Dom Itacir Brassiani
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)
As comunidades cristãs católicas dedicam a terceira semana do mês de agosto à oração e reflexão sobre a vocação à vida religiosa consagrada. Esta forma de vida reúne homens e mulheres que, mantendo sua condição leiga, se consagram a Deus e vivem como eremitas ou em comunidades, tentando levar a sério o Evangelho de Jesus Cristo e, assim, ser sinais eloquentes de alguns aspectos essenciais do seguimento de Jesus Cristo, com o qual todos os cristãos estão comprometidos.
Ainda hoje há quem pergunte se a vida religiosa consagrada é uma espécie de sacrifício para reparar ou pagar os males praticados pela humanidade, se ela seria o oferecimento de algumas vidas puras a Deus para reparar os muitos males praticados pela maioria do povo. Parece que essa ideia, que vigorou em algumas espiritualidades medievais, ainda não desapareceu totalmente da mente de alguns setores sociais e eclesiais.
O sentido fundamental da vida religiosa consagrada não está na penitência ou na reparação, mas na conversão. Quem se consagra a Deus torna público seu compromisso com a conversão permanente e sempre mais profunda ao Evangelho de Jesus Cristo e se alista na construção efetiva do Projeto de Deus, que é vida plena para todos. Não se trata de uma simples conversão de costumes, mas de um projeto radical de vida.
A maioria dos fundadores entendeu sua vocação nesta perspectiva. Por isso, as pessoas consagradas precisam se perguntar se suas opções, atitudes e compromissos práticos, pessoais ou comunitários, narram de modo claro e convincente sua conversão ao reino de Deus, se demonstram que elas estão percorrendo um caminho diverso daquele da competição predatória proposta pela cultura neoliberal que predomina hoje.
Mas a vida religiosa tem também um sentido de expectativa e preparação. Com a própria vida, as pessoas consagradas e suas comunidades proclamam a transitoriedade de todas as conquistas e realizações históricas e convocam os homens e mulheres a criarem as condições necessárias para acolher Jesus Cristo e ensaiar um mundo no qual caibam todos os seres humanos e a convivência pacífica e solidária seja possível.
Ao seguimento histórico de Jesus Cristo e à conversão ao seu Evangelho correspondem uma abertura e uma expectativa radical daquilo que ainda é objeto de desejo e de esperança. A vida religiosa está orientada ao fim deste mundo e ao “outro mundo possível”. É em relação a esse horizonte sonhado, proclamado e cantado que as pessoas consagradas desejam plasmar sua própria vida e anunciar sua mensagem. Vivendo assim, recordam vivamente aquilo que desejam todos as pessoas que aderem a Cristo.
Levar a sério esta dimensão escatológica da vida religiosa consagrada e assumi-la no coração da própria existência significa viver em tensão permanente para um futuro ainda não realizado, viver de esperança e sem contar com sólidas seguranças, assumir a provisoriedade e a incompletude de qualquer comunidade e de todas as lutas e conquistas. Em outros termos, significa viver como peregrinos de esperança, sem cair na tentação de sentar sobre os louros e glórias de um passado, frequentemente idealizado.
