Dom Carmo João Rhoden
Bispo Emérito de Taubaté (SP) 

 

Textos inspiradores: Então, Jesus disse aos seus discípulos: “Se alguém quiser vir em meu seguimento, renuncie a si mesmo, pegue sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). “Pois resolvi nada saber entre vós, a não ser Jesus Cristo, e este crucificado”, escreveu São Paulo (1Co 2,2). “Nós, porém, pregamos um Messias crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos… Mas, para nós, Ele é o Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus” (1Co 1,23-25). 

Ao falarmos da via-sacra, não podemos desvinculá-la da cruz e nem esta, do amor de Cristo, por nós. Ele não nos salvou por decreto divino: encarnou-se. Assumiu nossa natureza humana, em tudo igual a nossa, menos no pecado. Jesus não brincou de salvar-nos. Mostrou-nos que, quem ama mesmo, vai até às últimas consequências: até à morte, na cruz ou através de outra forma, não excluso o martírio. A cruz mostrou toda a maldade do pecado: rejeição de Deus… ou blasfêmia contra Ele. Jesus não foi obrigado pelo Pai, a assumir cruz. Não foi um carrasco para o Filho. Foi e continua sendo Pai. Nossa salvação foi ato Trinitário. O crucificado foi Jesus Cristo, mas o ato salvífico foi das três pessoas trinitárias. 

Jesus veio fundar o Reino de Deus. não uma empresa religiosa. Mandou obedecer ao Pai e evangelizar, peregrinando pelo mundo. (Mt 28,19-20). Não prescreveu tudo, nos mínimos detalhes, mas enviou o Espírito Santo para completar Sua obra. Além disso, deixou Pedro como o Primaz. (Mt 16,18-19; Jo 21,15-19). A organização da Igreja foi acontecendo aos poucos. Ademais, os apóstolos não eram intelectuais, mas pescadores, que se tornaram pastores. Mandou-os evangelizar e orar. Mais: pediu-lhes que fossem fiéis, até o fim. Foram. 

Via-sacra. É um comovente exercício de piedade cristã. A cruz, instrumento imposto a Jesus, para nossa salvação, foi sendo, aos poucos, descoberta, em sua importância, pelos fiéis. A Via-sacra consiste então, em rezando meditar os diversos passos da caminhada de Cristo, para o calvário. São 14 estações. Refazem de certo modo a caminhada de Jesus Cristo, do Pretório de Pilatos, até ao monte calvário, carregando nossa cruz. Participar da via-sacra, não deixa de ser, um grande exercício de piedade cristã. Recordar é viver. Viver, como cristão, é seguir Jesus Cristo: e este crucificado. A via-sacra é de modo especial, vivenciada na quaresma, como tempo de preparação para a Páscoa, o acontecimento maior do cristianismo (Ressureição). O Papa a realiza na quarta-feira Santa, no coliseu de Roma. 3.1 A devoção da via-sacra nasceu na idade média. É veneração e não adoração da cruz e nem simples exaltação do sofrimento. A adoração se dirige a Cristo, que crucificado, morreu e ressuscitou. Essa devoção se estendeu à toda Igreja, no século XV. No século XVII, se fixou em 14 o número de estações. Nos tempos atuais, se acrescenta a décima quinta: a Ressureição. De fato, de nada teria adiantado Cristo morrer, se morrendo, não ressuscitasse. Não seguimos um vencido, um derrotado, mas um vencedor. Jesus não foi um mero sentenciado. Ele assumiu um programa: uma missão. Foi fiel. 

É preciso, por isso, participar da via-sacra, sem cair no dolorismo. Cristo sofreu e nós na vida sofreremos, querendo ou não. Não encontramos, apenas, cruzes em nossas rodovias, mas também em nossas próprias vidas. A pós-modernidade não gosta de refletir sobre a morte: a finitude humana. Por isso, constatamos, mormente na Europa, a presença do sentimento de angústia, quando não de desespero na existência. Nós cristãos, também, percebemos um mistério na realidade da morte, tal qual experenciamos. Mas, para nós, ninguém chega à casa do Pai, sem passar pela morte. Não precisamos ter pressa de morrer, mas sim de entrarmos, mais profundamente, no mistério do sofrimento que circunda nossas vidas. Boas reflexões.  

 

 

 

 

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