Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)
“Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21)
Hoje, ao celebrar a Liturgia do XXIX Domingo do Tempo Comum, somos convidados a refletir sobre o comportamento do cristão perante as realidades de Deus e as realidades do mundo, principalmente, quando ambas entram “em confronto” nas ações a serem tomadas.
É claro que o comportamento do cristão é visar, primeiramente, o reino de Deus, porém tal justificativa não o impede de usar desta visão para o seu comportamento as realidades do mundo, afinal, ser sal da terra e luz no mundo é fundamental para enfrentar as injustiças realizadas deste pensamento errôneo de que o Cristão não possa se envolver em ações para mudar a realidade do mundo a qual se cerca, pois o início do Reino dos Céus inicia-se aqui e agora. Pois, Deus usa destas ações do cristão perante o mundo, voltadas para o Reino, para o bem comum, a fim de realizar o plano de salvação e edificação do Reino de Amor.
Na Primeira Leitura, extraída do Livro do Profeta Isaías (cf. Is 45,1.4-6), o autor nos apresenta a ação de Deus para com o seu povo, usando de um rei pagão, Ciro, para que libertá-los do Exílio. Ora, Deus faz isto, pois, os desígnios são voltados para que Sua promessa possa ocorrer ao seu povo eleito. Deus não se limita em usar um cenário divino para realizar suas obras, mas sim das ações cotidianas, afinal “Eu sou o Senhor, não existe outro” (cf. Is 45,5a) “para que todos saibam, do oriente ao ocidente, que fora de mim outro não existe. Eu sou o Senhor, não há outro (cf. Is 45,6), pois fora dos seus planos, não existe salvação.
A Segunda Leitura, extraída da Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses (1Ts 1,1-5b), “apresenta-nos o exemplo de uma comunidade cristã que colocou Deus no centro do seu caminho e que, apesar das dificuldades, se comprometeu de forma corajosa com os valores e os esquemas de Deus. Eleita por Deus para ser sua testemunha no meio do mundo, vive ancorada numa fé activa, numa caridade esforçada e numa esperança inabalável. https://www.dehonianos.org/portal/29o-domingo-do-tempo-comum-ano-a0/ – acesso em 17 de out de 2020)”
O Evangelho, extraído de Mateus (Mt 22,15-21), Jesus se depara com uma armadilha “É lícito ou não pagar imposto a César?” (cf. Mt 22,17b). Ora, os fariseus queriam apanhar Jesus de alguma maneira com suas palavras. Mas Jesus foi sábio em sua resposta: “De quem é a figura e a inscrição desta moeda?” (cf. Mt 22,20)…“Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21). “Por um lado, intimando a restituir ao imperador o que lhe pertence, Jesus declara que pagar o imposto não é um ato de idolatria, mas um ato devido à autoridade terrena; por outro lado, e é aqui que Jesus dá um “tapa de luva” – lembrando o primado de Deus, pede para dar ao Senhor da vida do homem e da história o que lhe cabe” (Papa Francisco – Angelus 22 de out de 2017 – https://noticias.cancaonova.com/especiais/pontificado/francisco/papa-cristao-deve-se-comprometer-com-as-realidades-humanas-e-sociais/ – acesso em 17 de out de 2020). Mas o Papa Francisco nos recorda: “A confiança prioritária em Deus e a esperança Nele não levam a uma fuga da realidade, mas sim a trabalhar e dar a Deus o que lhe pertence. É por isso que o fiel olha a realidade futura, a de Deus, para viver a vida terrena em plenitude e responder com coragem aos seus desafios” (Papa Francisco).
Enfim, imersos na Palavra desta Liturgia, possa nos encorajar para trabalharmos para a construção do Reino de Deus já nesta vida terrena. “Dar a Deus o que é de Deus” implica que trabalhemos para que todos possam “ter a vida e a vida em abundância” (Jo 10, 10), buscando através do poder político, econômico e religioso o bem-estar comum em prol a serviço da vida de todos.
Saudações em Cristo! Sejamos generosos na coleta que é prescrita para este dia da Infância Missionária e das Pontifícias Obras Missionárias!