Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre

 

Durante o mês de agosto a comunidade de fé é convidada a refletir a temática das vocações. “A vocação é fruto que amadurece no terreno bem cultivado do amor uns aos outros que se faz serviço recíproco, no contexto duma vida eclesial autêntica. Nenhuma vocação nasce por si, nem vive para si” (Papa Francisco).

Todos nós desejamos uma vida bem vivida; almejamos uma vida com sentido. Nossas buscas, nossos projetos, nossos sonhos se sustentam a partir de um horizonte de vida sólido. A pergunta sempre necessária é: o que significa uma vida, uma existência com sentido? A partir de onde se encontra sentido para a própria vida? Aqui certamente se expressa o nobre, digno e necessário serviço junto, especialmente, a nossos adolescentes para orientar, dialogar e auxiliar; afinal, perceber qual o caminho de vida que vem de encontro às tendências, dotes e mesmo necessidades pessoais nem sempre é tarefa fácil.

Uma história pertencente à tradição hebraica pode auxiliar na compreensão dos desafios característicos quando da necessidade de realizar uma opção de vida. Diz a história: “Um certo rabi procurou seu mestre, suplicando-lhe: ‘indicai-me um caminho universal para o serviço a Deus’. O mestre respondeu: ‘não se trata de dizer ao homem qual caminho deve percorrer: porque existe uma estrada através da qual se segue a Deus por meio do estudo; outra, por meio da oração; e outra por meio do jejum; e ainda outra comendo! É tarefa de cada homem conhecer bem na direção de qual estrada o atrai o próprio coração e depois escolher aquela estrada com todas as forças’”.

A pessoa humana é única! Ela possui uma tarefa intransferível. Cada ser humano é convocado a testemunhar a sua “irrepetibilidade”. Para isso, se faz necessário o conhecimento de si mesmo, das próprias qualidades e tendências essenciais. Considerando esse conjunto de elementos, é possível sondar um possível caminho de vida.

A escolha desse caminho requer muito mais que a opção por uma determinada profissão. Profissão tem a ver com preparação técnica, competência, eficiência produtiva, ganha-pão, função social, status, reconhecimento externo. Tudo isso pressupõe decisão e realização pessoal, chamado interior, paixão, amor e gosto pelo que se faz; ou seja, pressupõe vocação. Partindo da história da tradição hebraica, pode-se perceber que o “serviço de Deus” requer muito mais que somente profissionalismo. Ela exige escuta do próprio coração, para conhecer bem na direção de qual estrada ele o atrai.

A vocação se orienta eminentemente para um futuro. Ela se realiza sim no presente, mas orientada para um futuro. Por isso, pode-se afirmar que vocação é uma tarefa em constante realização. Da profissão nos aposentamos! Já aquilo que denominamos vocação perpassa todas as fases da existência.

A escuta do próprio coração requer sintonia, escuta e disposição para acolher aquilo que a vida solicita. Escuta e compreende tal solicitação, quem cultiva a afeição, a cordialidade, o respeito pela própria condição. Para a fé cristã nossa condição é de filhos e filhas, seguidores e seguidoras do Senhor, Caminho, Verdade e Vida.

Oxalá os adolescentes e jovens, auxiliados pelos pais, professores, pedagogos, pessoas de estatura autenticamente humana, saibam e possam corresponder à vocação recebida e serem no mundo cooperadores do Senhor na construção do seu Reino!

 

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