Vamos redescobrir que Deus é amor e paz!

Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)

A liturgia do 4º Domingo da Quaresma convida-nos à descoberta do Deus do amor, empenhado em conduzir-nos a uma vida de comunhão com Ele. A alegria, em tom menor, permeia o 4º Domingo da Quaresma, apoiados no convite do profeta Isaías: “Alegra-te, Jerusalém!”.

Duas características marcantes da realidade divina permeiam toda a liturgia: Deus é a mais fina e genuína misericórdia. O Senhor nos ama de tal forma que nos acolhe como o pai a seu filho. Deus é o Pai que nos recebe de volta, que insiste conosco para que entremos e participemos da alegria de seu banquete.

O Evangelho (Lc 15,1-3.11-32) apresenta-nos o Deus/Pai que ama de forma gratuita, com um amor fiel e eterno, apesar das escolhas erradas e da irresponsabilidade do filho rebelde. E esse amor lá está, sempre à espera, sem condições, para acolher e abraçar o filho que decide voltar. É um amor entendido na linha da misericórdia e não na linha da justiça dos homens. Temos em nós tanto do filho mais novo, quanto do mais velho. Somos, muitas vezes, como o filho mais novo, que decide emancipar-se do pai, movidos pela ilusão dos prazeres. Somos como o filho mais velho, que, embora esteja próximo, vive com o coração endurecido e distante do pai. Por isso, não importa se nos perdemos fora ou mesmo em casa. O importante é reconhecermos que longe do Pai, distantes do amor divino, só encontraremos sofrimento. Assim, não há caminho que conduza à redenção que não passe pela reconciliação consigo mesmo no abraço acolhedor e amoroso do Pai eterno.

Lembremos que o filho mais velho, permanecendo em casa, sempre foi obediente em tudo ao pai, mas não consegue aceitar que este acolha com festa a volta do irmão mais novo, o pecador arrependido. O centro deste domingo é fundamental na vivência da vida cristã: viver a misericórdia de Deus Pai, sempre pronto para acolher o pecador que a Ele retorna.

A segunda leitura (2Cor 5,17-21) convida-nos a acolher a oferta de amor que Deus nos faz através de Jesus. Só reconciliados com Deus e com os irmãos podemos ser criaturas novas, em quem se manifesta o homem Novo. São Paulo ensina sobre a renovação das pessoas a partir da morte e ressurreição de Cristo. Depois deste evento, toda natureza é renovada, é ressuscitada para uma vida nova. Quem está em Cristo não mais retorna ao que era antes. Reconciliados com ele, tornamo-nos novas criaturas, comprometidas com a obra de Deus.

A primeira leitura (Js 5,9a-10-12), a propósito da circuncisão dos israelitas, convida-nos à conversão, princípio de vida nova na terra da felicidade, da liberdade e da paz. Essa vida nova do homem renovado é um dom do Deus que nos ama e que nos convoca para a felicidade. Israel chega à Terra Prometida e celebra a Páscoa para comemorar a conquista. No dizer do Papa Francisco, o povo necessita de terra, trabalho e teto. O maná, alimento do deserto, é substituído por pães e grãos, frutos da terra. Como é bom ver o povo viver do fruto do seu trabalho. A escravidão no Egito terminou e agora começa, para o povo eleito, vida nova. Liberdade e vida são objetivos de cada pessoa e de toda comunidade.

A misericórdia de Deus é uma festa que não podemos perder ou recusar a entrar como o filho mais velho do Evangelho. Seremos nós a dar um desfecho a esta história, com nossas atitudes. A festa da fraternidade é toda misericordiosa, e depende somente de nós, do tamanho do nosso perdão!

Neste Domingo – em que celebramos a misericórdia de Deus com as 24 horas do Senhor, desde a última sexta-feira dia 25 de março, Solenidade da Anunciação do Senhor, estendendo-se no sábado, dia 26 de março – devemos descobrir e redescobrir o amor de Deus e buscar a vida de comunhão com Ele. Este é o ensinamento de Jesus! O Pai ama com amor gratuito, fiel e eterno; quer nos acolher, nos abraçar e nos revestir de novo. Manifesta-nos sua misericórdia e não a justiça humana. A vida nova renova o homem e a mulher, e isso é dom de Deus. O pai do Evangelho é o próprio Deus que nos ama e nos chama para a felicidade. Por isso, caros irmãos, vamos redescobrir que Deus é amor, perdão, misericórdia e paz!

 

 

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