Dom Bertilo João Morsch
Bispo auxiliar de Porto Alegre (RS)
A dimensão missionária ocupa um lugar especial na vida da Igreja como de todo batizado. Na conclusão dos evangelhos de Mateus e Marcos escutamos a voz do Senhor que envia os discípulos: “Ide ao mundo inteiro, proclamai a Boa Nova e fazei todos os povos discípulos, batizando-os e ensinando-os a guardar tudo o que vos mandei. Eis que estarei convosco todos os dias” (Mt28,19-20; Mc 16,15-18).
A missão é dar testemunho de Cristo nos ambientes em que estamos. Houve uma época em que se compreendia a missão apenas no ato de ir de um país a outro, de converter os pecadores, de anunciar o Evangelho sem respeito à cultura dos povos. Missão se faz com respeito, chegando devagar, aprendendo mais que ensinando.
O bom missionário é aquele que pensa no futuro. Não se deve pensar apenas no momento presente, é preciso abrir-se ao que virá depois de nós. Conhecemos o ditado que diz: “Quem planta tâmaras, não colhe tâmaras”, isso porque antigamente as tamareiras demoravam entre 80 a 100 anos para dar os primeiros frutos. Mas a missão é deixar frutos para os que virão depois. Nossas ações de hoje vão marcar o futuro. Se não der tempo de colher, sempre será tempo de semear.
A missão se faz com o coração e com os gestos, mais do que com palavras. Como gosta de dizer o Papa Francisco, é por atração que seremos missionários hoje. As pessoas devem ler, encontrar, perceber, notar em nós o Deus que proclamamos com a boca. E ainda, três coisas são necessárias para vivermos bem a missão: um grande pensamento, um coração atento e as mãos disponíveis. Diante dos desafios da humanidade colocamos a nossa vida a disposição. Deus acolhe o nosso oferecimento e transforma tudo no fogo intenso do coração de Cristo.
Na sua mensagem para o dia mundial das missões o Papa Francisco destacou três aspectos que traçam o itinerário dos discípulos missionários, e que podem renovar o nosso zelo pela evangelização no mundo de hoje.
Corações ardentes, “quando nos explicava as Escrituras”. A Palavra de Deus ilumina e transforma o coração na missão.
Por isso, “não deixemos que nos roubem a esperança!” (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 86). O Senhor é maior do que os nossos problemas, sobretudo quando os encontramos ao anunciar o Evangelho ao mundo, porque esta missão, afinal, é d’Ele e nós somos simplesmente os seus humildes colaboradores, “servos inúteis” (cf. Lc 17, 10).
Olhos que “se abriram e O reconheceram” ao partir o pão. Jesus na Eucaristia é ápice e fonte da missão.
É preciso ter presente que, se o simples repartir o pão material com os famintos em nome de Cristo já é um ato cristão missionário, quanto mais o será o repartir o Pão eucarístico, que é o próprio Cristo. Trata-se da ação missionária por excelência, porque a Eucaristia é fonte e ápice da vida e missão da Igreja.
Pés ao caminho, com a alegria de proclamar Cristo Ressuscitado. A eterna juventude duma Igreja sempre em saída.
O primeiro e principal recurso da missão são aqueles que reconheceram Cristo ressuscitado, nas Escrituras e na Eucaristia, e que trazem o seu fogo no coração e a sua luz no olhar. Eles podem testemunhar a vida que não morre jamais, mesmo nas situações mais difíceis e nos momentos mais escuros.
Portanto saiamos também nós, iluminados pelo encontro com o Ressuscitado e animados pelo seu Espírito. Saiamos com corações ardentes, olhos abertos, pés ao caminho, para fazer arder outros corações com a Palavra de Deus, abrir outros olhos para Jesus Eucaristia, e convidar todos a caminharem juntos pelo caminho da paz e da salvação que Deus, em Cristo, deu à humanidade.