De 10 de abril a 23 de maio, em Turim, na Itália, acontece mais uma exposição pública do Sudário, um lençol de linho que muitos cristãos acreditam ter sido usado para cobrir o corpo de Jesus após a sua morte, na sexta-feira santa. Entre o milhão e meio de peregrinos que se inscreveram para venerar a relíquia, está também o Papa Bento XVI.
A autenticidade do Sudário vem sendo debatida há longo tempo. De acordo com algumas versões, ele foi trazido de Constantinopla para a França pelos Cruzados, em 1204. Após permanecer em lugar incerto e desconhecido durante 150 anos, em 1353 foi localizado em Lirey. Em 1453, passou a ser propriedade do duque de Saboia, que o colocou numa igreja de Chambéry. Em 1578, seus sucessores o levaram para Turim – onde se encontra até hoje –, para ir ao encontro do desejo de São Carlos Borromeu, que veio a pé, desde Milão, para agradecer a Deus pelo término da peste que devastara a diocese.
Os pesquisadores que o veem como uma das inúmeras falsificações que aparecem aqui e acolá ao longo da história da humanidade, nem sempre se apoiam em argumentos convincentes. É o caso, por exemplo, de quem tentou descobrir nele a mortalha que envolveu os restos mortais de Jacques De Molay, Grão Mestre da Ordem dos Cavaleiros Templários, queimado vivo por ordem do Rei Felipe, o Belo, no dia 18 de março de 1314.
Apesar das dúvidas e resistências, o Sudário continua a atrair a atenção e o interesse de um grande número de historiadores, por seu valor cultural e científico, e de uma multidão de cristãos, por seu significado histórico e espiritual. Para estes, a imagem desenhada no tecido sagrado é uma prova a mais do que custou para Jesus “amar a humanidade até as últimas conseqüências” (Cf Jo 13,1).
Dentre as surpresas apresentadas pelo Sudário, a primeira é impressionante: a figura que nele aparece é invertida, como se fosse o negativo de uma fotografia. A descoberta aconteceu no dia 2 de junho de 1898, quando Secondo Pia obteve permissão para fotografar o lençol. Apareceu-lhe, então, em traços nítidos, o corpo inteiro, frente e dorso, de um homem flagelado e crucificado – algo simplesmente impossível de prever!
Outra novidade, verificada cientificamente em 1977, é a tridimensionalidade da imagem. Desta forma, é possível destacar a distância entre o tecido e as diversas partes do corpo nele reproduzido, o que não acontece numa fotografia comum. Por sua vez, as partes do corpo que não estiveram em contato direto com o pano, também se acham nele misteriosamente impressas.
A maior parte dos estudiosos que negam a autenticidade do Sudário o faz por julgá-lo obra de um artista medieval. Mas, se assim fosse, apesar de desconhecido, ele devia ser um gênio, por conseguir apresentar uma imagem ao avesso! Na verdade, no pano não foi detectada nenhuma reação química que demonstre um revestimento com matéria corante.
O lençol mostra a imagem de um homem com os pulsos transpassados. Como se sabe, até poucos anos atrás se acreditava que Jesus tivesse sido crucificado pelas palmas das mãos. É o que demonstram quase todas as pinturas e imagens que retratam a crucificação. Hoje, pelo contrário, se sabe que os condenados eram pregados na cruz pelos pulsos, o que causava uma contração do polegar – exatamente como se vê no Sudário, que revela, nesse campo, um conhecimento anatômico inexistente na Idade Média.
Para quem não tem maiores dificuldades em acreditar no Sudário, ele pode ser visto até mesmo como uma prova da ressurreição de Jesus. Se alguns estudiosos não conseguem explicar a imagem nele desenhada, outros afirmam que ela, pela nitidez com que aparece no lençol, só pode ser fruto da intensa luminosidade que se desprendeu do corpo glorioso de Jesus no momento da ressurreição…
O que dizer, então, do exame de Carbono 14, realizado em 1988, por alguns laboratórios, “demonstrando” a origem medieval do Sudário? Para Marcos Tosatti, autor do livro “Segredos e Mistérios do Santo Sudário de Jesus”, publicado em 2009, «o exame é falho pela falta de homogeneidade das amostras. No pedaço de lençol, próximo ao ponto examinado, havia algodão e uma substância resinosa, resultado de um remendo feito na Idade Média –, o que contribuiu para alterar os dados».
Em todo o caso, para o cristão, mais importante do que descobrir se o Sudário envolveu ou não os restos mortais de Jesus, é a certeza que não precisa «procurar entre os mortos Quem está vivo» (Jo 24,5).