Neste domingo lemos o evangelho de Marcos 1, 40-45: Jesus encontra um leproso, cura-o, e o restitui à sociedade. Esta situação de 2000 anos passados não perdeu a sua
atualidade, e nos rodeia.
Existem no mundo algumas dezenas de milhões de portadores da doença de lepra. A nossa sociedade, porém, conta com numerosíssimos desenraizados e excluídos como eram os leprosos antigamente: barbudos, enfermos esquecidos nos hospitais, marginalizados nas barracas. A lepra tem um valor simbólico: ataca o corpo como o pecado agride a alma, e nos recorda que nesse sentido somos todos um pouco leprosos. Oficialmente fingimos que não somos. Estamos diante de uma página forte do evangelho.
O gesto de Jesus é simples. Enviado a revelar à humanidade o amor que o Pai celeste nutre pelas pessoas, deixa transparecer concretamente este amor: comove-se diante de um leproso, cura-o.
No caso envolvendo Jesus, o leproso ousa avizinhar-se da gente, misturar-se com ela. Isso era gravemente proibido. Ele devia viver longe dos centros habitados, e, se por grave necessidade, fosse obrigado a avizinhar-se, devia dar um sinal e a gritar “Imundo”. Assim os “sadios” tinham tempo de precaver-se. A violação dessa lei era tida como grave, punida com a lapidação. E o leproso encontrado por Jesus ousou transgredi-la.
Também Jesus se macula com culpa gravíssima: Jesus “ousa” tocar o leproso. O medo do contágio era tanto que o doente era considerado intocável, e quem o tocava passava a ser imundo e posto de lado. Mas Jesus prefere a lei da caridade, e toca o leproso intocável. A lei! Ora, a lei! A lei dos homens que deveria ser do bem comum sem exclusões, faz que os representantes do povo passem quase o tempo todo a só buscar o próprio benefício ou dos seus grupos.
Se por acaso um doente leproso fosse curado, devia apresentar-se aos sacerdotes, que naquela sociedade, pouco estruturada, o readmitiriam na comunidade. Jesus disse ao leproso para apresentar-se ao sacerdote, como prescrevia a lei. Mas lhe impõe também de não dizer de quem obteve a cura. E o leproso fez exatamente o oposto.
Sem se preocupar, põe-se a proclamar e a divulgar o fato para todos. Assim, de marginalizado e socialmente indesejado como era antes, agora se torna testemunha de Cristo.
As três transgressões revelam sentimentos profundos: desespero, amor, gratidão. E conduzem à descoberta de Jesus, o Filho de Deus. A sua natureza divina se revela por seus atos, não a pode esconder. O Senhor nos deu o exemplo, e espera que seus discípulos se comportem com a mesma solicitude.
São três os apelos que chegam a nós cristãos de hoje, desde a cura operada por Jesus. Primeiramente, tenhamos presente que a lepra e tantos problemas na nossa sociedade não foram ainda resolvidos. As estatísticas revelam um dado desconcertante, mas apenas constatado: não obstante o empenho de muitos que a combatem, o número de doentes no mundo continua a crescer. Como continuam a aumentar os que sofrem a fome. Os dois fenômenos resultam muitas vezes ligados entre si. Hoje, se sabe que o contágio da lepra é muito raro. Mas de fato a pobreza, a falta de higiene, a desnutrição, a ignorância das normas de prevenção, favorecem ainda a difusão do mal.
Ainda a mentalidade da gente não ajuda a cura. Alguns, por motivos religiosos, pensam que os leprosos merecem a lepra, que devem descontar nesta vida o mal que fizeram. Pensam que é justo os leprosos terem o seu mal, que não há necessidade de curá-los. Devem descontar. É um pensamento cômodo, consente em desinteressar-se dos outros.
Em segundo lugar, a nossa sociedade exclui pessoas que não lhe interessam, persegue-as, quando não as desfruta. A crônica jornalística está cheia de acontecimentos dolorosos desses nossos irmãos em Cristo, que o Cristo os tiraria de sua abjeção, que hoje recebem dos que seguem a mentalidade e as opiniões políticas e sociais dominantes, sobretudo, desprezo e condenação.
Enfim, precisamos da intervenção de Cristo, o salvador, que nos cure interiormente, nos converta, e talvez então encontraremos a força e a alegria de ajudar os outros e de viver a solidariedade com os outros. A vida de Irmã Dulce pode nos ajudar a seguir a Cristo, encontrando-O nos mais sofridos.