistas, catequetas, “construtores da sociedade”, entre outros encontros. Todos esses eventos deverão contribuir no processo de avaliação, reflexão e propostas, para que a V Conferência possa responder bem aos apelos de Deus que nos vêm através das circunstâncias atuais da América Latina e do Caribe.

Da mesma maneira, em cada país, as Conferências episcopais estão articulando esse mesmo processo, contando para isso com as dioceses, como principais animadores. O Documento de Participação é o principal subsídio para a leitura, reflexão, oração e oferta de contribuições aos tema; ele encontra-se publicado em português e está disponível nas livrarias católicas. A Comissão da CNBB, encarregada de acompanhar essa preparação no Brasil, colocou à disposição de todos os interessados algumas fichas, ou roteiros de reflexão, que podem ser encontrados na página Internet da CNBB, bem como as orientações gerais para participar desse processo (cf www.cnbb.org.br; ver CELAM/V Conferência).

Todas as contribuições feitas no âmbito paroquial e diocesano devem ser recolhidas e sintetizadas pelas dioceses e encaminhadas aos Secretariados Regionais da CNBB; esses, por sua vez, recolhem todas as contribuições feitas em âmbito regional pelas dioceses e pelos organismos regionais, fazendo as sínteses e enviando-as ao Secretariado Nacional da CNBB. O Secretariado nacional fará a síntese nacional, a partir das contribuições dos Regionais e dos Organismos de âmbito nacional. A síntese nacional será aprovada pela CNBB e enviada, como contribuição da Igreja no Brasil, para o CELAM, que elaborará o Documento de Síntese, com todas as contribuições da Igreja da América Latina e do Caribe.

É importante ter presente que todo esse processo de participação não é, simplesmente, para melhorar o Documento de Participação: este tem unicamente a finalidade de desencadear a reflexão. Com todas as contribuições, certamente numerosas, a Comissão Central de preparação da V Conferência elaborará um novo Documento – de Síntese. Por sua vez, a V Conferência decidirá sobre o texto que produzirá, não sendo necessariamente uma versão melhorada do Documento de Síntese.

As contribuições ao tema deverão estar relacionadas com algum parágrafo do Documento de Participação, se forem pontuais; com alguma parte ou capítulo do mesmo Documento, se forem gerais; ou, simplesmente, devem ser caracterizadas como “contribuições novas”, se os assuntos ainda não tiverem sido contemplados no texto.

Um especial programa informático será colocado à disposição de todos aqueles que terão a missão de elaborar as sínteses, por Internet, para facilitar a coleta e o repasse das contribuições (SPOL – Sistema de Participação On Line). Esse sistema (SPOL) será colocado à disposição, pela CNBB, de todos aqueles que forem encarregados de elaborar as sínteses Regionais e Diocesanas.

D. Odilo Scherer

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