Iniciamos, neste domingo, o Ano Litúrgico. Nas primeiras reflexões deste ciclo em que meditaremos o Evangelho de São Marcos – Ano B – , começamo-las na expectativa da vinda do Senhor. A espera do Povo Eleito é a mesma espera do Povo Cristão. Aquele aguardava, ansioso, o Messias que viria libertá-lo do cativeiro. Hoje, esperamos o seu retorno glorioso.

Esse esperar, no entanto, não é algo estagnado, esperando apenas. Essa espera é alimentada pela esperança que nos faz, antagonicamente, caminhar em busca de algo. E nesse avanço constante para o Alto, devemos ir semeando a caridade, “ao encontro dos que praticam a justiça e recordam os caminhos do Senhor” (Is 63,17). Enquanto aguardamos, vamos nos preparando, pois não sabemos quando chegará o Senhor.

Mas estarão os homens e as mulheres de nosso tempo aguardando o retorno glorioso de Jesus? O mundo materialista, consumista, que tão bem se expressa nesta época do ano, conserva, ainda, o lugar que Deus deve ocupar em toda sociedade? Preserva, a humanidade, esse lugar, também, em seu coração?

Numa primeira análise, infelizmente, parece-nos que não. A crescente mistificação de seitas que vão se disseminando é um dos atestados disso. Não se busca o Deus verdadeiro, mas o ídolo que corresponde, da melhor maneira, à expectativa de cada um. Os interesses mais odientos são os que movem o coração de grande parte da humanidade. Por isso, vemos as conseqüências trágicas, assumindo os inocentes pela irresponsabilidade dos celerados. E, talvez como o povo que vagou quarenta anos pelo deserto, estamos, agora, peregrinando em busca de algo que Deus já cultivou em nosso coração, necessitando apenas compartilharmos das sementes dos frutos que nos tornamos em graça e misericórdia, pelas trilhas que vamos palmilhando em nossa existência, cultivando a esperança da bem-aventurança eterna.

“Ostende nobis, Domine, faciem tuam et salvos erro” – “Mostrai-nos, Senhor, a Vossa face e seremos salvos”, é este o cântico do salmista na Liturgia deste Primeiro Domingo do Advento. Ora, se nos dirigimos ao Senhor Onipotente suplicando sua misericórdia e a graça da contemplação, é porque já atingimos um determinado grau que nos possibilita, destemidamente, como que adentrar ao “Santo dos Santos” e gozar dessa convivência íntima com Deus.

Mas para que aguardar pelo que já vivemos? Não é na Eucaristia que nos unimos a Cristo, por esse Sacramento do Amor? Não é na atenção à Palavra que nos guiamos a caminho da plenitude do Amor? Não é na abertura de nosso coração que nos permitimos os efeitos da graça do Espírito Santificador?

Deus está continuamente conosco, se vivemos em união com Ele, na partilha com o próximo, na efusão dos dons que Ele nos concede. Assim, como nos diz São Paulo na Epístola deste domingo, tornaremos firmes, nos crentes, o testemunho de Cristo e os incitaremos a estarem vigilantes, aguardando aquEle que vem ao nosso encontro.

“Acautelai-vos e vigiai, porque não sabeis quando chegará o momento” (Mc 13,33). A advertência messiânica, com uma forte e muito explorada interpretação escatológica, é um alerta, principalmente, para nossa vida cristã. “Vigiai!” É o verbo imperativo que Nosso Senhor sopra aos nossos ouvidos. Vigiai-vos contra as tentações. Vigiais-vos contra as más inclinações. Vigiai-vos contra a omissão. Vigiai-vos contra o comodismo. Vigiai-vos contra o indiferentismo. Vigiai-vos contra a falta de caridade. Vigiai-vos, enfim, contra o mundo, contra a carne e contra o demônio.

Vigiemo-nos, todos.

Enquanto aguardamos a vinda definitiva de Jesus, caminhemos com coragem e perseverantes, dando o testemunho de nossa fé, na missão de discípulos e missionários que pelo Batismo nos foi conferida. Desta forma, contribuiremos para a construção do Reino de Deus, semeando o amor, colhendo a paz, edificando uma sociedade baseada nos princípios cristãos, de justiça, de caridade e de fraternidade.

Dom Eurico dos Santos Veloso

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