Dom José Gislon
Bispo de Erexim
Estimados Diocesanos! A Quaresma é um tempo especial na vida do cristão. Ele nos fala de compaixão e conversão a partir do olhar da misericórdia de Deus. Nesta Quaresma, a Campanha da Fraternidade com o tema: “Fraternidade e superação da violência”, nos convida a olharmos a realidade social e fraterna que faz parte da nossa vida pessoal, familiar e comunitária.
A violência que assola o nosso país não pode ser vista ou entendida como uma realidade que atinge só a vida do outro, a cidade vizinha, ou aquela realidade que está bem distante da minha vida ou do lugar onde vivo. Deve ser considerada como um fato que atinge a todos nós em contextos muitas vezes isolados, mas também como comunidade. A atitude de indiferença não pode estar no coração de quem tem fé e acredita em Deus como fonte originária da vida.
No próximo dia 8, quinta-feira, estaremos comemorando o Dia Internacional da Mulher. Uma das formas mais perversas da violência, que tem crescido muito em nosso país, ocorre contra a mulher dentro do próprio lar. Como pode haver dignidade de vida numa família, se a mãe que representa a ternura, que acolhe a vida, é a que sofre violência? A agressão contra a mulher é um dos casos em que parece explicitar-se o caráter cultural da violência que atinge a nossa sociedade. Soma-se a isso um fator cultural ainda bastante arraigado, nos centros urbanos e nas realidades mais remotas do nosso país, de que a mulher é um ser visto mais como propriedade do marido ou do parceiro do que pessoa com sua dignidade e seus direitos a serem respeitados também perante a lei.
A violência doméstica, perpetrada contra a mulher, mãe e irmãs, tende a propagar nos filhos a mentalidade de que agredir a “mulher” é normal, uma forma de dominar pela violência e pelo medo, que impõe o silêncio a quem é agredido, tornando-o refém de um círculo vicioso que oprime a vida e a dignidade da vítima. Quando isso acontece e a pessoa agredida não tem a coragem ou os meios para fazer a denúncia, acaba tornando-se prisioneira na sua própria casa, no lar que um dia sonhou em construir para ser um espaço de amor, de compaixão para acolher e proteger a vida com a sua dignidade humana e divina.
