Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)
Certamente os discípulos que acompanhavam Jesus Cristo mais de perto sentiam-se felizes, seguros e até orgulhosos. Afinal, tinham um mestre que ensinava com sabedoria, criava um ambiente de fraternidade e partilha, curava doentes, abria os olhos dos cegos, fazia paralíticos andarem. Aos poucos, Jesus foi-lhes dizendo que não ficaria para sempre com eles deste modo, mas que deveriam continuar a sua obra sem a presença visível Dele. Continuaria presente sempre pela ação do Espírito Santo.
Quem é o Espírito Santo? Na Profissão de Fé os cristãos confessam “creio no Espírito Santo”. O Símbolo niceno-constantinopolitano explica com mais palavras: “Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele que falou pelos profetas”. Estamos falando de uma das três pessoas da Santíssima Trindade. Ele é o doador dos dons, mas também o Dom de Deus Pai e de Jesus Cristo ressuscitado à Igreja. “Jesus soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo”.
A liturgia da solenidade de Pentecostes (Atos 2,1-11; Salmo103; 1Coríntios 12, 3-7.12-13 e 20,19-23) medita sobre a ação eficaz do Espírito Santo na vida na comunidade cristã. Estes textos bíblicos apresentam alguns frutos da sua ação que devem ser entendidos de forma conjunta: a unidade, a diversidade de dons e o perdão dos pecados.
Na Carta de São Paulo aos Coríntios ensina que todos foram batizados no mesmo Espírito e por isso formam um só corpo. É admirável a complexidade do corpo humano, a complementariedade dos órgãos e harmonia nos movimentos. Cada parte coopera sem perder a sua identidade e nem se confunde com o todo. Esta é a consciência da Igreja nascente. Ela é sabedora da diversidade de dons, carismas e ministérios existentes em seu meio. Quem harmoniza e dá unidade é o Espírito Santo que faz convergir tudo em “vista do bem comum”.
A narrativa de Pentecostes, segundo o livro de Atos dos Apóstolos, acentua a diversidade de povos e línguas, pessoas “de todas as nações do mundo”. Quando os apóstolos começam a “anunciar as maravilhas de Deus” os ouvintes se interrogam: “Como é que nós os escutamos na nossa própria língua?” A Igreja que nasce em Pentecostes não é fruto da vontade humana, mas é fruto da força do Espírito Santo. É Ele que dá vida a uma comunidade que é uma só e ao mesmo tempo universal. Escreve Bento XVI comentando Pentecostes: “Com efeito somente o Espírito Santo, que cria unidade no amor e na aceitação recíproca das diversidades, pode libertar a humanidade da tentação constante de uma vontade de poder terreno que quer dominar e uniformizar tudo”. No evento de Pentecostes fica evidente dimensão “católica” da Igreja. Ela é formada por pessoas de vários povos, línguas, culturas e destinada a todos os povos de todos os tempos, conforme o mandato de Jesus ‘ide pelo mundo e fazei discípulos meus todos os povos” (Mt 28,19).
Depois que Jesus soprou sobre os discípulos deu-lhes a missão de serem portadores do perdão criando um ambiente de paz. “A paz esteja convosco”. A comunidade cristã e toda humanidade é formada por pessoas frágeis, inconstantes. Os atritos e desentendimentos surgem em todos os ambientes. Por isso Jesus dedicou muitos ensinamentos sobre o perdão e a misericórdia. A necessidade de pedir perdão e de perdoar. Deixou aos discípulos e, consequentemente a Igreja, o ministério do perdão. Perdoar é um aprendizado e um exercício e deve ser constante. O dom do Espírito Santo cria unidade e fraternidade, através do exercício do perdão mútuo.