Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
Vaidade e fama são companheiras inconstantes. Desde os tempos mais remotos, essas duas características humanas têm atraído a atenção dos filósofos, escritores e pensadores, que as analisam com certo desprezo, mas sem ignorar seu impacto na vida individual e social. Embora frequentemente vistas como fúteis e inúteis, vaidade e fama são, paradoxalmente, elementos que moldam muitas das ações humanas, e suas influências sobre a espiritualidade e o caráter moral não devem ser subestimadas.
A vaidade, em sua essência, é uma busca contínua e insaciável por reconhecimento e aprovação. Ela não se contenta com o silêncio, e precisa constantemente do eco das adulações para se sentir validada. Homero, no épico “A Ilíada”, traz à tona essa fragilidade humana através da figura de Ulisses. Ele, o herói sagaz que arquitetou a vitória na Guerra de Troia com sua inteligência– ao invés de recorrer à pura força como Aquiles. A sua queda mostrou que até os mais sábios podem ser vencidos pela vaidade. Após derrotar o gigante Polifemo, Ulisses cometeu o erro de revelar sua identidade, movido pelo desejo de ser reconhecido como o autor do feito. Essa vaidade, embora momentânea, teve um custo enorme, pois atraiu a ira de Poseidon, senhor dos mares e pai de Polifemo, o que retardou seu retorno para casa, transformando uma vitória gloriosa em uma perambulação catastrófica.
A lição presente na narrativa de Homero é atemporal. A vaidade, embora sedutora, é também enganosa. Ela é uma busca que, por natureza, nunca se satisfaz, e sua recompensa é efêmera. “Vanitas vanitatum, et omnia vanitas” – vaidade das vaidades, tudo é vaidade – é uma advertência que ecoa ao longo dos séculos também da sabedoria bíblica. A vaidade não leva à criação de nada sólido ou duradouro; ela gira em torno de si mesma, alimentando apenas o ego e suas ilusões. A adulação que acompanha a vaidade é igualmente fugaz, pois quem adula, o faz por interesse próprio, e assim ambos, o vaidoso e o adulador, se perdem numa dança de falsidades e autoengano.
Da vaidade nasce a fama, sua filha mais nova, mas igualmente inconstante. Em nossa era digital, a busca pela fama se tornou quase uma obsessão para muitos. Redes sociais, plataformas de vídeo e meios de comunicação amplificam essa necessidade, criando uma corrida por visibilidade instantânea. Pessoas de todas as esferas da vida são atraídas para essa busca insaciável por atenção, desejando que suas vozes ecoem por toda parte, mesmo que o conteúdo do que dizem seja irrelevante. O que importa, para os que perseguem a fama, não é o valor ou o sentido de suas palavras, mas sim o alcance que conseguem.
Essa corrida pela fama cobra o seu preço. Assim como astros que flutuam no vácuo do universo, os indivíduos que buscam incessantemente a fama acabam se perdendo em si mesmos, sem direção, e inevitavelmente confrontam seu próprio vazio. O desejo de ser reconhecido a qualquer custo leva muitos a fazerem declarações cada vez mais absurdas e a realizarem ações cada vez mais extravagantes, tentando prolongar seu momento de glória. Mas, como a fama é inconstante, logo ela se dissipa, e o indivíduo se vê novamente em busca de algo que nunca poderá realmente possuir.
Vaidade e fama, embora passageiras e ilusórias, têm uma influência poderosa sobre o comportamento humano. Ao contrário do que se pode pensar, elas não são meramente distrações triviais. No caminho espiritual, elas representam grandes desafios, porque desviam o foco do que realmente importa. A vaidade impede o autoconhecimento e o crescimento interior, enquanto a fama distrai a pessoa de sua missão de vida e do impacto real que pode ter no mundo ao seu redor.
O sábio, ciente dessas armadilhas, busca transcender a necessidade de reconhecimento externo. Ele entende que a verdadeira vitória está na conquista interna, no domínio de si mesmo, e não na aclamação exterior. Ulisses, embora tenha sucumbido momentaneamente à vaidade, eventualmente aprendeu essa lição ao longo de suas provações. O herói que desejava ser celebrado, ao final de sua jornada, encontrou seu verdadeiro valor não no que os outros pensavam dele, mas em sua capacidade de retornar para casa, para o seu próprio ser.
A fama que é como vento, não tem nada de consistente. Ela é inconsistente, principalmente quando gerada totalmente na virtualidade do mundo, com pouco ou nenhum vínculo com a concretude da vida. Foi por isso que jesus disse aos seus: entre vocês não deve ser assim (Mc 10,43).
