Dom Orlando Brandes
Exercemos a cidadania e a democracia principalmente através do voto, que é o exercício mais claro e direto do poder do cidadão e do povo na política. Omitir-se é então a pior forma de fazer política. O voto é a expressão da vontade do cidadão, uma forma de participação política, talvez, a mais decisiva da parte do povo e das pessoas. A eleição é, por assim dizer, a espinha dorsal da democracia, através da qual o povo escolhe seus representantes, delegando a eles o poder de decidir em seu nome sobre os interesses que são de todos.
Uma parcela significativa de nosso eleitorado desconhece a importância do voto e por isso se torna presa fácil da “generosidade” interessada dos compradores de votos. João Paulo II diz: “O fiéis leigos não podem absolutamente abdicar da participação na política”. Portanto, ninguém deve se omitir, nem anular o voto, nem votar em branco. Votar é um gesto de responsabilidade e de maturidade social. Voto não é mercadoria, é opção, é ferramenta com a qual se avança na construção dos destinos da pátria. O voto é sagrado, é livre, é secreto. Ninguém está obrigado a votar para pagar um favor. Isso é corrupção.
Esta não é hora para pessimismos, mas sim é “hora de decisão”, pois o voto tem conseqüências. Bem escrevia Pio XII que a “política não é arena de ambições, nem corrida para ganhos próprios, mas uma alta forma de amor fraterno”. Decorre daí que para alguém votar bem, deve conhecer o perfil dos candidatos e os projetos dos partidos. Nós brasileiros estamos acostumados a dizer que “política é uma coisa suja”. É preciso virar esta página, lutando por ética na política, aplicando a lei 9840 contra a corrupção eleitoral e principalmente colaborando com a educação política que consiste, entre muitas coisas, na conscientização do povo. Assim, superaremos a política do favor, da retórica, das promessas, da demagogia. Soou a hora da “libertação política” para que a mesma não acabe em tragédia e nem em comédia, em jogo de poder e ambição.
Diz a Escritura Sagrada: “Amai a justiça vós que governais a terra, porque a justiça é imortal” (Sab 1. 1. 15). Para os candidatos católicos (cristãos), a política é um ministério, é uma missão, uma diaconia (serviço) em favor do povo, é uma decorrência da fé que se comprova nas boas obras, portanto uma pastoral social. Esta missão requer competência, eficiência, transparência e espírito de serviço.
O “voto ético”, é o voto consciente que supera o velho costume de votar por tradição, para pagar favores, para obedecer a vontade da empresa, da religião, dos parentes, dos cabos eleitorais, para quem leva vantagem nas pesquisas, por razões da aparência física e simpatia do candidato, por força de palavras, discursos, promessas, demagogia, etc. Voto ético é voto consciente, livre, secreto, responsável. Com candidatos e eleitores competentes construiremos uma pátria mais digna e viveremos com mais segurança e paz.
Temos candidatos competentes, conscientes e dignos da credibilidade. É hora de mudar para melhorar nossa qualidade de vida. A educação e conscientização política é o caminho que leva à libertação, à mudança de mentalidade. Neste sentido a Igreja tem sua doutrina social há mais de um século, oferece aos fiéis escolas de fé e educação social, organiza os grupos de reflexão, compõe cartilhas políticas, estuda e divulga documentos do Concílio Vaticano II e dos Papas, institui cursos de teologia e consulta as Sagradas Escrituras.
A política não se esgota nas eleições. A responsabilidade dos cidadãos não acaba nas urnas. Além da democracia eleitoral, precisamos conquistar a social. Nossa tarefa é educar os eleitores. Os cristãos não podem ficar indiferentes, estranhos indolentes diante de questões sociais, porque todos somos responsáveis por todos. Ainda mais, “a caridade não pode estar dissociada da justiça” e os fiéis leigos não podem abdicar da participação na política enquanto promoção do bem comum.