Vocação: sonho, serviço e fidelidade

Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal (RN)

 

Prezados leitores/as,

No 4º Domingo da Páscoa, este ano no dia 25 de abril, a Igreja convida a todos os seus membros para rezar pelas vocações. É o “Domingo do Bom Pastor”, conhecido assim pela leitura do Evangelho, feita neste domingo, que sempre traz o capítulo 10 do Evangelho segundo São João, onde apresenta o discurso de Jesus em que usa as figuras do pastor e das ovelhas (no Evangelho lido este ano – Jo 10,11-18, encontramos a expressão “Eu sou o bom Pastor”; nos outros anos os versículos lidos são: ano A Jo 10,1-10, ano B, deste ano, Jo 10.11-18 e ano C Jo 10,27-30). É significativo que no original grego a expressão “bom” seja “kalós”, que quer dizer belo, de boa qualidade, excelente. Assim, a tradução literal seria “Eu sou o belo Pastor”. Bondade e beleza estão presentes no Filho de Deus de forma unida, de modo que Ele é bom e belo Pastor. É aquele que nos envolve nessa relação de bondade e beleza.

Todos os anos, desde 1964, os Papas publicam uma mensagem para o 4º Domingo da Páscoa, instituído como “Dia Mundial de Orações pelas Vocações”. Neste ano de 2021, a mensagem do Papa Francisco enviou uma mensagem com o título “São José: o sonho da vocação”. O tema faz referência ao Ano Especial dedicado a são José, que teve início no dia 8 de dezembro de 2020 e se concluirá em 8 de dezembro de 2021. São José é apresentado pelo Papa como exemplo de vocacionado: “Deus vê o coração (cf. 1 Sam 16, 7) e, em São José, reconheceu um coração de pai, capaz de dar e gerar vida no dia a dia. É isto mesmo que as vocações tendem a fazer: gerar e regenerar vidas todos os dias…Disto mesmo têm necessidade o sacerdócio e a vida consagrada, particularmente nos dias de hoje, nestes tempos marcados por fragilidades e tribulações devidas também à pandemia que tem suscitado incertezas e medos sobre o futuro e o próprio sentido da vida” (FRANCISCO. Mensagem para o 58º Dia Mundial de Oração pelas Vocações. 25 de abril de 2021).

Na vida daquele que “amou Jesus com coração de pai”, o Papa reconhece presentes três aspectos que, presentes na vida daqueles que são chamados a ser como o bom (e belo) Pastor, se tornam realidade de realização e vivência do projeto amoroso de Deus em favor dos homens e das mulheres: sonho, serviço e fidelidade. A vocação é um “sonho” de realização de nossa vida. Mas, como São José, a vocação é chamada a ser acolhida na confiança e, sobretudo reconhecendo o “sonho” de Deus para nós: “Que ele ajude a todos, sobretudo aos jovens em discernimento, a realizar os sonhos que Deus tem para cada um; inspire a corajosa intrepidez de dizer «sim» ao Senhor, que sempre surpreende e nunca desilude!”. Sobre a vocação como serviço, a vida de São José é exemplo de atitude de entrega, de uma vida tocada pelo amor de Deus: “Que belo exemplo de vida cristã oferecemos quando não seguimos obstinadamente as nossas ambições nem nos deixamos paralisar pelas nossas nostalgias, mas cuidamos de quanto nos confia o Senhor, por meio da Igreja! Então Deus derrama o seu Espírito, a sua criatividade sobre nós; e realiza maravilhas, como em José”. Por fim, a fidelidade. Para o Papa Francisco a fidelidade se alimenta da fidelidade de Deus ao seu plano de amor. Sim, Deus é fiel, e isso quer dizer que constantemente o Senhor nos encoraja a seguir adiante, no caminho vocacional: “Não temas: são estas as palavras que o Senhor dirige também a ti, querida irmã, e a ti, querido irmão, quando, por entre incertezas e hesitações, sentes como inadiável o desejo de Lhe doar a vida… São as palavras que, como um refrão, acompanham quem diz sim a Deus com a vida como São José: na fidelidade de cada dia”.

 Vivamos o 4º Domingo da Páscoa na oração pelas vocações, suplicando ao Senhor da messe que envie operários que, a exemplo de são José, nunca esqueçam de confiar na presença amorosa de Deus Pai.

Tags:

leia também