Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
A Palavra de Deus que nos é proposta neste sexto domingo comum fala-nos de opções, de escolhas acertadas para construir uma vida com sentido. De um lado está o caminho que Deus propõe; do outro está o caminho que nos é apontado pela lógica dos homens. O caminho que Deus aponta parece um caminho “improvável” e obriga-nos frequentemente a navegar contra a corrente; mas é, garantidamente, o caminho que nos leva à vida verdadeira.
Na primeira leitura – Jr 17,5-8 – o profeta Jeremias garante que, se apostarmos tudo em realidades humanas e efémeras estaremos a desperdiçar a nossa existência; mas se colocarmos a nossa esperança em Deus e aceitarmos viver de acordo com as indicações de Deus, encontraremos vida em abundância e felicidade sem fim. Estamos diante de um texto de caráter sapiencial. O Autor Sagrado adverte seus interlocutores sobre o perigo de não se confiar em Deus, mas em outras realidades. A autossuficiência humana é um grande mal que deve ser evitado – “Bendito o homem que confia no Senhor, cuja esperança é o Senhor” (Jr 17,7).
No Evangelho – Lc 6.17.20-26 –, o chamado “Sermão da Planície” – pois Jesus desce da montanha – c com a proclamação das Bem-Aventuranças para os pobres – em substituição à antiga Lei – e dos “ais” para os ricos e opulentos, alertando-os sobre a necessidade de conversão para serem salvos. Jesus mostra aos discípulos e à multidão como chegar à felicidade verdadeira. O caminho que Ele aponta – o das “bem-aventuranças” – contradiz absolutamente a lógica humana e inverte completamente a nossa escala de valores; mas apresenta-se com o selo de garantia do próprio Deus. De acordo com Jesus, é o caminho para um mundo mais humano, mais fraterno e mais feliz. As bem-aventuranças são um anúncio de felicidade para os pobres, os famintos, os que choram e os perseguidos, porque têm um objetivo na vida: a busca do Reino. Os ricos, os saciados, os que riem e os que são elogiados são autossuficientes e não necessitam de ninguém.
Na segunda leitura – 1Cor 15,12.16-20 – São Paulo, dirigindo-se aos cristãos de Corinto – e aos crentes de todos os lugares e tempos – convida-os a acreditar na ressurreição e a viver de olhos postos no mundo que há de vir. Se esse for o nosso horizonte, saberemos que as coisas deste mundo são passageiras e não devem ser a prioridade da nossa vida. Esta perícope estabelece a relação da Ressurreição de Cristo com nossas vidas. O Senhor ressuscitou como o primeiro daqueles que já morreram. Nossa vida e nossa fé estão depositadas em Jesus Cristo Ressuscitado.
A felicidade oferecida por Jesus é para ser iniciada neste mundo e representa forte protesto contra o conformismo. Jesus jamais apreciou e aprovou a miséria e a dor humanas; antes, convida as várias categorias de felicitados a levantar a cabeça, dando-lhes a certeza de que o Reino de Deus lhes pertence e que sua condição haverá de mudar a medida que se empenharem nessa busca. Ele anima essas pessoas a serem “buscadoras de felicidade”.
O Reino inaugurado por Jesus propõe a superação de uma “sociedade dual”. Tal realidade, porém, continua distante, pois poucos acumulam fortunas e muitos tentam sobreviver com migalhas. Enquanto perdurar no mundo a dualidade entre (poucos) ricos e (muitos) pobres, o Reino de Deus corre o risco de parecer apenas distante utopia.
Tornemos o Reino de Deus visível em nossa sociedade, embora ele não se esgote neste mundo. Para tanto, o Evangelho propõe que as bem-aventuranças sejam vividas já no presente, a começar de nós, discípulas e discípulos de Jesus. Nós só seremos felizes quando depositamos nossa confiança em Deus e nossa esperança em Jesus. Por isso sejamos bem-aventurados fecundado alegria, fraternidade e amor pelo caminho de Jesus, fazer não pensando em ganhar, mas em servir!