XXXIII Domingo do Tempo Comum 

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ) 

 

 

Temos a graça de celebrarmos o Trigésimo Terceiro Domingo do Tempo Comum. Este domingo é o penúltimo deste ano litúrgico. Este domingo também celebramos o Dia Mundial de Oração pelos Pobres. A intitulação deste dia foi feita pelo Papa Francisco, pois, ele pede a todos que voltemos o nosso coração e o nosso olhar aqueles que mais necessitam. 

Celebremos em unidade com toda a Igreja o 7º. Dia Mundial dos Pobres que tem como tema: “Nunca afastes de algum pobre o teu olhar” (Tb 4, 7). Ensina o Papa Francisco que: “O Dia Mundial dos Pobres, sinal fecundo da misericórdia do Pai, vem pela sétima vez alentar o caminho das nossas comunidades. Trata-se duma ocorrência que se está a radicar progressivamente na pastoral da Igreja, fazendo-a descobrir cada vez mais o conteúdo central do Evangelho. Empenhamo-nos todos os dias no acolhimento dos pobres, mas não basta; a pobreza permeia as nossas cidades como um rio que engrossa sempre mais até extravasar; e parece submergir-nos, pois o grito dos irmãos e irmãs que pedem ajuda, apoio e solidariedade ergue-se cada vez mais forte. Por isso, no domingo que antecede a festa de Jesus Cristo, Rei do Universo, reunimo-nos ao redor da sua Mesa para voltar a receber d’Ele o dom e o compromisso de viver a pobreza e servir os pobres.” (https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/poveri/documents/20230613-messaggio-vii-giornatamondiale-poveri-2023.html, último acesso em 15-11-2023).

«Nunca afastes de algum pobre o teu olhar» (Tb 4, 7). Esta recomendação ajuda-nos a compreender a essência do nosso testemunho. Deter-se no Livro de Tobite, um texto pouco conhecido do Antigo Testamento, eloquente e cheio de sabedoria, permitir-nos-á penetrar melhor no conteúdo que o autor sagrado deseja transmitir. Abre-se diante de nós uma cena de vida familiar: um pai, Tobite, despede-se do filho, Tobias, que está prestes a iniciar uma longa viagem. O velho Tobite teme não voltar a ver o filho e, por isso, deixa-lhe o seu «testamento espiritual». Foi deportado para Nínive e agora está cego; é, por conseguinte, duplamente pobre, mas sempre viveu com a certeza que o próprio nome exprime: «O Senhor foi o meu bem». Este homem que sempre confiou no Senhor, deseja, como um bom pai, deixar ao filho não tanto bens materiais, mas sobretudo o testemunho do caminho que há de seguir na vida. Por isso diz-lhe: «Lembra-te sempre, filho, do Senhor, nosso Deus, em todos os teus dias, evita o pecado e observa os seus mandamentos. Pratica a justiça em todos os dias da tua vida e não andes pelos caminhos da injustiça» (Tb 4, 5). (https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/poveri/documents/20230613-messaggio-vii-giornatamondiale-poveri-2023.html, último acesso em 15-11-2023).

A primeira Leitura – Pr 31,10-13.19-20.30-31 – mostra que pela liturgia deste trigésimo terceiro domingo do tempo comum, a liturgia traz à tona, no fim do ano litúrgico, um trecho que exalta a virtude da “prudência”, da solicitude e previdência, demonstrada por uma mulher de muito valor. Isso, porque o fim do ano litúrgico, salienta a expectativa da vinda do Senhor, nos quer exortar a exercitar estas virtudes. E, de fato, a prudência ou previdência é uma das virtudes mais louvadas na Sagrada Escritura. Este hino à mulher de valor figura, pois, como conclusão de um livro que fala diversas vezes de mulheres. O livro é atribuído a Salomão, do qual se sabe que ele entendia de mulheres. No Capítulo 31, 10-31, a figura da mulher, não é mais como personificação poética da Sabedoria, mas como uma dona de casa judia que realiza concretamente os conselhos que a Dona Sabedoria dos primeiros capítulos dá. É a Dona Sabedoria em forma plena. E feliz de quem a adquirir! Ela vale mais do que uma pedra de coral (linguagem utilizada pelos comerciantes judeus da época). 

Na segunda leitura – 1 Ts 5, 1-6 – São Paulo vem exortar a todos os filhos da luz, que tenham uma atitude vigilante, ou seja, assim como o ladrão entra em nossas casas e não sabemos a hora. Assim também será a segunda vinda do Senhor. Para isso, o cristão deve-se preparar a cada dia e a cada momento. Não durmamos, como os outros, mas sejamos vigilantes e sóbrios. 

No Evangelho – Mt 25, 14-30 – Jesus conta a parábola dos talentos: um homem que, partindo de viagem para o estrangeiro, chamou os seus próprios servos e entregou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois, a outro um. A cada um, de acordo com a sua capacidade. Depois de muito tempo ele voltou e pôs-se a ajustar as contas com eles. Elogiou e recompensou os que fizeram render os talentos a eles confiados e repreendeu e castigou o que não fez render o único talento recebido. 

O significado da parábola é claro. Nós somos os servos; os talentos são as condições com que Deus dotou cada um de nós (a inteligência, a capacidade de amar, de fazer os outros felizes, os bens temporais…); o tempo que dura a ausência do patrão é a vida; o regresso inesperado, a morte; a prestação de contas, o juízo; entrar no gozo de Senhor, o Céu. Não somos donos, mas administradores de uns bens dos quais teremos de prestar contas. 

Na parábola, parábola o Senhor ensina-nos especialmente a necessidade de corresponder à graça de maneira esforçada, exigente e constante durante toda a vida. Importa fazer render todos os dons que recebemos do Senhor. O importante não é o número, mas a generosidade para fazê-los frutificar.  

O último servo, revela-nos como é que o homem se comporta quando não vive uma fidelidade ativa em relação a Deus. Prevalecem o medo, a autoestima, a afirmação do egoísmo que procura justificar a sua conduta com as injustas pretensões do seu senhor que deseja colher onde não semeou. “Servo mal e preguiçoso”, é como o Senhor o chama ao ouvir as suas desculpas. Esqueceu uma verdade essencial: que o homem foi criado para conhecer, amar e servir a Deus neste mundo e assim merecer a vida com o próprio Deus para sempre no Céu. 

Através desta parábola, o Evangelista São Mateus nos exorta a estarmos alertas e vigilantes. Não podemos esquecer os compromissos assumidos com o Cristo Senhor. O cristão não pode deixar na gaveta os dons recebidos de Deus. No mundo, somos as testemunhas de Cristo. É com o nosso coração que Jesus continua a amar os pecadores do nosso tempo; é com as nossas palavras que Jesus continua a consolar os que estão tristes e desanimados; é com os nossos braços abertos que Jesus continua a acolher cada irmão que está sozinho e abandonado. 

Estejamos atentos e sempre vigilantes, pois, o Senhor virá e ele não tardará. Que esta liturgia toque o nosso coração para assim vivermos como verdadeiros sentinelas. Sentinelas do Senhor, com o Senhor e no Senhor. 

E, uma das maneiras mais eloquentes de vivermos a vigilância no Senhor Ressuscitado é a acolhida e o socorro dos mais pobres. Estes nos precederão no Reino dos Céus. Cuidemos dos pobres, os preferidos de Deus! 

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