Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)
“Todavia, sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos.” (cf. Tg 1,62)
A Liturgia do XXII Domingo do Tempo Comum, somos convidados a refletir sobre a Lei de Deus e a prática de vivenciá-la no cotidiano. A Lei de Deus indica a qual caminho devemos seguir, porém este caminho não se deve meramente ao cumprimento de ritos ou práticas vazias, atrelados a externalidade, mas sim vivenciar a Palavra de Deus (Lei) como meio de conversão, comprometendo-nos a transformar o homem velho em novo através das obras de amor para com os irmãos.
Na Primeira Leitura extraída do Livro de Deuteronômio (Dt 4,1-2.6-8), Moisés aponta que as Leis são pontes seguras para o alcance da felicidade plena, pois é guardando os mandamentos e pondo-os em prática é que se faz o alcance da Vida Eterna. Pois, afinal (Os Mandamentos) “Vós os guardareis, pois, e os poreis em prática, porque neles está vossa sabedoria e inteligência perante os povos, para que, ouvindo todas estas leis, digam: ‘Na verdade, é sábia e inteligente esta grande nação!” (cf. Dt 4,6).
A Segunda Leitura dada a Carta de São Tiago (Tg 1,17-18.21b-22.27), o apóstolo exorta-nos a escutar, acolher e vivenciar a Palavra de Deus que foi nos dada através das atitudes do coração: caridade, solidariedade, acolhida, partilha e amor para com todos, pois “a Palavra que em vós foi implantada, e que é capaz de salvar as vossas almas” (cf. Tg 1,21b). Portanto, a docilidade em acolher a Palavra é compromisso do Cristão, afinal “a religião pura e sem mancha diante de Deus Pai, é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo” (cf. Tg 1,27).
O Evangelho de Marcos (Mc 7,1-8.14-15.21-23), Jesus denuncia veementemente a superficialidade do cumprimento das Leis pelos fariseus, onde eles atrelaram em vivenciar a Palavra de Deus meramente preocupados em cumprir, obedecer passivamente, sem a verdadeira imersão na dinâmica da transformação que a conversão se dá com a docilidade da Palavra que é vinda do Alto. Por isto, Jesus é enfático no ensinamento: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos. Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens” (cf. Mc 7,6c-8). E completa – “Escutai todos e compreendei: o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior. Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. Todas estas coisas más saem de dentro, e são elas que tornam impuro o homem” (cf. Mc 7,14b-15.21-23).
Nutridos pela Palavra desta Liturgia, que sejamos reais observadores e praticantes desta Palavra de Vida, Fonte de Água Viva, nos afastando-nos de qualquer atitude farisaica. Assim, ao rompermos do cerne do formalismo, farisaísmo e do falso moralismo, possamos ser reconhecidos como o autêntico discípulo: “É aquele que caminha sem pecado e pratica a justiça fielmente” (cf. Sl 14,2).
Saudações em Cristo!